A Madeira
e as plantas dos Açores
Desde
o descobrimento das ilhas houve intercâmbio de pessoas e de bens entre os
arquipélagos dos Açores e da Madeira.
No
que diz respeito à vegetação algumas plantas existentes na Madeira foram
trazidas para os Açores, acontecendo o mesmo em sentido contrário.
Lembro-me
de, há alguns anos, ter visitado na ilha da Madeira os magníficos Jardins da
Quinta do Palheiro e ter encontrado uma vidália (Azorina vidalii), espécie
endémica dos Açores que pode ser encontrada em algumas faixas do litoral de
todas as ilhas. Lembro-me de, na ocasião, ter perguntado ao jardineiro o nome
da planta, tendo ele respondido que não conhecia, mas sabia que a planta era
dos Açores.
Da
Madeira para os Açores, temos conhecimento de um pequeno número de plantas,
endémicas ou não daquela região, que foram trazidas para cá para serem usadas
com os mais diversos fins, desde os alimentares aos ornamentais.
Uma das primeiras
plantas trazidas da Madeira foi a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum),
no século XV. Oriunda da Ásia a cultura da cana-de-açúcar nos Açores nunca ocupou
a área nem atingiu a produção obtida naquele arquipélago. De acordo com
Carreiro da Costa, o cultivo da cana-de-açúcar deixou de ser praticado, entre
nós, na segunda metade do século XVII e as ilhas Graciosa, Pico, São Jorge e
Corvo não a conheceram como cultura industrial.
A caiota, chuchu
ou pimpinela (Sechium edule), oriunda da América Central, de acordo com
um texto publicado na revista, da SPAM- Sociedade Promotora da Agricultura
Micaelense, “O Agricultor Michaelense”, veio da Madeira, remetida pelo senhor
Camilo José de Gouveia. De acordo com a mesma fonte, daquele arquipélago, vieram
duas variedades, uma que produzia um fruto pequeno e outra cujo fruto tinha
tamanho duplo ou triplo do primeiro.
Outra planta vinda
do arquipélago da Madeira, mais propriamente do Porto Santo, foi a
malva-arbórea (Lavatera arborea). As sementes chegaram aos Açores, em
1845, por intermédio do Tenente-Coronel António Homem da Costa Noronha, tendo
sido semeadas em São Miguel em fevereiro de 1846 e na Terceira e no Faial, em
1848. De acordo com “O Agricultor
Michaelense”, a planta, que podia atingir a altura de 10 pés e a grossura de
duas a três polegadas, era usada para a extração de fios usados no fabrico de
cordas ou em “mimosos bordados”.
O til (Ocotea foetens), árvore
endémica da Madeira e das Canárias que hoje pode ser encontrado no Jardim
Botânico José do Canto, no Pinhal da Paz, na Mata da Lagoa do
Congro, no Jardim
do Palácio de Santana e no Parque Terra Nostra também terá vindo da Madeira.
José do Canto inclui o til, na lista das principais plantas existentes no seu
jardim de Santana em 1856.
Possivelmente de
introdução mais recente, a cletra ou verdenaz (Clethra arbórea),
endémica da Madeira e das Canárias, é hoje em São Miguel uma das invasoras mais
nocivas, podendo ser vista não só em alguns jardins, mas também na Tronqueira
ou nas Lombadas. Embora alguma bibliografia indique que se trata de uma
ornamental escapada de jardins, algumas fontes sugerem que a mesma foi
introduzida a partir da Madeira por um serviço oficial da Região Autónoma dos
Açores.
Cada vez mais
comum nos nossos jardins particulares é o massaroco (Echium candicans), espécie endémica da
Madeira. Cultivada como ornamental, em vários países de clima temperado, o
massaroco apresenta uma inflorescência alongada, que pode atingir 35 cm, com
flores de cor azul ou arroxeada.
Por último, apresento
outra espécie endémica da Madeira, mais rara entre nós, o gerânio da Madeira (Geranium
maderense) que tive a oportunidade de ver e fotografar no Pico da Pedra,
antes de ser destruído pelo fio de uma roçadeira. Podendo atingir até 1,5 m de
altura. sendo o maior dos gerânios, esta espécie tem um grande valor ornamental
dada a beleza das suas flores rosa magenta.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores,32368, 24 de fevereiro de 2021, p. 11)
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