segunda-feira, 13 de maio de 2024

Cubres

  Cubre(s)

 


É uma planta característica do litoral das várias ilhas do arquipélago dos Açores, geralmente até aos 100 m de altitude, podendo na ilha das Flores ser dominante, sobretudo nas falésias que adquirem uma coloração amarelada durante o período de floração. Acúrcio Garcia Ramos, em 1871, sobre o cubre escreveu: “Planta notável pela sua formosura. Nasce nas costas de todas as ilhas e principalmente nas Flores”.

 

O cronista Gaspar Frutuoso, nas suas “Saudades da Terra”, aventou a hipótese de a presença de cubres na ilha das Flores estar na origem do seu nome. Segundo ele: “parece-me que por haver muitos cubres que dão estas flores, cada haste uma só, no mês de Maio até todo o Setembro, neste tempo a deviam achar os primeiros descobridores, e vendo-a tão florida lhe puseram o nome que tem de ilha das Flores”.

 

O nome Fajã dos Cubres, na Ilha de São Jorge, está associado à presença de cubres naquela  fajã localizada na freguesia da Ribeira Seca, na costa norte daquela ilha.

 

O cubre que prefere zonas costeiras, geralmente até aos 100 me de altitude, na ilha de São Miguel pode ser encontrado em vários locais, nomeadamente na Praia da Viola, no concelho da Ribeira Grande.

 

O cubre (Solidado azorica Hochst. Ex Seub.) é uma planta endémica dos Açores pertencente à família Asteracea que durante muitos anos foi classificado como Solidago sempervirens L. e que pode ser observado na costa oriental da América do Norte.

 

De acordo com Vieira, Moura e Silva (2020), o cubre é uma planta “herbácea ereta, lenhosa na base, perene com roseta de folhas e hastes florais, medindo até 1,5 m de altura” que floresce nos meses de junho a agosto. Por seu turno, o botânico sueco Erik Sjogren, no seu livro “Plantas e Flores dos Açores”, escreve que os caules podem atingir até 60 cm de comprimento e que a planta apresenta um “grande número de pequenas flores amarelas”

 

Sobre a utilização dos cubres, não encontramos muitas referências, pelo que uma vez mais recorremos a Gaspar Frutuoso que no livro VI das saudades da Terra ao escrever sobre a ilha Terceira mencionou o seguinte:

 

“Há também na mesma ilha, da banda do norte, capitania que foi da Praia, dentro no mato, acima dos moinhos de Agualva, uma pequena furna donde se tira almagra tão fina, que a vão buscar pera deitar com ela emprastos (sic) aos cavalos, como se fora bonarménico (sic) e, da mesma parte do norte, junto de Agualva, há infinidade de cubres e grandes campos e sarrados (sic) cobertos deles, que dizem ser erva medicinal pera muitas enfermidades e principalmente pera fogo, em tanto que, vindo ter a ela um castelhano, grande herbolário e físico, curou com água deles estilada muitas pessoas de várias doenças e levou muitas peroleiras cheias da mesma água, que mandou estilar das flores deles, as quais fazia apanhar antes do sol saído, dizendo que levava nela muito rica mezinha, em que esperava fazer muito dinheiro nas Índias de Castela pera onde determinava tornar, o qual também dizia qua havia na mesma ilha mais fina salsaparrilha que nas Índias, donde vinha, sem querer declarar nem mostrar qual era.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020) apresentam o cubre como sendo um “recurso natural dos Açores. Medicinal (e.g. pode ser usada no tratamento de inflamação e irritação causada por infeções bacterianas).

 

Dada a beleza e a cor das suas flores os cubres podiam muito bem ser usados como planta ornamental, como já acontece num jardim existente na freguesia da Santa Cruz, no concelho da Lagoa na ilha de São Miguel.

 


Teófilo Braga

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Mil-folhas


Mil-folhas

O mil-folhas, milefólio, erva-dos-carpinteiros ou milenrama (Achillea millefolium) é planta nativa da Europa que pertencente à família Asteraceae.

Trata-se de uma planta herbácea perene, rizomatosa, ereta e aromática que pode atingir de 30-50 cm de altura. As suas folhas são compostas, atingindo de 5 a 8 cm de comprimento. As flores são brancas.

Da mesma espécie é possível encontrar várias variedades que apresentam flores de cores diversas que são cultivadas com fins ornamentais.

O mil-folhas é uma planta de muito fácil propagação, pois multiplica-se facilmente por estacas ou por divisão da touceira.

O uso do mil-folhas na medicina popular micaelense parece-nos ser mais recente, pois não encontramos qualquer referência a esta planta em toda a literatura que consultamos sobre o assunto e a mesma nunca foi referida nas centenas que questionários que fizemos, com a ajuda de alunos e professores, na ilha de São Miguel, nos anos de 1988, 1989, 1990 e 1992.

Na ilha da Madeira, por seu lado, a planta é referida por Fátima Freitas e Maria da Graça Mateus na sua publicação “Plantas e seus usos tradicionais-Freguesia Fajã da Ovelha”, publicado em 2013.

Segundo as autoras referidas a planta que vimos referindo, também conhecida por macela-da-venezuela, na Madeira é “cultivada em jardins e naturalizada em beiras de caminhos, terrenos abandonados e pastagens” e apresenta os seguintes usos: “chá das folhas para estomago, intestinos, reumatismo, chagas e “todas as dores” …”

De acordo com Cunha, Silva e Roque (2003) o uso desta planta apresenta várias contraindicações e efeitos secundários pelo que devem ser tomadas precauções. De qualquer modo autores citados apresentam como principais indicações “dificuldades digestivas, disfunção hepatobiliar, anorexia”.

domingo, 28 de abril de 2024

Canforeira


Canforeira

A canforeira (Cinnamomum camphora (L.) J. Presl) é uma planta pertencente à família Lauraceae oriunda do Japão, Taiwan e Malásia, cultivada em regiões tropicais e subtropicais.

A canforeira é uma árvore de folha perenifólia, com tronco com casca rugosa que pode atingir 10 metros de altura. As folhas são alternas, ovadas, bruscamente acuminadas, sendo a página superior luzidia e a inferior glauca, que cheiram a cânfora quando esmagadas. As flores, que aparecem em março e em abril, são muito pequenas e surgem em cachos e os frutos são bagas globosas negras.

A sua chegada aos Açores poderá ser devida a João Carlos Scholtz (1741-1823) que foi comerciante e cônsul da Rússia e da Prússia e possuiu uma casa numa Quinta na Arquinha, onde era possível encontrar uma grande variedade de plantas e que de acordo com Briant Barret, numa propriedade sua existente nas Socas introduziu “…as melhores flores da Europa, árvores de boa madeira, bem como outras plantas, ainda não existentes nas outras ilhas”.

Na publicação “Observações sobre a ilha de São Miguel recolhidas pela Comissão enviada à mesma ilha em agosto de 1825 e regressada em outubro do mesmo ano”, Luís Mouzinho da Silva Albuquerque e o seu ajudante Ignacio Menezes referem o seguinte:

“…A esta parte da cultura da ilha prestou importantes serviços o falecido prussiano João Carlos Scholtz, aclimatando nela diferentes árvores exóticas, propriíssimas para servirem de abrigo às laranjeiras, entre as quais se nota o Laurus camphora, que hoje é assaz comum na ilha, e cujo primeiro tronco se conserva na quinta…”

A Laurus camphora que atualmente é denominada de Cinnamomum camphora é a canforeira que não sendo muito comum pode ser encontrada em alguns jardins, como no Jardim José do Canto, no Jardim António Borges, no Pinhal da Paz e no Jardim Duque da Terceira, em Angra do Heroísmo.

O geógrafo madeirense Raimundo Quintal, num texto intitulado “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, defendeu a classificação como de interesse público de dois exemplares existentes no Jardim Botânico José do Canto.

Saraiva (2020) refere que a sua multiplicação pode ser feita por “estacas semilenhosas” “e por sementes, as quais devem limpar-se da parte carnuda do fruto e semear-se quanto antes, pois o período durante o qual a semente é viável é curto.”

Sobre o seu uso, Saraiva (2020) menciona a sua utilização como planta ornamental e a sua madeira em marcenaria e através da sua destilação para a obtenção da cânfora.

Para além do seu uso, entre nós, como planta ornamental, Alfredo da Silva Sampaio, na sua “Memória sobre a Ilha Terceira”, publicada em 1904, inclui a canforeira numa lista de plantas empregadas em construções e em marcenaria.

Cunha, Sila e Roque, no livro “Plantas e produtos vegetais em fitoterapia”, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2003, sobre a cânfora escrevem que “o óleo essencial, devido à cânfora, é um estimulante respiratório, revulsivo e anti-séptico.”

Sobre os usos etnomédicos e médicos, os mesmos autores escreveram o seguinte:

“Internamente em gripes e tosse. Externamente, em fricções, como estimulante respiratório e anti-séptico em gripes e bronquites. Como revulsivo em mialgias e reumatismos.”

sábado, 13 de abril de 2024

Nogueira


Nogueira

A nogueira (Juglans regia L.) é uma planta pertencente à família Juglandaceae, originária do Nordeste da Europa e Ásia. É cultivada em zonas temperadas de diversos continentes.

A nogueira chegou a São Miguel com os primeiros povoadores. Assim, no capítulo LXVIII do livro IV das Saudades da Terra, Gaspar Frutuoso ao escrever sobre a vida de Rui Gonçalves da Câmara, quinto capitão da ilha de São Miguel mencionou o seguinte:

“Procurou este Capitão, em seu tempo, dar lustro a esta ilha, atraindo a si muitos homens honrados, fazendo-lhe todas as honras e favores possíveis. Alguns dizem que ele mandou vir a semente de pastel, de Tolosa, de França, e muitas aves e árvores diversas. E assim mandou fazer o mais rico pomar de toda a ilha, na sua quinta do Cavouquo (sic) onde tinha uma fonte de água, além de muitas árvores de espinho de toda a sorte que nele havia; não faltavam grandes castanheiros e nogueiras que davam muitas nozes e castanhas, pereiros e pereiras, de que se colhiam em seu tempo infinidade de peros e outras frutas, e esquisitas árvores que com muita curiosidade mandava vir de remotas terras.”

A nogueira é uma árvore de copa ampla, muito ramificada e folhagem densa, com folhas caducas, alternas com folíolos elíptico-ovados a lanceolados, verdes em ambas as faces, as flores masculinas são amarelas-esverdeadas e as femininas também amareladas são muito pequenas. Os frutos, as nozes, são ovoides de cor esverdeada.

Um texto publicado no “Almanak Rural dos Açores para 1854” refere que “a nogueira é digna d’estimação a muitos respeitos, mas principalmente, por produzir bom fructo, ao mesmo tempo que excelente madeira.”

O médico-cirurgião terceirense Acúrcio Garcia Ramos (1871) no seu livro “Notícia do Arquipélago dos Açores e do que há mais importante na sua História Natural” recomendava que “se fizessem mais extensas plantações da nogueira vulgar, por ser uma árvore bela e muito útil”.

Acerca da utilidade da planta, o autor citado refere o seguinte:

As folhas e todas as partes herbáceas têm um cheiro bastante aromático e acre, e um sabor amargo e ácido, que constituem um remédio usado contra as escrófulas. Os frutos ainda novos preparam-se de conserva, e faz-se além disso com eles um doce delicado e um licor alcoólico forte. A casca e o pericarpo verde das nozes fornecem uma bonita cor roxa, e o miolo, bastante saboroso, contém um óleo gordo que seca rapidamente. Os marceneiros e fabricantes de móveis dão muito apreço à madeira, que toma com o tempo uma linda cor pardo-escura”.

A sua madeira é de ótima qualidade, sendo muito usada na construção de mobiliário. Os seus frutos, as nozes, são recomendados a quem quer seguir uma dieta alimentar equilibrada.

Cunha, Silva e Roque (2007) apresentam como principais indicações da nogueira as seguintes: “externamente, inflamações cutâneas; psoríase; doenças fúngicas; diaforese excessiva dos pés e das mãos. Internamente, como anti-helmíntico.”

Gomes (1993) refere que na ilha Terceira para tratar as frieiras era uso “lavar com um cozimento de folhas de nabo com nogueira.”

Henrique de Barros e L. Quartim Graça (1960) sobre esta planta escreveram o seguinte: “Multiplica-se por sementeira ou por enxertia. As variedades comuns reproduzem-se fielmente por sementeira. As de fruto grande requerem enxertia: usa-se muito o enxerto de encosto e também o de canudo…”.

Os mesmos autores referem que a época de plantação é de outubro a abril, que a frutificação acontece aos 12 anos e que a nogueira não necessita de qualquer poda.

Para além da Juglans regia, na ilha de São Miguel pode ser encontrada a nogueira-preta ou nogão (Juglans nigra L.), que deve o seu nome ao facto da sua madeira rijíssima se tornar preta ao contatar com o ar.

Como ornamental, é possível encontrar as duas espécies no Pinhal da Paz e na Mata -Jardim José do Canto, nas Furnas.

Teófilo Braga

sábado, 6 de abril de 2024

Pastel

Pastel
O pastel, também conhecido por pastel-dos-tintureiros (Isatis tinctoria L.) é uma planta pertencente à família Brassicaceae, oriunda da Região Mediterrânica, Europa Central, sudoeste da Ásia; tendo sido introduzido noutras regiões do globo, nomeadamente nas temperadas da Eurásia, onde foi cultivado como planta tintureira e medicinal.

O pastel, também conhecido por pastel-dos-tintureiros (Isatis tinctoria L.) é uma planta pertencente à família Brassicaceae, oriunda da Região Mediterrânica, Europa Central, sudoeste da Ásia; tendo sido introduzido noutras regiões do globo, nomeadamente nas temperadas da Eurásia, onde foi cultivado como planta tintureira e medicinal.

O pastel é uma planta bienal, raramente perene, mas de vida curta, que pode atingir 1,5 m de altura com folhas oblongas e lanceoladas e flores, que surgem entre maio e setembro, amarelas são muito visitadas pelas abelhas.

A presença do pastel nos Açores data deste os primeiros tempos do povoamento, tendo Gaspar Frutuoso a ele feito referência por diversas vezes. A título de exemplo, no capítulo XXXVIII das Saudades da Terra podemos ver o seguinte: “…Era terra muito delgada, mas com a invenção do tremoço com que a outonam, engrossou já tanto que é tida em muita conta; não tem outras mais granjearias que as ditas, para sustentar seus moradores, e, se se faz algum pastel, é pouco ….”

Sobre o pastel, Ruy Teles Palhinha, no seu “Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores” escreve que se cultivou até ao Século XVIII e “que Drouet ainda encontrou subespontânea, não voltando a ser observada ulteriormente.”

De acordo com o Dr. Carreiro da Costa, num texto de 1957 publicado no nº 25 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, a exploração do pastel foi “uma das principais fontes de riqueza dos Açores, durante aproximadamente os dois primeiros séculos da vida insular”. Ainda segundo o mesmo autor, “o pastel dava um azul muito fino e sólido, apreciadíssimo na Flandres”.

Depois do pastel ter deixado de ser cultivado, o azul passou a ser obtido por outros processos, um dos quais consistia na preparação de uma solução de anil ou pedra azul da loja, urina e aguardente.

Sobre a introdução do pastel e a sua importância na economia, o arquiteto paisagista micaelense José Marques Moreira no seu livro “Alguns aspectos e intervenção humana na evolução da paisagem da ilha de S. Miguel (Açores), publicado em 1987, escreveu o seguinte:
“Mas uma das culturas mais importantes introduzidas por Rui Gonçalves da Câmara, falecido em 1497, foi sem dúvida a do pastel- Isatis tinctoria L.- crucífera de flor azul cujas folhas, “depois de moídas em engenhos de água ou de besta”, produziam uma anilina azul, melhor do que o anil, exportada em granulado para a tinturaria do Norte da Europa. …
O peso económico desta planta assumiu tal importância que a sua cultura, com uma produção que atingiu 60 000 quintais, chegou a sobrepor-se e a substituir alguma de trigo, cujo valor de 15 cruzados ficava muito aquém dos 250 cruzados do pastel.”

O pastel também se cultivou noutras ilhas dos Açores como o Faial ou a Terceira, onde nesta última, existiram grandes áreas cultivadas.

No livro “O pastel na cultura e no comércio dos Açores”, Valdemar Mota (1991), acerca do cultivo daquela planta escreveu o seguinte:

“No ano de 1537 a ilha Terceira produziria 15 ou 16 mil quintais e no ano de 1538 20 mil quintais, segundo uma previsão que fez ao Rei o provedor das armadas Pero Anes do Canto. Na vizinha ilha de S. Miguel, nos finais do século XVI ao que revela documento inserto no Archivo dos Açores andava por 60 mil quintais com um valor de 160 000 cruzados.”

No que diz respeito ao seu uso medicinal, “as propriedades antissépticas, antibacterianas e anti-inflamatórias da Isatis tinctoria são conhecidas desde a antiguidade greco-latina. A planta ainda é usada na medicina tradicional chinesa para tratar pequenas feridas.” (https://shop.herdadedopilriteiro.com/products/pastel_dos_tintureiros).

Atualmente o uso do pastel é quase limitado à tinturaria artística e até há poucos anos era possível encontrar o pastel no Quintal Etnográfico da Ribeira Chã que regularmente fazia a sua sementeira.

Teófilo Braga

sábado, 30 de março de 2024

Pau-branco


Pau-branco

O pau-branco (Picconia azorica (Tutin) Knobl.) é uma planta endémica dos Açores, da família Oleaceae, que existe em todas as ilhas dos Açores, exceto na Graciosa.

É uma árvore ou arbusto que pode atingir 15 m de altura de casca lisa e esbranquiçada, de folhas persistentes, glabras, de forma lanceolada ou oval. As suas flores, que surgem de março a maio, são brancas, pequenas e apresentam-se em cachos. Os frutos são carnudos e ovoides, de cor azul-escura quando estão maduros.

De acordo com o botânico sueco Erik Sjogren (1984) “é a única árvore endémica dos Açores confinada à zona de vegetação situada abaixo da Laurissilva” merecendo ser protegidos “os velhos exemplares” e “os bosques idosos que ainda restam”.

Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, menciona por diversas vezes a presença do pau-branco em diversas ilhas dos Açores.

No que diz respeito à ilha de São Jorge, no capítulo XXXIII, do livro VI, escreve o seguinte:

“O mato é de toda sorte de árvores silvestres, como são cedros, faias, louros, ginjas, pau branco, azevinhos, folhados, urzes, tamujos e queirós, e há um caminho pela encumeada da serra, do Topo até a ponta do Rosales, por onde foi o desembargador Fernão de Pina, a quem não ficou monte em toda aquela ilha que não corresse, tão desenvolto e curioso era. A madeira é boa, de que fazem caixas, pernas de asnas, couçoeiras, forro, barcas e navios.”

Sobre o pau-branco, Henri Drouet (1861), funcionário superior da administração pública francesa e malacologista que se destacou pelo estudo dos moluscos em França e na Macaronésia, escreveu o seguinte:

“Linda árvore nativa, com porte semelhante a uma laranjeira, porém mais alta. É mais comum em Santa Maria do que em outros lugares. Aí combina agradavelmente a sua folhagem com a dos louros e das faias, que constituem as principais espécies dos bosques desta ilha. A sua madeira é muito sólida e adequada para a carpintaria. Também é utilizado como abrigo, em quintas.”

De acordo com Acúrcio Garcia Ramos (1871) a madeira do pau branco sendo muito sólida era usada em obras de carpintaria.

Gabriel de Almeida (1893) corroborando a opinião de Garcia Ramos quanto à característica da madeira afirma que a mesma “é própria para carros”.

Vieira, Moura e Silva (2020) sobre as utilizações do pau-branco escreveram o seguinte:

“Tradicionalmente usada na alimentação do gado silvo-pastoril (rama) e de aves (fruto) e como madeira (usada na construção civil, em vigas di teto; na carpintaria, em arados e carros de bois.”

Hoje, não se conhece qualquer utilização em carpintaria, mas o seu uso como ornamental tem vindo a crescer de tal como que já existem alguns exemplares em jardins públicos e privados. Assim, o pau-branco pode ser encontrado no Jardim António Borges, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim Botânico José do canto, no Jardim da Universidade dos Açores, no Pinhal da Paz, no Parque Terra Nostra, no Parque Beatriz do Canto, no Parque Pedagógico Infantil Maria das Mercês Carreiro no Pico da Pedra e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

Teófilo Braga

quarta-feira, 20 de março de 2024

Vinhátco


Vinhático

Para este número da “Voz Popular”, optei por escrever sobre uma das plantas existentes no Jardim da Casa do Povo do Pico da Pedra, o vinhático.

O vinhático ou vinhoto (Persea indica Sreng.) é uma espécie da família Lauraceae, endémica da Madeira e das Canárias, que se encontra naturalizada, nos Açores.

O vinhático é uma árvore de folha perenifólia que pode atingir 20 m de altura e que está em floração de junho a novembro. As folhas, de cor verde-claro, tornando-se avermelhadas ao envelhecer, são lanceoladas. As flores são pequenas e esbranquiçadas e os frutos, que são bagas ovóide-elipsóides, primeiro verdes e depois negras, são parecidos às azeitonas.

O vinhático que normalmente aparece entre os 200 m e os 500 m de altitude, para além de ser cultivado em jardins e parques, na natureza pode ser visto em florestas de faia-da-terra e incenso.

No passado, o vinhático, que terá sido introduzido devido à boa qualidade da sua madeira, foi considerado por alguns autores uma espécie endémica, possivelmente por se encontrar nos Açores há muitos anos, isto é, pelo menos há três séculos.

Em 1849, o jornal “O Agricultor Michaelense”, citado por Carreiro da Costa, em 1952, sobre a utilização do vinhático escreveu o seguinte:

“As plantações que até hoje se hão feito em S. Miguel, e essas mui extensas nos últimos anos, tem por fim a produção de madeira para as caixas em que se exporta a laranja: com esse intuito, as árvores preferidas são o Vinhático- Laurus indica [atualmente Persea indica] – o Pinheiro comum – Pinus marítima – e o Álamo…”

O médico-cirurgião Accurcio Garcia Ramos, num livro intitulado “Noticia do Arqhipelago dos Açores e do que há mais importante na sua História Natural”, editado em 1851, sobre o vinhático escreveu o seguinte: “Madeira que imita o acajú, e que é empregada pelos marceneiros e ebanistas.”

Por sua vez, Vieira, Moura e Silva, no livro “Flora Terrestre dos Açores”, editado pelas Letras Lavadas edições, em 2020, sobre o uso do vinhático escreveram o seguinte:

“…Exploração e indústria da madeira (a madeira do vinhático é conhecida como mogno da Madeira, e muito utilizada em marcenaria e caixotaria; a casca era usada na curtição de peles). Presentemente a sua importância em termos de produção florestal é relativamente reduzida, embora o seu potencial seja grande.”

Um inquérito florestal relativo aos anos de 1932-1933, realizado pela Direção dos Serviços Silvícolas de São Miguel, indica que nesta ilha a área (aproximada) calculada para o vinhático era de 1,11 hectares, o que correspondia a apenas 0,02% da área arborizada, o que podemos considerar quase insignificante.

A importância do vinhático como espécie ornamental é muito grande, por tal motivo a espécie também pode ser vista no Pinhal da Paz, no Jardim da Universidade dos Açores, no Jardim Botânico José do Canto, no Jardim dos Fundadores do Hospital da Maia e no Parque Maria das Mercês Carreiro, na Avenida da Paz, no Pico da Pedra.

Termino este texto, fazendo referência a uma espécie do mesmo género cujo cultivo tem vindo a crescer, nos últimos anos, em São Miguel, devido às propriedades nutritivas dos seus frutos, os abacates. Trata-se do abacateiro ou pereira-abacate (Persea americana) que é oriunda da América Central.

Pico da Pedra, 1 de março de 2024

Teófilo Braga

(Voz Popular, 207, março de 2024)

segunda-feira, 18 de março de 2024

Camarinha


Camarinha

A camarinha ou camarinheira (Corema azoricum (P.Silva) Rivas Mart., Lousã, Fern. Prieto, E. Dias, J.C. Costa & C. Aguilar) é uma planta endémica dos Açores que existe nas seguintes ilhas: Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.

Ruy Telles Palhinha (1966), que a classifica como Corema album ssp. azoricum, refere que a camarinha dos Açores se distingue da do continente português por possuir folhas menores e mais estreitas e levanta a hipótese de os frutos também serem menores.

A camarinha, que pertence à família Ericaceae, é um pequeno arbusto dioico, perenifólio que pode medir até 1 m de altura. Os caules, muito ramificados, são eretos. As folhas são lineares e obtusas. As flores masculinas apresentam pétalas de cor rosa-pálido que habitualmente não existem nas flores femininas. Os frutos são carnudos, brancos e aproximadamente esféricos.

A camarinha, que é uma espécie bastante rara, surge geralmente nas costas rochosas, arribas e escoadas lávicas em geral até aos 50 metros de altitude. Na Graciosa pode ser vista no centro da ilha, em cones de escórias.

Ao descrever a ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso refere-se à planta e ao local onde se encontrava nos seguintes termos:

“Da Várzea ou freguesia de S. Sebastião a quatro tiros de besta para loeste, está o pico de Marcos Lopes Anriques, que chamam das Camarinhas, por ter árvores desta fruta no seu cume; chama- se também pico das Ferrarias, porque no tempo passado, antes de ser descoberta esta ilha, sendo tão alto junto com o mar que o fazia alcantilado, arrebentou (como parece claramente a quem agora o vê) e lançou de si para a parte do mar uma ribeira de fogo, que se meteu tanto pelo mesmo mar, que ocupou dele grande espaço, ficando onde dantes era mar um espaçoso e largo cais de biscoutos, ao longo da costa, tanto como três tiros de besta, que tem de largura, e dois de compridão, entrando na água salgada; ficando esta ponta de pedra baixa e rasa.”

Gabriel d’Almeida, no seu “Dicionário Histórico-geográfico dos Açores”, publicado em 1893, descreve a camarinha do seguinte modo: “Fructo édulo, utilizado na ilha do Pico”.

O Pico das Camarinhas, localizado na freguesia dos Ginetes, ilha de São Miguel, deve o seu nome à presença, no passado, da mencionada planta. Segundo Carlos Pavão de Medeiros, em artigo publicado no jornal Correio dos Açores, a 20 de agosto de 1943, na altura a planta já era bastante rara, existindo apenas muito poucos exemplares.

Ainda de acordo com o mencionado autor, a camarinha “frutificava em Outubro, sendo o seu pequeno fruto, no dizer de algumas pessoas que o têm provado, muitíssimo saboroso e de agradável paladar”.

A 6 de outubro de 2006, no jornal “Tribuna das Ilhas”, Faria de Castro, a propósito da presença de camarinhas na ilha do Faial, depois de mencionar que era no sítio do Tesouro, na Fajã da Praia do Norte onde se localizava a maior concentração daquela planta, escreveu o seguinte:

“A camarinha é uma planta endémica com a qual se fazia um muito apreciado licor, referido mesmo nas Memórias dos Dabney… Durante a minha meninice, muitas vezes apreciei o fruto daquela planta, pois a abundância era muita. Infelizmente, devido à implantação das britadeiras, a Camarinha quase desapareceu o que trouxe grande preocupação à AZORICA.”

Em Portugal continental, no passado, entre Nazaré e Aveiro, os frutos da Corema album (L.) D. Don eram vendidos ao longo das estradas. As bagas eram usadas para o fabrico de licores e compotas e com fins medicinais.

Nos Açores para além do fabrico de licores, já mencionado, os frutos também eram usados no fabrico de compota, na ilha do Pico.

Teófilo Braga

sábado, 16 de março de 2024

Banksia


Banksia

A banksia, cigarrilha ou cigarrilheira (Banksia integrifolia L.) é uma espécie australiana pertencente à família Proteaceae que se adaptou bem nos Açores, encontrando-se já naturalizada em algumas ilhas, exceto na Terceira, no Pico e no Corvo.

Nos Açores, para além de aparecer em sebes, a banksia pode ser vista sobretudo nas zonas costeiras geralmente até aos 400 m de altitude.

A banksia é uma árvore de folha persistente que pode atingir 25 metros de altura, apresenta folhas verde-escuras por cima e brancas por baixo e flores cilíndricas que pela sua forma terão dado origem ao nome comum cigarrilheira por que é, também, conhecida nos Açores. O seu período de floração é de junho a outubro.

Na Austrália, a banksia é muito utilizada como planta ornamental, sendo muito comum em jardins e ruas. Também usada na estabilização de dunas.

Nos Açores, foi muito utilizada em sebes vivas por associar às vantagens das suas folhas persistentes o seu crescimento rápido e a sua resistência aos ventos provenientes do mar. Sobre este assunto, o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, escreveu, em 1953, que na ilha de São Miguel, juntamente com o incenso e a faia a banksia era uma das plantas mais usadas no abrigo de pomares.

Em 1985, José Norberto Brandão de Oliveira, num texto intitulado “Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes”, considera a banksia como a segunda espécie mais importante, depois do incenso (Pittosporum undulatum Vent.) na formação de sebes altas de proteção de frutícolas, referindo que é uma “espécie bastante resistente e de crescimento bastante rápido.”

Relativamente à sua propagação, Arlindo Cabral (1953) mencionou o seguinte:

“Pega com certa dificuldade, se não forem dedicados cuidados especiais à sua propagação. Devem ser escolhidas pequenas hastes, as quais deverão, segundo uns, apanhar uma unha de inserção no ramo a que pertencia e, segundo outros, ser cortada ao nível de um nó, para melhor enraizamento. Os raminhos escolhidos devem estar meio atempados e o comprimento das estacas deve regular por 0,2 m. Estas, podem ser dispostas em viveiro ou em lugar definitivo. Há, porém, quem afirme que pega mal por transplantação e se atrasa e que um excesso de estrume também dificulta o pegamento.”

No passado, nos Açores, a banksia também foi muito apreciada como planta ornamental, tendo existido, entre outros, no Jardim de Sebastião do Canto em Vila Franca do Campo, no Jardim José do Canto (existiam em 1856 e em 1868, havia banksias para oferta e permuta) e no Jardim António Borges (existiam em 1865).

Várias espécies do género Banksia foram assunto de diversas cartas trocadas entre José do Canto e o seu primo e amigo José Jácome Correia. Assim, numa carta enviada de Paris, datada de 24 de agosto de 1853, José do Canto escreveu o seguinte:

“As banksias mesmo forão duplicadas, e triplicadas e quasi todas não classificadas, mas não se encontrava nada, ou caríssimo, e tu tinhas-me dado a entender que sendo plantas boas que te não importava a repetição.

Se quisessem dar aqui em Pariz mil francos por uma dúzia de Banksias não as havia. Eu querendo algumas, tenho-as mandado vir d’Hamburgo, e Vienna d´Áustria, por um preço superior ao de Londres.”

Hoje, é possível encontrar banksias no Jardim do Palácio de Santana, em Ponta Delgada, na Quinta da Torre, nas Capelas, e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

Teófilo Braga

sábado, 9 de março de 2024

Sanguinho


Sanguinho

O sanguinho (Frangula azorica Grubov) é uma espécie endémica dos Açores, pertencente à família Rhamnaceae, que é mais frequente nas ilhas Terceira, Pico e Flores e não existe em Santa Maria e na Graciosa.

O sanguinho é uma árvore caducifólia que pode atingir 10 m de altura, com folhas elípticas, acuminadas e pubescentes na página inferior. As flores, que podem ser vistas nos meses de abril, maio e junho, são amarelo-claras. Os frutos são carnudos, globosos e de cor vermelha a negra quando estão maduros.

Na sua obra Saudades da Terra, Gaspar Frutuoso por várias vezes se refere à planta e aos frutos do sanguinho.

Ao descrever Vila Franca do Campo, no capítulo XL do Livro IV, menciona o seguinte: “Vindo da vila, pelo caminho comum por dentro da terra, antes de chegar a São Lázaro, está a grota do Sanguinho, por ter ou haver tido ali algum, perto do mesmo caminho.”

No capítulo XLVIII, do livro IV, aquele cronista faz referência ao sabor dos frutos do sanguinho nos seguintes termos:

“As árvores, que aqui tornam a arrebentar, são faias, se Ihe não tiram a casca, uveiras, urzes, louros, tamujos, murtas e ginjas, cortando o tronco, que do pé lançam muitas e muito altas vergônteas, que são árvores agrestes, que dão um fruto tão grande e vermelho como ginjas, mas ao gosto são azedas, e o sanguinho dá outro fruto como cerejas, muito doce, que embebeda.”

Ao escrever sobre a ilha Terceira, no livro VI, Gaspar Frutuoso escreve o seguinte: “Da ilha das Flores vem madeira de cedro pera caixas e alguma de sanguinho, muitas lãs e enxergas, e pano feito da terra, branco e preto e de méscara …”

De acordo com Vieira, Moura e Silva (2020), a espécie é “dispersa a rara em ravinas, em florestas de Laurus, de Juniperus-Ilex e bosque de Juniperus (…) geralmente entre 500-700 m de altitude.”

Henry Drouet (1861) sobre o sanguinho escreveu o seguinte: “Linda árvore nativa, cuja madeira, dura e avermelhada, é utilizada por marceneiros.”

De acordo com Ramos (1871) o sanguinho é uma “bella arvore indígena, de cuja madeira, dura e avermelhada, fazem não pouco uso os marceneiros.”

Foi também ao sanguinho que os primeiros povoadores foram buscar o vermelho com que tingiam o seu vestuário.

A presença de sanguinhos deu o nome a algumas localidades ou sítios. Gaspar Frutuoso refere os sítios do Sanguinhal, do Sanguinheiro e do Sanguinho. Hoje, quem não conhece na ilha de São Miguel, o trilho pedestre do Sanguinho, na freguesia do Faial da Terra?

O sanguinho nos últimos anos passou a ser usada como espécie ornamental, podendo ser vista em alguns parques e jardins. Na ilha de São Miguel existe no Parque Terra Nostra, no Jardim Botânico José do Canto e no Parque pedagógico infantil Maria das Mercês Carreiro na freguesia do Pico da Pedra.

O sanguinho é também uma planta referida na poesia popular. Abaixo, transcrevo uma quadra citada pelo padre Ernesto Ferreira no seu livro “Ao espelho da tradição”, publicado em 1943:

São Martinho, meu patrão,

Feito de pau de sanguinho,

Consolai-me esta goela

C’uma pinguinha de vinho.

Teófilo Braga

domingo, 3 de março de 2024

Magnólia


Magnólia

O género Magnolia deve-se a Charles Plumier, botânico francês que em fins do século XVII pretendeu homenagear Pierre Magnol (1638-1715), o qual, segundo alguns historiadores, foi o autor da primeira classificação das plantas em famílias. A denominação da espécie, grandiflora, deve-se ao tamanho das suas flores, que são as maiores do género.

O médico Pierre Magnol, que foi diretor do Jardim Botânico da Universidade de Montpellier, escreveu vários livros sobre plantas, sendo considerado o mais notável botânico da sua época.

A Magnólia (Magnolia grandiflora L.) é uma planta, que pertence à família Magnoliaceae, oriunda do Sueste dos Estados Unidos da América. Foi introduzida na Europa no século XVIII, podendo ser encontrada, hoje, em quase todo o mundo.

A magnólia é árvore que pode atingir cerca de 25 metros de altura, possui folhas coriáceas, elípticas ou oblongas, de um verde vivo na parte superior e avermelhadas na inferior. As suas grandes flores (20 a 25 cm de diâmetro) brancas, que são muito perfumadas, sendo muito apreciadas pelas abelhas, surgem de junho a setembro.

De acordo com Saraiva (2020), a magnólia é uma árvore de crescimento lento, começando a produzir flores ao fim de 12 a 20 anos. Sobre a sua longevidade escreveu que na Quinta do Alão, Casa de Recarei, Porto, há um exemplar datado de cerca de 1690. Pode durar assim, em condições favoráveis, mais de 300 anos.”

Sobre a presença da magnólia em São Miguel, sabe-se que, em 1856, foi plantada no Jardim José do Canto e, em 1865, já existia no Jardim António Borges.

A magnólia é uma bonita árvore ornamental, existindo em diversos jardins públicos e privados. A título de exemplo, destacamos alguns exemplares presentes no Jardim José do Canto, no Jardim Antero de Quental, em Vila Franca do Campo, na Escola Secundária das Laranjeiras, na Mata do Dr. Fraga, na Maia e no Parque Terra Nostra, nas Furnas.

Nos Açores, podemos encontrar outras espécies do género Magnolia, como a magnólia-chinesa ou magnólia-de-soulange , a carocha, a magnólia-estrela e a magnólia-yulan.

A magnólia-chinesa (Magnolia x soulangeana), um híbrido que foi criado, em 1820, pode ser encontrada em vários jardins particulares e públicos, como na Mata do Dr. Fraga, na Maia, no Jardim António Borges, no Jardim do Palácio de Santana, no Pinhal da Paz, no Parque Terra Nostra, etc. Em 1856 existia no Jardim José do Canto. Floresce nos meses de fevereiro, março e abril.

A carocha (Magnolia figo), originária da China, com flores pequenas muito aromáticas, usadas para perfumar quartos do Espírito Santo, pode ser encontrada no Jardim José do Canto, no Parque Terra Nostra e no Centro Experimental das Furnas, na Lagoa Seca. Floresce nos meses de março, abril e maio.

A magnólia-estrela (Magnolia stellata), originária do Japão, pode ser vista no Jardim do Palácio de Santana. Floresce nos meses de janeiro e fevereiro.

A magnólia-yulan (Magnolia denudata), originária da China, que pode ser encontrada em jardins particulares e em quintais, deve o sue nome ao facto de estar sem folhas quando está com flores. Floresce nos meses de janeiro e fevereiro.

Teófilo Braga

sábado, 2 de março de 2024


Sequoia

A sequoia (Sequoia sempervirens (D. Don) Endl.) é uma planta pertencente à família- Cupressaceae. É nativa da América do Norte (Califórnia e Oregão) e a partir de meados do século XIX começou a ser plantada na Europa.

Há muitas dúvidas acerca da etimologia do nome genérico Sequoia. Saraiva (2020) aceitou como sendo derivado de Seequayah nome de uma pessoa que inventou um alfabeto para a língua da sua tribo. Quanto à designação da espécie, sempervirens significa sempre verde.

Não sendo possível afirmar que foi José do Canto quem introduziu a sequoia nos Açores, sabe-se que também foi apaixonado por espécies de grande porte. Sobre este assunto, Pedro Maurício (2007) escreveu:

“Tal como no Continente, também S. Miguel passa por uma vaga de delírio pelas árvores gigantes. Não há colecção botânica que se preze que não tenha uma sequóia: é a maior árvore do mundo e tem reputação de ser difícil de aclimatar. No Congresso de Horticultura de 1866 a que José do Canto assistiu em Londres, o professor Candolle de Genève apresentou uma comunicação sobre a medida recente e muito exacta do diâmetro duma das grandes sequóias da Califórnia. Pouco menos de cem anos depois, a sequóia de José do Canto nas Furnas é uma das árvores notáveis da Ilha.”

A sequoia é uma árvore de grande porte que pode viver muitos anos, por vezes mais de 200 anos, podendo atingir 100 metros de altura. O seu tronco é reto e os seus ramos são quase horizontais e encurvados para baixo. As folhas são perenes, estreitas e distribuídas em fileiras no ápice dos ramos. As flores, que surgem nos meses de janeiro e fevereiro, são muito pequenas e encontram-se agrupadas em pequenos cones. Os seus frutos têm a forma de um cone.

O Regente Florestal António Emiliano Costa, no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao primeiro semestre de 1953, no seu texto “Árvore Notáveis de São Miguel”, refere-se à Sequoia da Mata-Jardim José do Canto nos seguintes termos: “A Sequoia sempervirens End. (Californian redwood) …é um belo exemplar local com 4,27 m de perímetro à altura do peito …”

Ainda no mesmo texto, o autor menciona o facto de esta espécie ter a vantagem de se desenvolver melhor do que a criptoméria pelo que podia ser usada na arborização de algumas zonas de São Miguel.

Sobre a sua madeira, António Emiliano Costa escreve que “é muito superior à da criptoméria, com a vantagem também de ser leve, é óptima para todos os géneros de construções e mesmo marcenaria, tomando um belo aspecto quando polida e envernizada”.

Sobre a multiplicação da sequoia, A. Emiliano Costa (1953) menciona que a sequoia pode reproduzir-se por sementes, embora a maioria sejam estéreis, ou por estacas, a partir de rebentos de toiça enraizados.

Nos Açores, a sequoia é utilizada com fins ornamentais, existindo em vários parques e jardins na ilha de São Miguel. Entre outros locais, de São Miguel é possível encontrar sequoias na Mata-Jardim José do Canto-Lagoa das Furnas, Parque Beatriz do Canto-Furnas, Parque Terra Nostra-Furnas, Jardim da Universidades-Ponta Delgada e Mata-ajardinada da Lagoa do Congro- Vila Franca do Campo.

A sequoia da Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas, que se encontra classificada (Despacho publicado no Diário do Governo, II Série, nº.238, de 14 de outubro de 1970) merece uma visita. Merece ser classificada como árvore de interesse público, segundo Raimundo Quintal (2019) um exemplar existente no Parque Dona Beatriz.

Teófilo Braga

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Cipreste-dos-pântanos


Cipreste-dos-pântanos

O cipreste-dos-pântanos ou cipreste-calvo (Taxodium distichum (L.) Rich) é uma planta, pertencente à família Cupressaceae, oriunda das regiões pantanosas do sudeste dos Estados Unidos da América.

O nome do género Taxodium deve-se à semelhança entre as folhas das suas duas espécies com as folhas dos teixos e o da espécie distichum deve-se ao facto das suas folhas estarem distribuídas em duas filas.

O cipreste-dos-pântanos é uma conífera caducifólia que na natureza pode atingir até 40 metros de altura, com copa piramidal e ramos horizontais. O seu tronco alarga-se na base e a sua casca é grossa e fibrosa de cor castanho-avermelhada. As suas folhas com 1 a 2 com de comprimento são em forma de agulha, com cor verde-claro na primavera, um pouco mais escuras no verão e vermelho-acastanhadas no outono. As suas flores, que surgem em março e abril, são de cor púrpura, encontrando-se as masculinas em cachos pendentes e as femininas espalhadas pela árvore.

Em solos inundados, o cipreste-dos-pântanos emite raízes aéreas modificadas que se denominam penumatóforos que têm a função de captar o oxigénio atmosférico e também contribuem para a sustentação das árvores.

É possível observarmos cipreste-dos-pântanos com penumatóforos no Parque Terra Nostra e nas margens da Lagoa das Furnas. No Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, como o solo é bem drenado, o exemplar lá existente não os desenvolveu.

Para além dos locais referidos, encontram-se ciprestes-dos-pântanos no Parque Beatriz do Canto e na Mata-Jardim José do Canto, na margem sul da Lagoa das Furnas.

Raimundo Quintal, no seu texto “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, propôs que o exemplar existente no Parque Terra Nostra fosse classificado como de interesse público.

Introduzido na Europa em 1640, o cipreste-dos-pântanos terá, segundo António Saraiva (2020) sido introduzido em Portugal continental “provavelmente por Edmond Goeze, a partir de uma oferta de José do Canto.”
Ao contrário do que supôs António Saraiva (2020) que atribuiu a sua introdução nos Açores a José do Canto, através da leitura de um texto publicado no nº 18, de junho de 1849, de “O Agricultor Michaelense”, fica-se a saber que tal facto se deveu a Thomaz Anglin:
As primeiras árvores desta espécie conhecidas em São Miguel foram importadas da America pelo Sr. Thomaz Anglin, e a despeito d’uma longuíssima e tormentosa viagem, em que morreram outras interessantes plantas que aquelle memso Sr. trazia, vingaram estas, não se ressentindo das contrariedade do mar.Também por intervenção do Sr. Anglin foram introduzidas no anno de 1847 algumas sementes do mesmo cypreste, as quaes nasceram facilmente, e hão crescido rapidamente.

No que diz respeito à sua multiplicação, Saraiva (2020), menciona que a sua propagação se faz por sementes, que devem ser colocadas na terra no outono “ou estratificadas a 4º C durante 90 dias. As jovens plantas devem ficar em solo húmido, mas sem água à superfície.”

A sua madeira, sendo branda e leve, é fácil de trabalhar, sendo por isto usada na construção civil.

Saraiva (2020) destaca o valor paisagístico dada a cor das suas folhas e Quintal num texto intitulado “Ciprestes dos pântanos na Lagoa das Furnas” (2021) ao escrever que “Estas gimnospérmicas caducifólias são um espetáculo de cor!” corroboram o que em 1949 foi escrito em “O Agricultor Michaelense”:

“Esta árvore tão preconizada reúne ainda a propriedade de ser elegante no sue porte, e possuir uma folhagem dificilmente excedida em beleza, por nenhuma outra. Com especialidade na primavera quando as suas mimosas folhas começam a desabrochar, e o verde claro d’ellas principia de avultar por entre os ramos symetricos, e horizontaes, +e de encantador aspecto, e muito para ver.”
Teófilo Braga

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Azevinho


Azevinho

O azevinho (Ilex azorica Gand.) é uma árvore dioica perenifólia, da família Aquifoliaceae, endémica dos Açores, que apenas não ocorre na ilha Graciosa.

O azevinho é uma árvore que pode atingir 14 m de altura. As folhas são pequenas e de forma elíptica-oblonga, glabras, verde-brilhantes na página superior. As flores que surgem em março, abril e maio, são brancas e os frutos são bagas vermelhas, quando maduras.

L Silva, M. Martins, G. Maciel e M. Moura no livro “Flora Vascular dos Açores Prioridades em Conservação”, editado em 2009, afirmam que o azevinho aparece em “locais fortemente expostos, locais húmidos, ravinas, matos de montanha, florestas naturais …escoadas lávicas recentes com vegetação pioneira, margens de lagoas”.

O botânico sueco Erik Sjögren, em 2001, considerava esta espécie em perigo na ilha de Santra Maria e na ilha do Corvo, onde apenas um exemplar havia sido encontrado em 1978. Por sua vez, Rui Elias, no livro “Flora Nativa dos Açores, publicado em 2022, considera o azevinho mais raro em Santa Maria.

Gaspar Frutuoso, por diversas vezes menciona a presença de azevinhos em várias ilha dos Açores. Assim, ao descrever a ilha de Santa Maria, no capítulo IX, do livro III, das Saudades da Terra, escreve o seguinte:

Dá-se nela também toda a sorte de hortaliça, e muito boa, principalmente de Outono. Cria muito muitos azevinhos, ginjas, louros, tamujos e uveiras, que dão muitas uvas de serra e as melhores que há nestas ilhas todas.

No capítulo XLVIII, do livro IV, do livro mencionado, Frutuoso escreve sobre uma utilização do azevinho nos seguintes termos:

“…E onde alcançou e cobriu cinzeiro e pedra pomes, já agora cria uma erva que se chama solda, que se quer parecer com erva ussa, mas cresce mais alta e comprida, e é sempre verde, proveitoso pasto para o gado, além de o ser também a rama das árvores do mato, de pau branco e de outras, especialmente a do azevinho que é mais prestadia, a qual por ser alta Iha cortam os pastores, e outra rama de louro, que alcança o gado ao dente, por ser mais baixa, de que há maior quantidade e abundância; mas, a rama da ginja, de Março por diante, na serra e em terra de mato sombria, o faz ourinar sangue.”

Em 1871, Acúrcio Garcia Ramos, sobre o azevinho e a sua utilidade, escreveu o seguinte:

“É notável arbusto, ás vezes arborescente, por suas folhas duras, firmes, extremamente ondeadas, e por seus contornos espinhosos. A madeira é tão pesada, que vae ao fundo da água, e por isso mesmo tem muito apreço dos torneiros. Os ramos novos, muito flexíveis, servem para vassouras; e a segunda casca, ou liber, fornece aos passarinheiros um precioso visco. Há algumas variedades d’esta especie com folhas malhadas, que prestam um magnífico ornato aos jardins.”

Um relatório, datado de 1932, citado por Carreiro da Costa (1989), ao descrever a situação da flora na ilha do Pico, quase repete as informações de Garcia Ramos. Assim podemos ler o seguinte, sobre o azevinho: “arbusto de ornamento, de madeira muito pesada e que vai ao fundo da água, de grande apreço para as obras de torno”.

A azevinho também marca presença na toponímia açoriana. Assim, Gaspar Frutuoso refere o Pico do Azevinho, no Nordeste, ilha de São Miguel e o Arrebentão do Azevinho, na ilha de Santa Maria. Carreiro da Costa (1989) menciona, na ilha de São Jorge, a Fajã dos Azevinhos e o Salto do Azevinheiro.

Hoje, desconhecemos qualquer utilização do azevinho para além da ornamental, sobretudo em parques e jardins públicos e privados. Assim, fora do seu habitat natural, há azevinhos no Pinhal da Paz, no Jardim da Universidade dos Açores, no Jardim Botânico José do Canto, no Parque Terra Nostra, na Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Uva-da-serra


Uva-da-serra

O cronista Gaspar Frutuoso por várias vezes mencionou a presença da uva-da-serra em várias ilhas dos Açores.

No capítulo II, do livro IV das Saudades da Terra, Frutuoso, ao escrever sobre uma mulher que andou fugida na ilha de São Miguel registou o seguinte:

“…se foi por um escalvado até uma ribeira da banda norte, onde depois a foram achar uns homens, que pelo mesmo caminho a buscaram, e achando-a muito disforme, negra e descorada, por lhe faltarem os mantimentos, e não comer senão alguma fruta da serra, que chamam romania, e por outro nome uvas de serra, de que em toda a parte desta ilha há muita quantidade, e lapas, junto do mar, ou algum outro marisco, à ribeira lhe puseram nome a ribeira da Mulher, como hoje em dia se chama.”

O mesmo autor quando tratou da ilha do Faial, no livro VI das Saudades da Terra, escreveu que a romania “dá umas uvas pretas como mortinhos que chamam uva-da-serra que muitas pessoas comem por terem o gosto acre e aprazível.”

A uva-da-serra, romania, uva-do-mato, uva-do-monte, uveira (Vaccinium cylindraceum Sm.) é um arbusto ou pequena árvore, da família Ericaceae, endémica dos Açores, existindo em todas as ilhas, exceto na Graciosa.

A uva-da-serra, é uma planta semicaducifólia que pode atingir 5 metros de altura, com folhas alongadas, serrilhadas e agudas na ponta, sendo verdes e tornando-se avermelhadas no outono. Apresenta as suas flores agrupadas em cachos de 10-20, cor-de-rosa ou brancas, sendo visíveis nos meses de maio, junho e julho. Os frutos são pseudo-bagas, primeiro verdes e depois negras quando maduras.

A uva-da-serra prefere locais húmidos e pouco expostos, preferencialmente entre os 300 e os 1300 m de altitude.

Em 1950, no BCRCAA, nº 11, o tenente-coronel José Agostinho já alçertava para a escassez da uva-da-serra nalgumas ilhas, nos seguintes termos: “Nas outras ilhas vai-se defendendo da perseguição do homem e das vacas, muito gulosas da sua folhagem (…) albergando-se em encostas inacessíveis das grotas, ou no interior dos matos pouco frequentados.”

Drouet (1861) escreveu que com os frutos se fazem geleias e que a madeira serve para o fabrico do carvão. Dez anos depois, Accurcio Garcia Ramos (1871) apenas referiu que a sua madeira era usada para o fabrico de carvão.

O Dr. Francisco Carreiro da Costa (1949) no número 10 do Boletim da Comissão Reguladora do Arquipélago dos Açores, depois de escrever que “os pastores recorrem a ela ainda nos nossos dias para lhe comerem os frutos, quando maduros, apesar de ácidos e adstringentes”, menciona o uso da uva da serra nos seguintes termos:

“Fruto silvestre que tem sido, no decorrer dos tempos, saboreado pelos pastores e gente pobre das nossas ilhas, ainda há pouco, por ocasião da última guerra, dele fizeram aguardente nalgumas ilhas, designadamente em São Jorge, onde o produto obtido em nada, ao que parece se mostrou inferior à aguardente que se tem feito, em São Miguel, de ananás, e, em quase todas as ilhas, de nêspera.

Em presença desta ocorrência de que se obtiveram os melhores resultados, perguntámos nós: Estará a romania, posto que silvestre, um fruto com algum futuro industrial e, por consequência, com vantagens económicas para as populações rurais açorianas?”

Sendo uma das plantas mais bonitas da flora endémica dos Açores, sobretudo no período de floração e no outono, seria de todo o interesse usá-la para fins ornamentais, em locais altos e húmidos.

Teófilo Braga

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Feto-real


Feto-real

Embora alguns autores árabes e medievais europeus já tivessem escrito sobre o feto-real, o seu conhecimento científico não é recente, sendo a referência mais antiga a do médico e botânico alemão Valerius Cordus no seu livro “Historia Plantarum”.

O feto-real ou feto-de-flor (Osmunda regalis L.) é uma planta perene, pertencente à família Osmundaceae, nativa dos Açores que pode atingir 1,5 m de altura, com frondes largas verde-claras. Apresenta esporângios na extremidade das folhas férteis e os esporos são verdes.

O feto-real encontra-se espalhado por quase todo o mundo, em regiões temperadas e tropicais. Nos Açores existe em todas as ilhas, sendo, segundo Rui Elias (2022), raro em Santa Maria, muito raro na Graciosa e muito frequente nas Flores.

O feto-real prefere locais húmidos e abrigados, sendo comum nas margens de algumas lagoas como, por exemplo a Lagoa do Canário, na Serra Devassa, na ilha de São Miguel. Encontra-se, geralmente entre os 500 e os 1000 me de altitude.

Desconhece-se a partir de que continente o feto-real chegou aos Açores, nem como terá cá chegado. Poderá ter sido por ação do vento ou por intermédio das aves migratórias.

Sobre o feto-real, o Padre Ernesto Ferreira, no seu livro “A Alma do Povo Micaelense”, editado pela primeira vez em1927, escreveu o seguinte:

“O feito de Sam João (Em Portugal chamam-lhe feto real. É a espécie Osmunda regalis. Em Sam Miguel dizem geralmente feito em logar de féto.) também produz, na noite do austero Precursor, uma lindíssima flôr. Que ninguém jamais viu, mas que daria riquezas imensas a quem pudesse apanha-la. Consegui-lo-ia facilmente um padre indo, á meia-noite, paramentado como para celebrar missa.”

Em França, de acordo com o livro “Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais”, em alguns meios rurais era habitual encher os “colchões das camas de crianças débeis e dos doentes de reumatismo” com as frondes do feto-real.

Rosette Fernandes (1980), depois de afirmar que desconhecia o seu uso nos Açores, escreveu o seguinte:

“Em vários países da Europa é apreciada como planta ornamental e, mesta qualidade, várias formas têm sido obtidas por horticultores. Estes utilizam também muito o rizoma (juntamente com as bases envolventes das folhas velhas) para o cultivo de orquídeas, sendo tão procurada para esse fim que nalgumas localizadas já quase desapareceu. O rizoma, rico em amido, era outrora empregado para o engomamento (…). Finalmente, os médicos antigos usavam o rizoma em medicina e, segundo as várias aplicações indicadas (…) tais como tratamento de cólicas, “descentes”, obstruções do baço, feridas, contusões, «ruptures», «tachite» (raquitismo?), o remédio era quase panaceia universal.”

A maioria dos autores consultados não refere qualquer aproveitamento do feto-real nos Açores, contudo Yolanda Corsépius (1986) menciona o seu uso na medicina popular. Assim, segundo ela a planta possui as seguintes propriedades e indicações: “diurética-litíase renal e biliar; anti-inflamatória- contusões e equimoses.” A autora refere, ainda, que a planta é usada interna e externamente, sendo usado o rizoma seco.

Para o uso externo o modo de preparar é o seguinte: “50-60 g de água em decocção durante 15 min. Aplica-se em compressas.”

Embora já possa ser encontrado em vários jardins, como o Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, esta planta merecia ser muito mais utilizada como ornamental nos Açores.

Teófilo Braga

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Açucena


Açucena

A açucena (Lilium longiflorum Thunb.) é uma planta pertencente à família Liliaceae, oriunda do Japão e de Taiwan, mas que desde há muitos anos passou a ser cultivada em várias partes do mundo, tendo chegado a Inglaterra, em 1819, através de Carl Peter Thunberg, explorador, naturalista e botânico sueco.

Tal como muitas outras plantas não podemos indicar com precisão a data nem o nome de quem introduziu a açucena nos Açores, mas a açucena já fazia parte das plantas existentes na primavera de 1856, no Jardim de José do Canto, em Ponta Delgada, que havia sido criado 10 anos antes.

A açucena é uma herbácea ereta que pode atingir de 40 cm a cerca de 1 metro de altura. Apresenta folhas verdes lanceoladas e brilhantes e flores grandes brancas em forma de trombeta que surgem no verão.

Também conhecida como lírio-japonês, devido à sua origem, a açucena é tal como a rosa uma das mais apreciadas plantas ornamentais, sendo cultivada em filas ao longo de caminhos, muros, paredes, etc. ou em maciços.

A açucena já foi cultivada, nos Açores, com fins económicos, como se pode depreender de um anúncio publicado no jornal “A Folha”, fundado e dirigido pela feminista e defensora dos Animais Alice Moderno:

AÇUCENAS

Alice Moderno encarrega-se de exportar

açucenas para New York.

Fornece todas as informações

Rua do Castilho nº 1

Ponta Delgada

De acordo com um texto publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 10, publicado em 1949, da autoria do Dr. António da Silveira Vicente, professor do Liceu de Antero de Quental e produtor de açucenas, em São Miguel cultivavam-se duas variedades a “Formosum” e a “Harrisii”.

De acordo com a mesma fonte, a plantação de açucenas deve ocorrer na primeira quinzena de outubro, sendo os bolbos colocados a uma distância de 20 a 25 cm e a colheita deve ser feita no final de julho ou início de agosto.

A beleza das suas flores faz com que a açucena seja muito usada para ornamentação das casas de muitos açorianos e é a flor rainha na ornamentação em algumas festividades religiosas que ocorrem em todas as ilhas dos Açores.

Na minha infância e juventude, lembro-me sempre de ver no meu quintal e em algumas terras que meu pai cultivava, nomeadamente na Courela, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, pelo menos um rego de açucenas que serviam para ornamentar a casa de meus pais e de alguns familiares ou para oferecer aos mordomos do Espírito Santo.

A açucena é alvo da escrita de vários autores. Por assemelhar a várias quadras da cultura popular açoriana, transcrevo uma da brasileira, recolhida por João Simões Lopes Neto:

Açucena quando nasce,

Arrebenta pelo pé:

Assim arrebenta a língua

De quem diz o que não é.

Teófilo Braga

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Perrexil


Perrexil

O perrexil, perrexil-do-mar ou funcho-do- mar (Crithmum maritimum L.) é uma planta da família Apiaceae, nativa das costas do mar Mediterrâneo e do Atlântico europeu, das Canárias, da Madeira e dos Açores, existindo em todas as ilhas açorianas.

O perrexil é uma planta herbácea de porte pequeno, podendo atingir 50 cm. E uma planta suculenta com folhas carnudas, lanceoladas e acinzentadas. As flores apresentam-se em umbelas terminais com pétalas verde-amareladas. Os frutos são ovoides amarelados.

O perrexil encontra-se preferencialmente em zonas supralitorais rochosas, geralmente até aos 20 m de altitude.

Utilizado desde os primeiros tempos do povoamento dos Açores, Gaspar Frutuoso no capítulo XLII do livro IV das Saudades da Terra, ao descrever o litoral da Lagoa, ilha de São Miguel, fez referência ao perrexil nos seguintes termos:

Deste lugar donde saíram os franceses a dois tiros de besta, correndo a costa direita, está uma pequena ponta que por ser alta se chama o Muimento, onde há muito perrexil;

Indo dali para loeste, está o biscoutal grande, em comparação dos outros pequenos, seus vizinhos, que terá légua de comprido por aquela costa, toda de pedra de biscouto seco e raso, com o mar, sem rocha nenhuma alta, onde se acha muito perrexil, agradável e apetitoso manjar para enjoados e famintos no mar, e fartos e enfastiados na terra; e pela banda da terra, vinhas e pomares ornados com quintas e casas alvas, antre sua fresca verdura, com que fica todo aquele sítio muito aprazível à vista de quem o vê e muito mais deleitoso a quem o goza.

Durante as navegações já se conheciam as propriedades curativas do perrexil de modo que a planta era usada para combater o escorbuto.

De acordo com o médico Acúrcio Garcia Ramos, no seu livro “Noticia do Archipelago dos Açores e do que ha mais importante na sua história natural”, publicado em 1871, costumava “servir-se nas mesas em conserva de vinagre”.

Em 1884, António Borges do Canto Moniz, ao escrever sobre a flora e fauna da ilha Graciosa faz referência ao perrexil nos seguintes termos: “encontra-se grande abundância d’esta planta nas rochas e vinhas próximas do mar, e d’ella fazem os graciosenses apreciável conserva.”

Na página “Produtos Tradicionais Portugueses” da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, apresenta o modo de preparar o perrexil para uso na alimentação:

“Ingredientes utilizados: Perrexil; cebolinha; pimento vermelho; sal e vinagre.

Modo de preparação: Separar a flor da planta, deixando somente as folhas a reservar. Lavar as folhas, mergulhando-as em água por algum tempo para lhes retirar alguma sujidade e reservar. Descascar a cebolinha e reservar; cortar o pimento em tiras finas e reservar. Preparar os recipientes para conserva (frascos). Escorrer as folhas do excesso de água, e separá-las em pequenos galhos com três ou quatro folhas cada e reservar. Colocar os galhos dentro dos frascos, adicionar a cebolinha e o pimento vermelho, borrifar com um salpico de sal grosso. Encher os frascos com vinagre de vinho e fechar. O curtume está pronto a consumir quando a planta atingir a tonalidade verde azeitona, ou seja, um verde desmaiado, o que acontece entre os 15 e 30 dias, mínimo/máximo; retirar do recipiente e passar por água corrente.” (https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/)

O Dr. Oliveira Feijão, no livro “Medicina pelas Plantas” refere o uso das “folhas frescas em infuso ou cozimento…como diuréticas (gota, hidropisias, etc.)”.

Teófilo Braga

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Ginco


Ginco

O ginco ou nogueira-do-japão (Ginkgo biloba L.) é uma espécie caducifólia, pertencente à família Ginkgoaceae, oriunda da China que é considerada um fóssil vivo, pois é contemporânea dos dinossauros.

O ginco é também conhecido como a árvore de Hiroxima, pois um exemplar da espécie sobreviveu à explosão atómica ocorrida naquela cidade japonesa em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, numa altura em que a Alemanha já estava derrotada, a Itália já se havia rendido e Hitler e Mussolini, já se encontravam no Inferno a pagar pelos seus pecados. Apenas restava o Japão que ainda resistia, mas já estava de joelhos.

Pelas 8 horas e 15 minutos do dia 6 de agosto um avião dos Estados Unidos lançou uma ogiva secreta, cujo resultado, segundo Ireneu Gomes, foi a morte de 78 150 pessoas só no primeiro segundo após a detonação da bomba, 13 983 desaparecidos e 130 mil pessoas mortas, ao longo dos anos, vítimas da radiação.

O ginco foi dado a conhecer ao ocidente através do médico e botânico alemão Engelbert Kaempfer que foi quem primeiro descreveu a espécie e possivelmente a introduziu na Europa.

Em Portugal continental é cultivada em Parques e Jardins, sobretudo no Norte e Centro, destacando-se pelo seu porte um exemplar existente no Parque das Virtudes, na cidade do Porto.

Não possuindo dados para afirmar quem e quando terá sido introduzido o ginco nos Açores, sabe-se que a espécie já existia na primavera de 1856 no Jardim José do Canto.

Nos Açores surge, também em vários parques e jardins públicos e privados, sendo na ilha de São Miguel possível a sua observação no Jardim do Palácio de Santana, no Pinhal da Paz, no Jardim da Universidade, no Jardim da Escola Secundária das Laranjeiras, no Parque Terra Nostra, no Viveiro Florestal das Furnas, no Jardim do Piquinho, nas Furnas, na Mata-Jardim José do Canto-Lagoa das Furnas e na Mata do Dr. Fraga, na freguesia da Maia e nos espaços ajardinados da Fábrica de Chá da Gorreana.

O geógrafo madeirense Raimundo Quintal, num texto intitulado “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, defendeu que fosse classificado como de interesse público o conjunto de gincos da Alameda dos Gincos do Parque Terra Nostra.

O ginco é uma árvore dioica que, em média, atinge os 40 m de altura e que apresenta uma copa cónica ou piramidal. O seu ritidoma é espesso e fendido e apresenta uma coloração castanho-acinzentado. As suas folhas são flabeliformes, podendo ser inteiras ou bilobadas, de cor verde-claro, tornando-se douradas no outono. O período de floração ocorre no mês de maio. Não produz frutos, mas apenas sementes globosas por vezes ovoides que amarelecem com uma pruína acinzentada.

O ginco foi considerado uma árvore sagrada. Na China e no Japão é plantado próximo de templos ou no lugar de templos desaparecidos.

Devido à sua grande resistência à poluição, o ginco é muito usado como planta ornamental em arruamentos. A sua madeira é usada na construção de móveis, o seu ritidoma é utilizado para curtimentas e os “frutos” são usados na alimentação e com fins medicinais. As folhas também são utilizadas para fins medicinais.

Embora haja algumas dúvidas acerca de alguns efeitos benéficos do uso do ginco, vários autores consideram que o mesmo pode melhorar o rendimento cerebral e a concentração, evitar a perda de memória, combater a ansiedade e a depressão, regular a tensão arterial, etc.

Sobre os usos etnomédicos e médicos do ginco, Cunha, Sila e Roque, no livro “Plantas e produtos vegetais em fitoterapia”, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian escrevem o seguinte:

“Em casos de diminuição do rendimento intelectual. Perda da memória, zumbidos, dores de cabeça e ansiedade devido a insuficiência vascular cerebral dos idosos. Claudicação intermitente. Demência senil tipo Alzheimer. Prevenção da arteriosclerose e da formação de trombos. Útil em cardiopatias isquémicas e na diabetes mellitus nomeadamente nas complicações vasculares.”

Teófilo Braga

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Marmeleiro


Marmeleiro

Os marmelos, que eram conhecidos pelos gregos pelo menos desde o século VII a. C., foram considerados como um dos frutos mais úteis, sendo utilizados na medicina popular devido à sua adstringência.

Em 1884, António Borges do Couto Moniz numa descrição que faz da ilha Graciosa menciona que naquela ilha existem muita abundância de marmeleiros, “que se exportam milhares de marmelos para as ilhas de S. Miguel e Terceira”.

O marmeleiro ou marmelo (Cydonia oblonga Mill.), pertencente à família Rosaceae, é uma planta originária do sudoeste e centro da Ásia, sendo cultivado em quase todo o mundo, especialmente em regiões de clima mediterrânico.

O marmeleiro chegou aos Açores nos primeiros anos do povoamento das ilhas, como se pode comprovar através da leitura das Saudades da Terra. Com efeito, ao descrever a costa sul da ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso, menciona a existência, em São Roque, de várias fruteiras:

“…porque tem um rico e grande pomar, com cento e sete grandes laranjeiras, todas arruadas por boa ordem, e um pinheiro de grande sombra e muitos limoeiros, limeiras, cidreiras e outras muitas fruteiras, de toda sorte de boa pomage, e diversas enxertias novamente feitas, pereiros, albricoqueiros, macieiras, marmeleiros, figueiras e amoreiras, tanta cópia que, do sobejo e podado, sustenta quase todo o ano a sua grande casa de lenha; grande vinha com seu lagar e casa; batatal, horta de toda a hortaliça, onde se criam muitos galipavos, patos e galinhas, em grande número;…”

Trata-se de uma árvore ou arbusto que pode atingir, em média, 4 m de altura, de folhas caducas e ovais e flores hermafroditas brancas ou ligeiramente cor-de-rosa. Os frutos são em forma aproximada de pera, de cor amarelo-dourado, quando maduros, e polpa áspera e muito aromática.

O marmeleiro, que pode ser plantado de outubro a março e prefere terras ricas e permeáveis, segundo Henrique de Barros e L. Quartim Graça, no seu livro “Árvores de Fruta”, multiplica-se “por mergulhia ou por meio de estacas que se obtêm os porta-enxertos para variedades de qualidade. No que diz respeito a podas, os mesmos autores escrevem o seguinte: “Deve ser muito moderada, não passando de simples limpeza no Inverno para equilíbrio e arejamento da copa que é muito ramificada.”

É cultivado para a produção de frutos que apesar de poderem ser comidos em fresco, devido à sua polpa áspera, é aconselhado o seu uso na preparação de compota ou marmelada.

Augusto Gomes no seu livro Cozinha Tradicional da Ilha Terceira apresenta a receita de “doce de marmelo” que a seguir se transcreve:

“Descascados os marmelos, pesam-se e deitam-se em água fria para não ficarem escuros, e em seguida cozem-se. Depois de cozidos, ralam-se e vão ao lume em um tacho com o mesmo peso de açúcar, deitando-lhe um pouco de sal, e deixando ferver até atingir o ponto de rebuçado.” Numa brochura publicada nos primeiros anos do século XX, da autoria de Rosa Maria, intitulada “Cem maneiras de fazer doces económicos”, a autora explica como fazer geleia de marmelo. Segundo ela:

” A geleia de marmelo aproveita-se sempre dos desperdícios dos marmelos quando se faz a marmelada. Fervem-se as pevides, cascas e outros restos que ficaram na peneira, aproveitando a água que cozeu os marmelos. Depois de tudo bem fervido côa-se por um pano, mede-se depois e por cada medida de litro junta-se um quilo de açúcar; leva-se ao lume, estando pronta, logo que, deitando-se um pouco num pires e abrindo com um dedo o caminho, esse rasto permaneça”.

Entre outras utilizações, o Dr. Oliveira Feijão (1986) menciona o uso da “geleia de marmelo” como “alimento tónico e reconstituinte de crianças, convalescentes, doentes de peito, etc.”

Teófilo Braga

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Costela-de-adão


Se é verdade que a costela-de-adão é uma planta ornamental muito conhecida entre nós não será menos verdade dizer que muito poucos conhecem o agradável sabor do seu fruto que para a princesa Isabel (1846-1921), filha do Imperador D. Pedro II do Brasil, era o melhor de todos.

A costela-de-adão, banana-d’água, filodendro, banana-de-macaco ou fruto-delicioso, na Madeira (Monstera deliciosa Liebm.), é uma planta pertencente à família Araceae, nativa da América Central e cultivada em todo o mundo, sobretudo em regiões tropicais e temperadas.

A designação científica da planta é explicada por João Santos Costa, na página Web da revista Jardins, do seguinte modo:

“O epíteto específico do seu nome deliciosa significa “delicioso”, referindo-se objetivamente ao seu fruto comestível e enormemente apreciado por todo o mundo, sendo que o seu género, Monstera, tem origem na palavra latina com tradução de “monstruoso” ou “anormal” e refere-se às folhas incomuns com buracos naturais que os membros do género têm, chamadas tecnicamente fenestrações.” (https://revistajardins.pt/)

A costela-de-adão é uma planta trepadeira, facilmente identificável pela forma e tamanho das suas folhas que são muito grandes, cordiformes, perfuradas e com longos pecíolos. O caule é lenhoso, podendo atingir até 3 m de comprimento. A suas flores, que surgem durante todo o ano, são esbranquiçadas e muito aromáticas. Os frutos são verdes, em forma de pinha alongada e quando maduros apresentam aroma a banana-ananás.

Nos Açores, é cultivada ou encontra-se naturalizada no Faial, Flores, Graciosa, Pico e São Miguel, surgindo na floresta de incenso, ravinas, locais incultos, geralmente abaixo dos 300 m de altitude.

O seu valor ornamental foi reconhecido por José do Canto que ao construir o seu jardim em Ponta Delgada, incluiu a costela-de-adão entre as plantas que lá colocou. Assim, em 1856, faziam parte da lista das plantas existentes naquele espaço a Monstera linnei e a Monstera pertusa.

Mais tarde, em 1868, os mesmos taxa faziam parte de uma lista de plantas, de José do Canto, multiplicadas em maior número, disponíveis para doação ou permuta.

A costela-de-adão é muito usada como planta ornamental de interior e existe em vários jardins, tanto públicos como privados, como o Jardim António Borges ou o Jardim José do Canto, em Ponta Delgada.

Os seus frutos quando bem maduros são comestíveis e muito deliciosos. Podem ser comidos frescos isoladamente ou em salada de frutas. Por conterem uma elevada percentagem de oxalato de cálcio os frutos verdes ou não completamente maduros não devem ser consumidos, pois podem provocar irritações na garganta.

Yolanda Corsépius, no seu livro “Algumas Plantas Medicinais dos Açores”, na segunda edição, de maio de 1997, menciona o uso medicinal de 40 g das folhas secas, em decocção num litro de água durante 5 minutos. A mesma autora apresenta as seguintes recomendações: “Para se comer o polme do fruto- doce, carnudo e laxante- deve apanhar-se o fruto maduro e deixar que os discos da cobertura caiam espontaneamente. Come-se o polme com o auxílio de um garfo.”

Vieira, Moura e Silva (2020) referem que as folhas e os frutos da costela-de-adão são usados medicinalmente, pois possuem as seguintes propriedades: antiartrítica, antirreumática e laxante.

Teófilo Braga