quarta-feira, 17 de março de 2021

A Festa da Árvore ontem e hoje



A Festa da Árvore ontem e hoje
No próximo domingo, 21 de março, comemora-se o Dia da Floresta, antes Dia da Árvore.
O Dia Florestal Mundial foi estabelecido em 1971, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), com o objetivo de sensibilizar as populações para a importância da floresta na manutenção da vida na Terra-
No ano seguinte, a 21 de março de 1972, dia que marcou o início da primavera no Hemisfério Norte o Dia Mundial da Floresta foi comemorado em Portugal e em vários países daquele hemisfério.
Mas as comemorações em defesa das árvores e das florestas não começaram no século XX. Com efeito, não recuando muito no tempo, em 1782, impulsionado por John Stirling Morton, no Estado do Nebraska, nos Estados Unidos da América, para combater a escassez de material lenhoso, foi dedicado um dia à plantação de árvores.
Em Portugal, antes de se institucionalizar o dia, a primeira Festa da Árvore terá ocorrido, por iniciativa da Liga Nacional da Instrução, associação fundada por republicanos membros da Maçonaria, como Trindade Coelho e Manuel Borges Grainha, que tinha por objetivo combater o analfabetismo. Assim, em 1907, no Seixal, cerca de 200 crianças participaram num evento onde ao som de filarmónicas e hinos por elas cantados, assistiram à plantação de duas árvores.
O historiador Joaquim Fernandes, defende que a Festa da Árvore não só pretendeu chamar a atenção para a importância de aquele ser vivo, mas teve por objetivo, por parte dos republicanos, “sobrepor-se às celebrações da Páscoa e da Ressurreição de Cristo, eixo essencial da fé de milhões de portugueses”.
Com a implantação da República, a celebração passou a integrar o calendário republicano, tendo sido a primeira Festa Nacional da Árvore, em 1913, assumida pelo periódico “O Século Agrícola”.
Ainda de acordo com Joaquim Fernandes, a festa da árvore e o seu culto foi sugerido pela primeira vez pela feminista republicana, Ana de Castro Osório; amiga das açorianas Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, em 1906.
No diário “A Vanguarda”, aquela educadora feminista repudiou “um crime que se havia perpetrado em Setúbal com o abate sem dó nem piedade de árvores seculares” e apelava à educação do povo através da “promoção de festas escolares com plantios de árvores, a cargo das crianças “ e apelou para que fosse criada uma “Liga da Árvore ou da Paisagem”.
Em São Miguel, quer participando nas comissões organizadores, quer discursando nos eventos ou publicando textos alusivos à efeméride na Revista Pedagógica ou no jornal “A folha” as feministas Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa tiveram um papel de destaque.
Nos nossos dias, as comemorações do Dia da Floresta já perderam algum fulgor e não passam de atividades simbólicas, quase reduzidas a plantações de árvores em algumas escolas que acabam por morrer por falta de água no verão seguinte ou vítimas das roçadeiras.
Considero que a situação atual em termos de proteção dos nossos recursos naturais exige a tomada efetiva de medidas no sentido da proteção da flora primitiva dos Açores, nomeadamente das suas espécies endémicas, sendo uma delas o combate sem tréguas às espécies invasoras.
No que diz respeito às espécies introduzidas e que já fazem parte do nosso património é urgente a classificação de todos os exemplares e conjuntos arbóreos que pelo seu porte, raridade ou história carecem de cuidados redobrados de conservação.
Por último, para evitar os atentados quase diários às árvores, é importante que nos Açores, à semelhança do que foi aprovado na Assembleia da República, seja criada uma estratégia para o fomento do arvoredo urbano que integre “um manual de boas práticas na gestão do arvoredo em meio urbano, contendo regras adequadas aos objetivos a prosseguir” que inclua “requisitos funcionais, operacionais, ambientais e paisagísticos para as intervenções de plantio, poda, limpeza e manutenção, abate e transplante de árvores em meio urbano e nos espaços públicos”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32386, 17 de março de 2921, p.12)
Imagem- Festa da Árvore no Jardim José do Canto em 2017. Açores Magazine.

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