Seda ou sumaúma
No
passado dia 5 de fevereiro, depois de mais de 40 anos a viver no Pico da Pedra,
percorri pela primeira vez, a pé, a Rua do Alecrim, tendo encontrado uma planta
trepadeira sobre um dos muros. É sobre esta espécie o conteúdo do presente
texto.
A
seda, árvore-da-seda ou sumaúma (Araujia sericifera Brot.), que na
Madeira é conhecida por falsa-sumaúma, corriola-de-seda e planta-cruel, é uma trepadeira,
da família Apocynaceae, oriunda do sudeste da América do Sul.
A
seda foi descrita, em 1818, por Félix de Avelar Brotero (1744-1828), botânico
português que, entre outras obras, escreveu o livro “Flora Lusitânica”, onde
identificou cerca de 1800 espécies. O nome genérico, Araujia, é uma
homenagem ao botânico amador António de Araújo e Azevedo que fazia estudos e
experiências no seu jardim botânico e a designação específica, sericifera,
que significa “produtora de seda”, está relacionada com uns “fios” sedosos que
envolvem as sementes no interior dos frutos.
Não
se sabendo quando nem quem a introduziu nos Açores, a seda já fazia parte das
plantas do Jardim de José do Canto, em 1856.
Todas
as fontes consultadas apontam para o facto de a planta ter sido introduzida com
fins ornamentais, tal como aconteceu na Madeira, onde, segundo Raimundo
Quintal, terá sido para lá levada “nos finais do século XVIII ou princípios do
século XIX”, com os objetivos referidos, tendo-se “adaptado ao clima e aos
solos das zonas de menor altitude”.
Em
1966, Ruy Telles Palhinha, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores
mencionava a presença da seda como subespontânea nas ilhas de São Miguel e
Terceira. Na atualidade, segundo o Portal da Biodiversidade dos Açores, a
planta já se encontra em todas as ilhas dos Açores, com exceção do Corvo.
A
seda apresenta caules que podem atingir os 10 m de comprimento ou um pouco
mais. As folhas são opostas, aproximadamente triangulares, com a superfície
lisa na página superior e pubescente na inferior. As flores em forma de funil
ou campânula são brancas, com uma ligeira
coloração rosada, e surgem nos meses de junho
a setembro. Os frutos apresentam uma forma aproximadamente ovoide, podendo ser
confundidos com os das caiotas.
A
seda é uma planta considerada invasora, isto é, afeta negativamente os
ecossistemas naturais e seminaturais, em várias regiões do mundo. Nos Açores, a
seda é uma das plantas que figura no livro “Flora e Fauna Terrestre Invasora na
Macaronésia-TOP 100 nos Açores, Madeira e Canárias”, editado pela Agência
Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma dos Açores, em 2008, sendo
editores Luís Silva, Elizabeth Ojeda Land e Juan Luis Rodriguez Luengo.
Embora
nos Açores o fruto não seja usado na alimentação, o mesmo é “comida muito importante dos índios Payaguás”.
De acordo com a página “Colecionando frutas” (1): “Quando verdes a carne do folículo sem casca e sem a pele
interna com as sementes pode ser cosida e usada da mesma forma que o chuchu
[caiota], em pratos salgados ou como mamão verde em doces.”
De
acordo com Urbano Bettencourt, os “fios” sedosos dos frutos desta planta, que
era conhecida, na Piedade do Pico, por sumaúma, eram usados para encher
almofadas.
Em
São Jorge, segundo José Guilherme T. Machado, a sumaúma também era usada nas
almofadas e de acordo com a tradição oral teria sido trazida do Brasil por
emigrantes.
(1)https://www.colecionandofrutas.com.br/araujiasericifera.htm
Pico
da Pedra, 15 de fevereiro de 2025
Teófilo
Braga
(Voz
Popular, nº 211, março de 2025)