terça-feira, 12 de outubro de 2021

A propósito do dragoeiro da Escola Secundária Antero de Quental

 



A propósito do dragoeiro da Escola Secundária Antero de Quental

 

Tomei conhecimento da existência do dragoeiro da Escola Secundária Antero de Quental quando, em 1973, fui obrigado por lei a fazer o exame do antigo quinto ano (atual 9º ano de escolaridade) naquele estabelecimento de ensino em virtude de frequentar o Externato de Vila Franca do Campo.

 

Durante os dois anos letivos (1973-74 e 1974-75) em que fui aluno da referida escola, altura em que nas aulas de desenho livre do professor Silveira íamos para o jardim desenhar alguma plantas entre as quais o dragoeiro, depois quando lá lecionei (de 1983-84 a 1988-89) e mais tarde sempre que era convidado para dinamizar alguma sessão para alunos fui acompanhando a evolução daquela árvore notável que não percebo por que razão nunca foi alvo de qualquer classificação.

 

O Eng. Silvicultor Ernesto Goes, autor do livro “Dragoeiros dos Açores”, editado na Ribeira Chã, em 1994, por iniciativa do padre Flores, sobre o dragoeiro referido escreveu o seguinte:

“Um, no parque da Escola Secundária Antero de Quental, instalado no antigo Palácio do Barão da Fonte Bela, na cidade de Ponta Delgada, que é o maior desta ilha, tendo 4,22 m de P.A.P. (perímetro do tronco a 1,30 m do solo), 10 m de altura e 15 m de copa. Se bem que não se saiba a data da plantação deste dragoeiro, no entanto, julgamos que deveria ter sido plantado na altura da construção do antigo Paço, iniciado em 1587”.

 

O dragoeiro (Dracaena draco (L.) L. subsp. draco), árvore da família Asparagaceae que é originária da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), que se encontra sobretudo a baixas altitudes, normalmente abaixo dos 200 m.

 

O dragoeiro é uma árvore de folhas persistentes que pode atingir 15 metros de altura, com folhas lanceoladas agrupadas nas extremidades dos ramos. As suas flores, que aparecem entre junho e agosto, estão dispostas em panículas de cor branca e os frutos são drupas, globosas e amarelas.

 

São árvores de crescimento lento e com uma grande longevidade. A propósito, Raimundo Quintal, na revista “Jardins” de setembro de 2016, escreveu que “segundo o naturalista alemão Alexander von Humboldt (1769 – 1859), o famoso dragoeiro de Orotava, em Tenerife, derrubado por um tufão em 1867, teria mais de 6000 anos. Era uma notável árvore, com 23 m de altura e uma copa com 24 m de perímetro.”

 

Os dragoeiros existentes em várias ilhas dos Açores foram, na sua esmagadora maioria plantados. Na ilha de São Miguel, para além do que vimos referindo, há, entre outros, bonitos exemplares no Jardim António Borges, no Parque Terra Nostra, no Jardim dos Fundadores da Irmandade do Hospital da Maia, no Jardim Dr. António da Silva Cabral, em Vila Franca do Campo, e no Jardim da Casa do Povo do Pico da Pedra.

 

Nos Açores, a principal utilização do dragoeiro sempre foi como planta ornamental, existindo quer em jardins quer em antigas quintas senhoriais. Contudo há referências ao uso da sua seiva incolor que ao oxidar em contacto com o ar solidifica e fica avermelhada.

 

Ernesto Goes, no livro citado, refere que “antigamente, por incisão no tronco, extraía-se uma resina de cor vermelha (sangue de draco) que era utilizada em medicina caseira, em tinturaria e também como verniz, muito procurado e cotado na Europa, para acabamento de violinos”.

 

Carreiro da Costa, numa palestra proferida no Emissor Regional dos Açores, a 29 de maio de 1964, mencionou o uso do sangue-de-drago, conhecido pelo povo como “poses de adrago”, poses de Adragão ou “torresmilho”, para estimular o apetite dos animais de criação.

 

Virgílio Vieira, Mónica Moura e Luís Silva, no livro “Flora Terrestre dos Açores”, mencionam o uso da seiva de dragoeiro como corante e em cosmética, exemplificando a sua utilização pelas senhoras da ilha das Flores para pintura das unhas.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32557, 13 de outubro de 2021, p.15)

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