quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Emygdio da Silva e os Jardins de São Miguel em 1893


Emygdio da Silva e os Jardins de São Miguel em 1893

Manuel Emygdio da Silva (1858-1936) foi um técnico ferroviário que trabalhou em várias companhias de caminhos de ferro e, entre 1911 e 1936, foi presidente da direção do Jardim Zoológico de Lisboa.

Distinguiu-se também como publicista, tendo colaborado no Diário de Notícias de Lisboa, onde publicou um conjunto de cartas sobre a ilha de São Miguel que mais tarde foram reproduzidas no livro “São Miguel, em 1893 - Cousas e Pessoas”, editado em Ponta Delgada, na coleção Biblioteca da Autonomia dos Açores.

Depois de referir que os jardins de Ponta Delgada ocupavam um lugar de destaque entre os mais belos jardins que conhecia na Europa, Emygdio da Silva explicou que o do conde de Jácome Correia (Palácio de Santana) distinguia-se “no género dos jardins ingleses”, o José do Canto, como “jardim botânico propriamente dito” e o António Borges “pela fantasiosa imaginação com que foi delineado e plantado”.

Nos três jardins de Ponta Delgada, Emydgio da Silva destaca a “exuberante vegetação que os continentais desconhecem” e a presença “dos mais belos exemplares da flora de todas as regiões”. Relativamente às espécies presentes, no Jardim do Palácio de Santana o destaque é dado a duas palmeiras (Jubaea spectabilis) que segundo ele “não têm menos de oito a dez metros de altura de tronco” e no Jardim José do Canto, para além das camélias, o destaque vai para o bosque de bambus que pela sua grossura não conseguem ser abraçados com ambas as mãos.

Nas Sete Cidades, Emygdio da Silva, visitou o parque adjacente ao Palacete do dr. Caetano de Andrade, ainda hoje digno de uma visita, tendo destacado a presença de “um bosque de 150 araucárias (o primeiro e único que conhecemos) de 16 a 18 anos, atingindo já 10 metros de altura, … bosques de criptomérias, havendo um exemplar desta árvore notável, trazido de Paris, em vaso, por António Borges, em 1854 e cujo tronco tem hoje quase três metros de circunferência, rodondendros com 5 a 6 metros de alto, bordando ruas; acácias de Austrália e outras espécies, camélias gigantescas; muitas espécies de eucaliptos…”.

Em Vila Franca do Campo, o jardim visitado foi o de Sebastião do Canto, avô do Engenheiro Artur do Canto Resendes, que ainda existe, não sabemos se com a área inicial.

De acordo com Enygdio da Silva, o seu proprietário “dava senhoria às begónias, às glicínias e aos caládios, excelência às palmeiras; às musas e às bambúseas, alteza às yucas, aos pandanos e às banksias e reserva tratamento de majestade para os seus magníficos fetos”. De entre os fetos, Sebastião do Canto destacava o Alsophila excelsa (Cyathea brownii), feto endémico da ilha de Norfolk.

Nas Furnas, o destaque vai para o então chamado “Parque das Furnas”, antes “Vila da Murta” e para o Vale dos Fetos.

No primeiro, depois de referir a presença de espécies de todo o mundo, Emygdio da Silva destaca a “representação dos mais notáveis exemplares da flora indígena, a qual por certo não é a que menos interessa o forasteiro do continente”. De entre as espécies da flora açoriana, são mencionadas as seguintes: azevinho, ginjeira-do.mato, o zimbro (cedro-do-mato) e a urze.

O Vale dos Fetos, que ainda pode ser apreciado hoje por quem visitar a Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas, constituía, segundo Emygdio da Silva “a grande atração dos forasteiros”. Sobre a espetacularidade do Vale dos Fetos, Emygdio da Silva escreveu o seguinte:

“O pequeno vale que outra cousa não é senão o fundo de uma grota em que a montanha se fendeu, tem por átrio um delicioso bosque de criptomérias gigantes e estende-se com pronunciada inclinação pelo monte acima. Fetos arbóreos e herbáceos de grande porte, musas, palmeiras, grupos de bambus (bambúseas), araucárias e pandanos com mais de 6m de alto, formam uma florestazinha que dá ao “vale dos fetos” um encanto verdadeiramente mágico. Entre os fetos conta-se as seguintes variedades: Cyathea nigra (grande exemplar muito notável), Cyathea medularis e dialbata, …Alsophila excelsa e australis, … e grande variedade de Pteris”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 31620, 11 de setembro de 2018, p.13)

Sem comentários:

Enviar um comentário