quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Piteira

 


Piteira

 

A piteira, pita, agave ou babosa (Agave americana L.) é uma planta suculenta originária do México e de algumas regiões dos Estados Unidos da América que se encontra naturalizada nos Açores, podendo ser encontrada em Santa Maria, São Miguel, Flores, Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.

 

Pertencente à família Asparagaceae, a piteira prefere zonas costeiras, podendo ser vista geralmente até aos 200 m de altitude. Na ilha de Santa Maria apresenta um comportamento invasor.

 

A piteira, que pode atingir 8 m de altura, apresenta folhas carnudas, em roseta, lanceoladas e espinhosas que, em média, podem atingir 2,5 m de comprimento, 30 cm de largura e 3 cm de espessura. As flores são amarelo-esverdeadas, surgindo nos meses de junho a agosto e os frutos são cápsulas com 6 cm de comprimento.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem o uso da piteira como ornamental e medicinal. Segundo eles, a planta apresenta “propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas, anticancerígenas, cardioprotetoras, antidiabéticas, analgésico e antialérgico”.

 

Sobre a utilização da piteira, o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, no texto “Sebes vivas ou abrigos, nos Açores – subsídios para o seu estudo”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao 1º semestre de 1953, escreveu o seguinte: “usada, por vezes, no litoral algarvio como sebe viva e em cômoros, também aparece nos Açores, mas mais a constituir vedações ou tapumes. Estaria indicada para sebe viva junto ao litoral, em terras de cultura, pois para pomar tem pouca altura.”

 

Nos Açores, a piteira foi usada na alimentação do gado e é utilizada como ornamental, sendo conhecida a sua presença em vários jardins, como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou a Mata do Dr. Fraga, na Maia.

 

De acordo com um texto publicado no jornal “O Agricultor Michaelense”, nº 2, relativo ao mês de fevereiro de 1848, pode-se ler que as suas folhas verdes e mais tenras na ilha de Santa Maria eram um suplemento dos pastos, sendo quase o único nos quatro meses de inverno. Depois de tirados os espinhos, as folhas são dadas aos animais que as apreciam muito, regalando-se “tanto, que lhes está continuamente a escorrer a baba pela boca, e não só se regalam senão que engordam desusadamente e fazem-se nédias e luzidias.”

 

Não se sabendo qual a data e quem introduziu a piteira nos Açores, no número referido do jornal da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense, António Feliciano de Castilho apresentou uma proposta para que a planta fosse disseminada na ilha de São Miguel e não só, dada a sua utilização no fabrico de papel de elevada qualidade, tornando possível a criação de uma importante indústria que seria importante “quer pelo seu pecuniário, quer, e sobretudo, pelo influxo que a barateza do papel deverá exercer ao desenvolvimento da instrução.”

 

Castilho, no seu texto, enumera as qualidades do papel de piteira do seguinte modo:

 

“…sobreleva em consistencia, e iguala em alvura, ao do algodão, ao da folha de milho, ao da palha de arroz, e até ao do linho; serve maravilhosamente para a escrita, para a impressão, para a estamparia, para os fórros pintados das paredes, para tudo; e sáe por baixo preço, attendendo a que o vegetal da sua materia prima, contem em pequeno volume grande massa de fibra, e se cria sem trato até nos peores terrenos”.

 

Para além do já mencionado, no texto já referido de “O Agricultor Michaelense” há referência a outras utilizações da piteira, nomeadamente no fabrico de uma bebida, a pulca, e ao uso das suas fibras. Assim, “as fibras das folhas dão um fio d’ extrema rijeza, bem conhecido pelo nome de pita, utilizado não só nas obras de cordoaria, mas ainda em tecidos exquesitos, e outros lavores mui mimosos, de que podem servir de exemplos os primorosos artefactos obrados no Algarve, Madeira.”

 

18 de outubro de 2024

Teófilo Braga

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