O eucalipto-limão do Jardim Dr. António da Silva Cabral
Vila Franca do Campo possui dois jardins, o Jardim Antero de Quental, o
mais central que é ladeado pela Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, pela
Igreja da Misericórdia e pela Câmara Municipal, e o Jardim Dr. António da Silva
Cabral, localizado na freguesia de São Pedro, em frente ao antigo Convento dos
Franciscanos.
O Jardim Dr. António da
Silva Cabral foi contruído após a expropriação do terreno onde está implantado,
pela Junta Geral do Distrito, em 1901.
De acordo com a informação que recolhi na brochura “Jardim Dr. António da
Silva Cabral”, da autoria do investigador da história local Eduardo Furtado,
sobre as razões apresentadas para a construção de um jardim, na ata da sessão
da Câmara Municipal, de 22 de maio de 1901, pode-se ler o seguinte:
“O Sr. Presidente fez várias considerações sobre a necessidade que havia de
um largo ajardinado, ou jardim, na freguesia de São Pedro desta Vila, porque
naquela freguesia não há arborização alguma. A construção de um jardim era
conveniente não só por ser higiénico, mas também porque servindo o jardim de
distração, evita-se que principalmente a classe operária, passe os domingos nas
tabernas. Como existe já um largo da Junta Geral, a Câmara expropriando uma
pequena parte do quintal de Ana Máxima Teixeira, obtém necessário para fazer um
bom jardim que pode ser feito economicamente, empregando ali os empregados da
Câmara.
A Câmara deliberou que se faça ali um jardim, que se exproprie o terreno
pertencente à dita Ana Máxima Teixeira e encarrega o senhor Presidente [Dr.
António da Silva Cabral] de dirigir os serviços de jardinagem e aformoseamento
do dito Largo de S. Francisco.
No trabalho de Eduardo Furtado é apresentada uma lista
de 23 espécies que são consideradas como as principais existentes no jardim.
Curiosamente não é referido o bonito eucalipto-limão (na altura classificado
como Eucalytus citriodora e agora Corymbia citriodora) talvez por
ser confundido com a espécie mais comum o Eucalyptus globulus.
O eucalipto limão é uma árvore, pertencente à família Myrtaceae, originária
da Austrália que, de acordo com
informação recolhida numa página Web da Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro, foi introduzido em África, no Brasil, na China, nos Estados Unidos da
América (Califórnia), no Hawai, na Índia e em Portugal (residualmente).
Desconhece-se quando e quem introduziu a
espécie nos Açores, mas poderá ter sido José do Canto, pois a espécie consta do
“Catálogo por ordem alfabética das espécies plantadas entre Maio de 1865 e
Setembro de 1867” no Jardim José do Canto.
Árvore de folha persistente, o eucalipto-limão,
que floresce nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro na ilha de São Miguel,
pode ser encontrado no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim da Universidade
dos Açores, no Jardim do Pico Salomão, na Escola Secundária das Laranjeiras e
numa quinta particular na Ribeira Nova, na freguesia da Ribeira Seca de Vila
Franca do Campo.
Entre nós a planta é usada essencialmente com
fins ornamentais, mas a sua madeira é usada na construção civil ou como
combustível e as suas flores, que apresentam estames branco-amarelados, são
melíferas. Além disso, a partir da planta podem ser extraídos vários óleos, um
dos quais é um inseticida natural, podendo ser usado também em perfumaria.
Raimundo Quintal, doutorado em Geografia Física
pela Universidade de Lisboa, especialista em fitogeografia, num texto
intitulado “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São
Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, propõe que sejam
classificados de interesse público dois eucaliptos-limão dos existentes em São
Miguel, o do Jardim do Palácio de Santana e o do Jardim Dr. António da Silva
Cabral.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 27 de outubro de 2021, p.15
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