domingo, 24 de março de 2019

Da Árvore à Floresta: o desrespeito continua


Da Árvore à Floresta: o desrespeito continua

“Quem não tem jardins por dentro
Não planta jardins por fora” (Rubem Alves)

Tudo terá começado, em 1872, nos Estados Unidos da América, no Nebrasca, onde para colmatar a falta de árvores a população decidiu dedicar um dia, não fixo, à sua plantação.
Em Portugal, a primeira “Festa da Árvore” ocorreu em 1907, tendo sido muito incentivada e comemorada nos primeiros anos da República, até 1917.
Na ilha de São Miguel terá acontecido o mesmo, tendo em 1914 as comemorações atingido o seu apogeu, com o envolvimento das diversas entidades oficiais e das escolas. De entre as personalidades que apoiaram, participaram ou publicitaram a festa destaco o Marquês de Jácome Correia, Alice Moderno, através do seu jornal “A Folha” e a professora Maria Evelina de Sousa, através da “Revista Pedagógica”.
Em 1971, a FAO estabeleceu o “Dia Mundial da Floresta” como forma de chamar a atenção para o papel da mesma na manutenção da vida na Terra. Três anos depois, em 1974, o dia foi celebrado pela primeira vez em Portugal a 21 de março, o primeiro dia de primavera no hemisfério norte.
Em 2012, por decisão da Assembleia Geral da ONU, o dia 21 de março foi declarado como Dia Internacional das Florestas.
Em 2019, ano declarado pela ONU como Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos, o tema escolhido para as celebrações foi “Florestas e Educação”.
Em Portugal, para o dia 21 de março, a Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) tem uma atividade intitulada “Dia do Carbono 118 árvores para 118 elementos” que consiste na plantação de 118 árvores, o que corresponde a retirar 2,5 toneladas por ano de dióxido de carbono (CO2).
Nos Açores, a Escola Secundária das Laranjeiras, aderiu ao projeto da SPQ, através da exploração dos materiais pedagógicos disponíveis por aquela instituição, da visita ao Jardim do Palácio de Santana e da plantação de árvores.
Tal como o que se passa com os vários dias dedicados a qualquer coisa, celebrar a árvore e a floresta um dia por ano é muito pouco quando nos restantes dias se está a desrespeitar um ser que é vital para a humanidade.
Sabendo-se que a concentração das comemorações do Dia da Árvore/Floresta se concentra nas escolas, onde o público-alvo é mais recetivo, por que razão não se nota uma sensível melhoria no estado em que se encontram as nossas árvores não só nos estabelecimentos de ensino, mas também nos espaços públicos, como arruamentos, estradas, parques de estacionamento, etc.?
Não pretendendo fazer o elenco de todas as causas possíveis, aqui sugiro algumas:
- Falta de sensibilidade por parte de alguns responsáveis por serviços oficiais, governamentais ou camarários;
- Ausência de formação por parte de quem faz as podas, parecendo que por vezes a única possuída é a de por a funcionar uma motosserra;
- O desleixo de quem cuida dos relvados onde se encontram muitas árvores (arbustos), não deixando caldeiras à volta daquelas, fazendo que que as mesmas sejam vítimas das sedas ou dos discos das roçadoras;
- A preguiça de alguns “trabalhadores” que se queixam de muito trabalho na limpeza de alguns recintos devido à queda de folhas ou frutos;
- A ignorância de todos os que pensam que com as podas “radicais”, as árvores ornamentais são fortalecidas, rejuvenescem, tornam-se menos perigosas e o seu cuidado fica mais barato.
Termino com uma citação de Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Teles: “Qualquer supressão de que resulta um aspeto definitivamente mutilado da árvore, deve considerar-se inadmissível visto comprometer definitivamente a finalidade estética da planta ornamental”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 31783, 21 de março de 2019, p. 12)

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