quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O eucalipto-limão do Jardim Dr. António da Silva Cabral

 


O eucalipto-limão do Jardim Dr. António da Silva Cabral

 

Vila Franca do Campo possui dois jardins, o Jardim Antero de Quental, o mais central que é ladeado pela Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, pela Igreja da Misericórdia e pela Câmara Municipal, e o Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado na freguesia de São Pedro, em frente ao antigo Convento dos Franciscanos.

 

O Jardim Dr. António da Silva Cabral foi contruído após a expropriação do terreno onde está implantado, pela Junta Geral do Distrito, em 1901.

 

De acordo com a informação que recolhi na brochura “Jardim Dr. António da Silva Cabral”, da autoria do investigador da história local Eduardo Furtado, sobre as razões apresentadas para a construção de um jardim, na ata da sessão da Câmara Municipal, de 22 de maio de 1901, pode-se ler o seguinte:

 

“O Sr. Presidente fez várias considerações sobre a necessidade que havia de um largo ajardinado, ou jardim, na freguesia de São Pedro desta Vila, porque naquela freguesia não há arborização alguma. A construção de um jardim era conveniente não só por ser higiénico, mas também porque servindo o jardim de distração, evita-se que principalmente a classe operária, passe os domingos nas tabernas. Como existe já um largo da Junta Geral, a Câmara expropriando uma pequena parte do quintal de Ana Máxima Teixeira, obtém necessário para fazer um bom jardim que pode ser feito economicamente, empregando ali os empregados da Câmara.

 

A Câmara deliberou que se faça ali um jardim, que se exproprie o terreno pertencente à dita Ana Máxima Teixeira e encarrega o senhor Presidente [Dr. António da Silva Cabral] de dirigir os serviços de jardinagem e aformoseamento do dito Largo de S. Francisco.

 

No trabalho de Eduardo Furtado é apresentada uma lista de 23 espécies que são consideradas como as principais existentes no jardim. Curiosamente não é referido o bonito eucalipto-limão (na altura classificado como Eucalytus citriodora e agora Corymbia citriodora) talvez por ser confundido com a espécie mais comum o Eucalyptus globulus.

 

O eucalipto limão é uma árvore, pertencente à família Myrtaceae, originária da Austrália que, de acordo com informação recolhida numa página Web da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi introduzido em África, no Brasil, na China, nos Estados Unidos da América (Califórnia), no Hawai, na Índia e em Portugal (residualmente).

 

Desconhece-se quando e quem introduziu a espécie nos Açores, mas poderá ter sido José do Canto, pois a espécie consta do “Catálogo por ordem alfabética das espécies plantadas entre Maio de 1865 e Setembro de 1867” no Jardim José do Canto.

 

Árvore de folha persistente, o eucalipto-limão, que floresce nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro na ilha de São Miguel, pode ser encontrado no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim da Universidade dos Açores, no Jardim do Pico Salomão, na Escola Secundária das Laranjeiras e numa quinta particular na Ribeira Nova, na freguesia da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.

 

Entre nós a planta é usada essencialmente com fins ornamentais, mas a sua madeira é usada na construção civil ou como combustível e as suas flores, que apresentam estames branco-amarelados, são melíferas. Além disso, a partir da planta podem ser extraídos vários óleos, um dos quais é um inseticida natural, podendo ser usado também em perfumaria.

 

Raimundo Quintal, doutorado em Geografia Física pela Universidade de Lisboa, especialista em fitogeografia, num texto intitulado “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, propõe que sejam classificados de interesse público dois eucaliptos-limão dos existentes em São Miguel, o do Jardim do Palácio de Santana e o do Jardim Dr. António da Silva Cabral.

 

Teófilo Braga

Correio dos Açores, 27 de outubro de 2021, p.15

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