quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Sobre a criptoméria, a árvore de Natal dos Açores


Sobre a criptoméria, a árvore de Natal dos Açores

A planta mais utilizada como árvore de Natal nos Açores será a criptoméria (Criptomeria japonica) que é conhecida, também, pelos seguintes nomes vulgares: Clica, Cricomé, Titomé, Clipa.

A criptoméria é originária do Japão, onde para além de espontânea é cultivada, sendo uma das principais árvores produtoras de madeira daquele país e onde, também, é muito usada como ornamental em jardins, bosquetes e alamedas. A. Fernandes, no livro “Iconographia Selecta Florae Azorica”, publicado em 1983, faz referência a uma avenida “plantada por um padre, OGO SHONIN, há cerca de 650 anos (717 se nos referirmos à data actual)”, com mais de 1 milha de comprimento e com árvores com uma altura que varia entre os 38,4 m e os 57,6 m.

A introdução da criptoméria nos Açores terá ocorrido em meados do século XIX numa altura em que escasseava a madeira para as caixas usadas na exportação da laranja e depois para a do ananás.

Nos Açores, nomeadamente na ilha de São Miguel a área plantada de criptoméria tem variado ao longo dos tempos. Em 1934, o engenheiro silvicultor, Gonçalo Estrela Rego estimava que em São Miguel a mesma ocupava uma área de 1327,26 hectares o que correspondia a 29,45 % da área florestal da ilha.

Depois do relatório de Estrela Rego, na ilha de São Miguel assistiu-se a uma plantação intensiva, em regime de monocultura de criptoméria, de tal modo que hoje a criptoméria é a espécie florestal mais abundante, destronando o pinheiro bravo que era a espécie que ocupava maior área, segundo um inquérito florestal de 1932-1933. No final do século passado a criptoméria ocupava a área de 10 600 hectares, o que correspondia a 69% da área de matas de São Miguel.

A madeira de criptoméria é muito usada na construção civil e a espécie foi muito usada como cortina de abrigo em zonas de pastagem e em estradas de altitude.

De acordo com A. Fernandes, já mencionado, o género Criptomeria, cujo “nome deriva das palavras gregas Kryptos, escondido, e meroe, partes” possui apenas uma espécie, existindo várias variedades.

Uma cultivar muito bonito e que é usado sobretudo como planta ornamental é o “Elegans” que dá origem a árvores mais pequenas, com altura que varia entre os 5 e os 10 metros.

Esta cultivar que surgiu no Japão em meados do século XIX, foi importada para a Europa em 1854 pelo inglês Thomas Lobb, não se sabendo quem a trouxe para os Açores.

Conheço há muitos anos uma sebe de criptoméria elegante numa pastagem existente nas Lombas, na freguesia da Ribeira das Tainhas, no concelho de Vila Franca do Campo. Os interessados em conhecer a planta também a podem encontrar num caminho existentes nas plantações de chá da Fábrica de Chá da Gorreana e no Parque Beatriz do Canto, nas Furnas.

Como não há bela sem senão, a plantação de grandes áreas de criptoméria para além de transformar a paisagem das diversas ilhas dos Açores colocou em risco várias espécies endémicas. Sobre esta questão, o botânico sueco Erik Sjögren no seu livro Plantas e Flores dos Açores, publicado em 2001, escreveu o seguinte: “Apenas algumas plantas da laurissilva conseguem sobreviver debaixo do forte ensombramento dos povoamentos adultos de Cryptomeria e sobre a camada espessa de folhas e ramos, que se deposita sobre o solo e impede a colonização da maioria das plantas….O corte da floresta nativa para plantação de Cryptomeria é uma forte ameaça à sobrevivência da floresta endémica da zona-de-nuvens, que pertence ao mais valioso tipo de florestas, com características de relíquia do mundo”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32008, 18 de dezembro de 2019, p.14)

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