Sobre
o raro teixo
Num
texto publicado em 1983, no fascículo II do Volume I da “Iconographia Selecta
Florae Azoricae”, A Fernandes, que foi presidente da Sociedade Broteriana,
sobre o teixo (Taxus baccata) escreveu que aquela espécie, que existia
na Europa, Argélia, Marrocos, Norte do Irão e do Afeganistão ao Butão, nos
Açores podia ser encontrada nas ilhas do Corvo, Flores e Pico.
Sendo
uma espécie considerada nativa, A. Fernandes coloca a hipótese de a espécie ser
“de introdução muito antiga nos Açores e que esta tenha sido feita a partir de
sementes levadas pelas aves migradoras que, voando do norte da Europa, faziam
escala nas ilhas no seu caminho para Sul ou Oeste”.
Gonçalo
Telles Palhinha, por sua vez, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado
em 1966, já após a morte do autor, sobre a distribuição geográfica do teixo
refere que para além de existir nas três ilhas mencionadas, também pode ser
encontrado na Madeira e em Portugal continental. Sobre a situação em termos de
abundância, o mesmo autor refere o seguinte:
“Seubert
di-la cultivada-in hortis et circa domos- e acrescenta que os habitantes diziam
ser espontânea nas montanhas. Devido a cortes quase totais, para aproveitamento
da madeira, só existe actualmente nas ilhas citadas, ao que julgo, em
pouquíssima quantidade e em via de desaparecimento.”
Num
texto intitulado “Salvar o teixo dos Açores da extinção”, cuja data
desconhecemos, da autoria de Cátia Freitas e Pedro Casimiro, sobretudo devido à
exploração intensiva do teixo para a construção de mobiliário, entre 1450 e
1760, e para uso da madeira como combustível a espécie quase desapareceu de tal
modo que só existiriam 5 indivíduos na ilha do Pico.
Ao
descrever a ilha de São Miguel; Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, a dado
passo ao enumerar as espécies de plantas existentes refere-se aos teixos do
seguinte modo:
“…ginjas,
azevinhos, urzes, tamujos, uveiras,[…] e alguns teixos, que já se vão acabando
por serem muito prezados e buscados, para deles fazerem ricas mesas e bordas
delas, cadeiras e fasquias para ricos escritórios, que com ele se guarnecem e
já agora se ajudam com outros teixos trazidos da ilha do Pico, onde há muitos,
e sem eles, suprindo em seu lugar, para as bordas e fasquias, o sanguinho que é
também singular pau para isso.”
Mas
não foi só nos Açores que o teixo foi explorado intensivamente. Com efeito, A.
Fernandes referiu que o mesmo aconteceu na Europa. Segundo ele “graças à
flexibilidade da sua madeira, o Teixo foi muito utilizado na Idade Média para
construir arcos e flechas, funcionando, portanto, as florestas da época dessas
árvores como verdadeiros arsenais de guerra”.
Num
texto intitulado “Teixo: tanto amado como odiado” José Luís Louzada menciona
que “as partes verdes desta espécie
contêm um potente alcaloide venenoso, a taxina, capaz de causar graves efeitos
no sistema nervoso e cardiovascular dos animais, podendo levar à sua morte. A
sua toxicidade levou à associação do teixo ao culto dos mortos e tornou-o comum
em cemitérios. Mas a morte dos cavalos e burros que acompanhavam os funerais,
assim como de outros animais que comiam as suas folhas, acabou por levar a que
fossem retirados de cemitérios e igrejas, e eliminados de locais tradicionais
de pastoreio” e acrescenta que “embora seja venenoso, o teixo que conhecemos em
Portugal é a fonte do precursor do Taxol, um dos
medicamentos mais procurados para o tratamento do cancro.”
Se
foi preciso ter ido à ilha da Madeira para ver um teixo pela primeira vez, em
1990 ou 1991, hoje os amantes das plantas poderão encontrá-lo na ilha de São
Miguel, nomeadamente no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, que está
aberto ao público todos os dias ou no Parque Dona Beatriz do Canto, nas Furnas,
que só costuma estar aberto ao público no mês de agosto e no Jardim Antero de
Quental, em Vila Franca do Campo.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32642, 26 de janeiro de 2022, p.
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