terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A Madeira e as plantas dos Açores

 


A Madeira e as plantas dos Açores

 

Desde o descobrimento das ilhas houve intercâmbio de pessoas e de bens entre os arquipélagos dos Açores e da Madeira.

 

No que diz respeito à vegetação algumas plantas existentes na Madeira foram trazidas para os Açores, acontecendo o mesmo em sentido contrário.

 

Lembro-me de, há alguns anos, ter visitado na ilha da Madeira os magníficos Jardins da Quinta do Palheiro e ter encontrado uma vidália (Azorina vidalii), espécie endémica dos Açores que pode ser encontrada em algumas faixas do litoral de todas as ilhas. Lembro-me de, na ocasião, ter perguntado ao jardineiro o nome da planta, tendo ele respondido que não conhecia, mas sabia que a planta era dos Açores.

 

Da Madeira para os Açores, temos conhecimento de um pequeno número de plantas, endémicas ou não daquela região, que foram trazidas para cá para serem usadas com os mais diversos fins, desde os alimentares aos ornamentais.

 

Uma das primeiras plantas trazidas da Madeira foi a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), no século XV. Oriunda da Ásia a cultura da cana-de-açúcar nos Açores nunca ocupou a área nem atingiu a produção obtida naquele arquipélago. De acordo com Carreiro da Costa, o cultivo da cana-de-açúcar deixou de ser praticado, entre nós, na segunda metade do século XVII e as ilhas Graciosa, Pico, São Jorge e Corvo não a conheceram como cultura industrial.

 

A caiota, chuchu ou pimpinela (Sechium edule), oriunda da América Central, de acordo com um texto publicado na revista, da SPAM- Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, “O Agricultor Michaelense”, veio da Madeira, remetida pelo senhor Camilo José de Gouveia. De acordo com a mesma fonte, daquele arquipélago, vieram duas variedades, uma que produzia um fruto pequeno e outra cujo fruto tinha tamanho duplo ou triplo do primeiro.

 

Outra planta vinda do arquipélago da Madeira, mais propriamente do Porto Santo, foi a malva-arbórea (Lavatera arborea). As sementes chegaram aos Açores, em 1845, por intermédio do Tenente-Coronel António Homem da Costa Noronha, tendo sido semeadas em São Miguel em fevereiro de 1846 e na Terceira e no Faial, em 1848.  De acordo com “O Agricultor Michaelense”, a planta, que podia atingir a altura de 10 pés e a grossura de duas a três polegadas, era usada para a extração de fios usados no fabrico de cordas ou em “mimosos bordados”.

 

O til (Ocotea foetens), árvore endémica da Madeira e das Canárias que hoje pode ser encontrado no Jardim Botânico José do Canto, no Pinhal da Paz, na Mata da Lagoa do

Congro, no Jardim do Palácio de Santana e no Parque Terra Nostra também terá vindo da Madeira. José do Canto inclui o til, na lista das principais plantas existentes no seu jardim de Santana em 1856.

 

Possivelmente de introdução mais recente, a cletra ou verdenaz (Clethra arbórea), endémica da Madeira e das Canárias, é hoje em São Miguel uma das invasoras mais nocivas, podendo ser vista não só em alguns jardins, mas também na Tronqueira ou nas Lombadas. Embora alguma bibliografia indique que se trata de uma ornamental escapada de jardins, algumas fontes sugerem que a mesma foi introduzida a partir da Madeira por um serviço oficial da Região Autónoma dos Açores.

 

Cada vez mais comum nos nossos jardins particulares é o massaroco (Echium candicans), espécie endémica da Madeira. Cultivada como ornamental, em vários países de clima temperado, o massaroco apresenta uma inflorescência alongada, que pode atingir 35 cm, com flores de cor azul ou arroxeada.

 

Por último, apresento outra espécie endémica da Madeira, mais rara entre nós, o gerânio da Madeira (Geranium maderense) que tive a oportunidade de ver e fotografar no Pico da Pedra, antes de ser destruído pelo fio de uma roçadeira. Podendo atingir até 1,5 m de altura. sendo o maior dos gerânios, esta espécie tem um grande valor ornamental dada a beleza das suas flores rosa magenta.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores,32368, 24 de fevereiro de 2021, p. 11)

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