quarta-feira, 24 de maio de 2023

No Dia Nacional dos Jardins (25 de maio): homenagem aos pioneiros


No Dia Nacional dos Jardins (25 de maio): homenagem aos pioneiros

Na sequência de uma petição criada pelos alunos da Turma 10.º L da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão, dinamizados pelo seu professor de Filosofia e Cidadania e Desenvolvimento, Carlos Café, a Assembleia da República, através da Resolução n.º 65/2022, criou o Dia Nacional dos Jardins a celebrar anualmente no dia 25 de maio, data do nascimento do Arquiteto Paisagista Gonçalo Ribeiro Teles (1922-2020).

Os objetivos da criação do dia são, de acordo com a resolução referida, celebrar “a importância e a vivência destes espaços, bem como o legado de Gonçalo Ribeiro Telles na proteção do ambiente, na defesa da paisagem e na promoção da qualidade de vida dos cidadãos, através de ações tendentes a fomentar o conhecimento e a proteção da biodiversidade, a sensibilizar sobre a necessidade de preservação dos espaços verdes, a assegurar a arborização e renaturalização e a realização de cadastros verdes nas escolas.”

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional do Ambiente, neste Dia Nacional dos Jardins, homenageia todos os que, nos Açores, criaram jardins e outros espaços verdes. Assim, entre outos recordamos:

- João Carlos Scholtz (1741-1823), apaixonado pela botânica que aclimatou nas suas propriedades diversas árvores exóticas;

- Tomaz Hickling (1745-1834) que deu início à construção do que é hoje o Parque Terra Nostra, nas Furnas;

- Simplício Gago da Câmara (1808-1888) que esteve na Austrália e que de lá trouxe plantas e sementes e que oferecia centenas ou milhares de plantio que cultivava nos viveiros localizados no seu prédio do Convento, em Vila Franca do Campo;

- António Borges da Câmara Medeiros (1812-1879) que foi o criador do seu jardim em Ponta Delgada, do jardim pitoresco nas Sete Cidades, bem como um dos responsáveis pelo surgimento do atualmente conhecido Parque Dona Beatriz do Canto, nas Furnas;

- José Jácome Correia (1816-1886) que criou o jardim do Palácio de Santana;

- José do Canto (1820-1898), apaixonado pelas plantas, que foi responsável pela criação do Jardim que ostenta o seu nome, em Ponta Delgada, pela Mata-ajardinada da Lagoa do Congro e pela Mata-jardim José do Canto, na margem da Lagoa das Furnas.

- Ernesto do Canto (1831-1900), naturalista que foi o principal responsável pela criação do Parque das Murtas (hoje Parque Dona Beatriz do Canto).

- Guilherme João de Fraga Gomes (1875-1952), médico madeirense, que criou a “mata do Outeiro Redondo”, hoje designada Mata do Dr. Fraga.

- Vasco Elias Bensaúde (1896-1967) que adquiriu o Parque Terra Nostra, o restaurou e o ampliou;

Neste dia, o Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional do Ambiente também saúda todos os que, hoje, cultivam o respeito pelos jardins e outros espaços verdes, públicos ou privados, e apela aos responsáveis para valorizarem a profissão de jardineiro, nomeadamente através da disponibilização de formação adequada.

Dia Nacional dos Jardins, 25 de maio de 2023

terça-feira, 2 de maio de 2023

O trevo-de-quatro-folhas: uma falsa planta endémica



O trevo-de-quatro-folhas: uma falsa planta endémica

O trevo-de-quatro folhas, é um pequeno feto herbáceo, de pouco mais de 15 cm de altura que durante alguns anos foi a planta menina-dos-olhos-de-ouro dos endemismos açorianos, tendo sido alvo de muitos estudos e o charco da ilha Terceira onde se encontrava tronou-se ponto de visita obrigatório por parte de cientistas e políticos, afinal nada tinha de endémico.

Num texto publicado por Hansen em 1972 é referido que uma planta descoberta num pequeno charco na Ilha Terceira havia sido classificada como Marsilea strigosa Willd. (Arruda, 2022, p.499).

Edmund. Launert e Jorge Paiva depois de estudarem o material recolhido por Hansen chegaram a uma conclusão diferente, isto é, a espécie encontrada na Terceira seria uma nova espécie tendo-a denominado Marsilea azorica (Arruda, 2022, p.500).

O trevo-de-quatro-folhas, que chegou a estar protegido pela Convenção de Berna e pela Directiva Habitats, esteve incluído na lista de “Algumas das espécies da flora dos Acores consideradas em maior risco”, com a categoria de “Em perigo crítico”.

Em 2019, os biólogos da Universidade dos Açores Mónica Martins, Sandra Câmara e Luís Silva consideravam como principais ameaças a “degradação do habitat, aumento da superfície agrícola útil, perturbação de áreas sensíveis (acesso pelo gado)”, etc. e como limitações biológicas o “isolamento da população, dispersão limitada, superfície de habitat reduzida, possíveis processos de endogamia e empobrecimento genético”(Silva et al, 2019, p.19)

Num texto intitulado “Imposturas Vegetais”, publicado no blogue “Dias com Árvores” ficamos a saber que havia quem desconfiasse daquele estranho endemismo, como se pode constatar através do seguinte extrato:

“É verdade que a singularidade da distribuição deste feto, encontrado nos Açores pela primeira vez em 1971 e descrito como uma nova espécie, endémica do arquipélago, em 1983, tinha já suscitado a estranheza de alguns botânicos. Vale a pena reproduzir o comentário que Carlos Aguiar deixou em dezembro de 2010: A distribuição desta planta nos Açores é surpreendente: uma lagoa na berma de uma estrada movimentada, na ilha Terceira. Não me surpreenderia que um dia alguém descobrisse que se trata de um neófito de origem neotropical.”

Em outubro de 2011, da autoria de Hanno Schaefer , Mark A. Carine , e Fred J. Rumsey, foi publicado o artigo “From European Priority Species to Invasive Weed: Marsilea azorica (Marsileaceae) is a Misidentified Alien “, onde os autores revelam que o trevo-de-quatro-folhas não era uma endémica dos Açores, mas a espécie de origem australiana Marsilea hirsuta com características invasoras no sul dos EUA, donde terá vindo para os Açores. Os autores também recomendam que, apesar de não haver evidências de que a planta ameaça as espécies nativas, a mesma não deva ser propagada no nosso arquipélago.

T.B.

Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Marsilea_azorica#/media/Ficheiro:Marsilea_azorica_(Habitus).jpg

Bibliografia

Arruda, L. (2022). Descobrimento Científico dos Açores-De 1976 a 1985. Ponta Delgada: Sociedade Afonso Chaves. 882 pp.

Silva, L., Martins, M., Maciel, G., Moura, M. (2019). Flora Vascular dos Açores. Prioridades em Conservação. Ponta Delgada: Amigos dos Açores e CCPA. 116 pp.

https://dias-com-arvores.blogspot.com/