Piteira
A
piteira, pita, agave ou babosa (Agave americana L.) é uma planta
suculenta originária do México e de algumas regiões dos Estados Unidos da
América que se encontra naturalizada nos Açores, podendo ser encontrada em
Santa Maria, São Miguel, Flores, Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.
Pertencente
à família Asparagaceae, a piteira prefere zonas costeiras, podendo ser vista
geralmente até aos 200 m de altitude. Na ilha de Santa Maria apresenta um
comportamento invasor.
A
piteira, que pode atingir 8 m de altura, apresenta folhas carnudas, em roseta, lanceoladas
e espinhosas que, em média, podem atingir 2,5 m de comprimento, 30 cm de
largura e 3 cm de espessura. As flores são amarelo-esverdeadas, surgindo nos
meses de junho a agosto e os frutos são cápsulas com 6 cm de comprimento.
Vieira, Moura e Silva (2020) referem o uso da
piteira como ornamental e medicinal. Segundo eles, a planta apresenta
“propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas,
anticancerígenas, cardioprotetoras, antidiabéticas, analgésico e antialérgico”.
Sobre a utilização da piteira, o engenheiro
agrónomo Arlindo Cabral, no texto “Sebes vivas ou abrigos, nos Açores –
subsídios para o seu estudo”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos
Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao 1º semestre de 1953,
escreveu o seguinte: “usada, por vezes, no litoral algarvio como sebe viva e em
cômoros, também aparece nos Açores, mas mais a constituir vedações ou tapumes.
Estaria indicada para sebe viva junto ao litoral, em terras de cultura, pois
para pomar tem pouca altura.”
Nos Açores, a piteira foi usada na alimentação
do gado e é utilizada como ornamental, sendo conhecida a sua presença em vários
jardins, como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou a Mata do Dr.
Fraga, na Maia.
De acordo com um texto publicado no jornal “O
Agricultor Michaelense”, nº 2, relativo ao mês de fevereiro de 1848, pode-se
ler que as suas folhas verdes e mais tenras na ilha de Santa Maria eram um
suplemento dos pastos, sendo quase o único nos quatro meses de inverno. Depois
de tirados os espinhos, as folhas são dadas aos animais que as apreciam muito,
regalando-se “tanto, que lhes está continuamente a escorrer a baba pela boca, e
não só se regalam senão que engordam desusadamente e fazem-se nédias e
luzidias.”
Não se sabendo qual a data e quem introduziu a
piteira nos Açores, no número referido do jornal da Sociedade Promotora da
Agricultura Michaelense, António Feliciano de Castilho apresentou uma proposta
para que a planta fosse disseminada na ilha de São Miguel e não só, dada a sua
utilização no fabrico de papel de elevada qualidade, tornando possível a
criação de uma importante indústria que seria importante “quer pelo seu pecuniário,
quer, e sobretudo, pelo influxo que a barateza do papel deverá exercer ao
desenvolvimento da instrução.”
Castilho,
no seu texto, enumera as qualidades do papel de piteira do seguinte modo:
“…sobreleva
em consistencia, e iguala em alvura, ao do algodão, ao da folha de milho, ao da
palha de arroz, e até ao do linho; serve maravilhosamente para a escrita, para
a impressão, para a estamparia, para os fórros pintados das paredes, para tudo;
e sáe por baixo preço, attendendo a que o vegetal da sua materia prima, contem
em pequeno volume grande massa de fibra, e se cria sem trato até nos peores
terrenos”.
Para
além do já mencionado, no texto já referido de “O Agricultor Michaelense” há
referência a outras utilizações da piteira, nomeadamente no fabrico de uma
bebida, a pulca, e ao uso das suas fibras. Assim, “as fibras das folhas dão um
fio d’ extrema rijeza, bem conhecido pelo nome de pita, utilizado não só nas
obras de cordoaria, mas ainda em tecidos exquesitos, e outros lavores mui
mimosos, de que podem servir de exemplos os primorosos artefactos obrados no
Algarve, Madeira.”
18
de outubro de 2024
Teófilo
Braga
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