terça-feira, 11 de março de 2025

Seda

 



Seda ou sumaúma

 

No passado dia 5 de fevereiro, depois de mais de 40 anos a viver no Pico da Pedra, percorri pela primeira vez, a pé, a Rua do Alecrim, tendo encontrado uma planta trepadeira sobre um dos muros. É sobre esta espécie o conteúdo do presente texto.

 

A seda, árvore-da-seda ou sumaúma (Araujia sericifera Brot.), que na Madeira é conhecida por falsa-sumaúma, corriola-de-seda e planta-cruel, é uma trepadeira, da família Apocynaceae, oriunda do sudeste da América do Sul.

 

A seda foi descrita, em 1818, por Félix de Avelar Brotero (1744-1828), botânico português que, entre outras obras, escreveu o livro “Flora Lusitânica”, onde identificou cerca de 1800 espécies. O nome genérico, Araujia, é uma homenagem ao botânico amador António de Araújo e Azevedo que fazia estudos e experiências no seu jardim botânico e a designação específica, sericifera, que significa “produtora de seda”, está relacionada com uns “fios” sedosos que envolvem as sementes no interior dos frutos.

 

Não se sabendo quando nem quem a introduziu nos Açores, a seda já fazia parte das plantas do Jardim de José do Canto, em 1856.

 

Todas as fontes consultadas apontam para o facto de a planta ter sido introduzida com fins ornamentais, tal como aconteceu na Madeira, onde, segundo Raimundo Quintal, terá sido para lá levada “nos finais do século XVIII ou princípios do século XIX”, com os objetivos referidos, tendo-se “adaptado ao clima e aos solos das zonas de menor altitude”.

 

Em 1966, Ruy Telles Palhinha, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores mencionava a presença da seda como subespontânea nas ilhas de São Miguel e Terceira. Na atualidade, segundo o Portal da Biodiversidade dos Açores, a planta já se encontra em todas as ilhas dos Açores, com exceção do Corvo.

 

A seda apresenta caules que podem atingir os 10 m de comprimento ou um pouco mais. As folhas são opostas, aproximadamente triangulares, com a superfície lisa na página superior e pubescente na inferior. As flores em forma de funil ou campânula são brancas, com uma ligeira coloração rosada, e surgem nos meses de junho a setembro. Os frutos apresentam uma forma aproximadamente ovoide, podendo ser confundidos com os das caiotas.

 

A seda é uma planta considerada invasora, isto é, afeta negativamente os ecossistemas naturais e seminaturais, em várias regiões do mundo. Nos Açores, a seda é uma das plantas que figura no livro “Flora e Fauna Terrestre Invasora na Macaronésia-TOP 100 nos Açores, Madeira e Canárias”, editado pela Agência Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma dos Açores, em 2008, sendo editores Luís Silva, Elizabeth Ojeda Land e Juan Luis Rodriguez Luengo.

 

Embora nos Açores o fruto não seja usado na alimentação, o mesmo é “comida muito importante dos índios Payaguás”. De acordo com a página “Colecionando frutas” (1): “Quando verdes a carne do folículo sem casca e sem a pele interna com as sementes pode ser cosida e usada da mesma forma que o chuchu [caiota], em pratos salgados ou como mamão verde em doces.”

 

De acordo com Urbano Bettencourt, os “fios” sedosos dos frutos desta planta, que era conhecida, na Piedade do Pico, por sumaúma, eram usados para encher almofadas.

 

Em São Jorge, segundo José Guilherme T. Machado, a sumaúma também era usada nas almofadas e de acordo com a tradição oral teria sido trazida do Brasil por emigrantes.

 

(1)https://www.colecionandofrutas.com.br/araujiasericifera.htm

 

Pico da Pedra, 15 de fevereiro de 2025

 

Teófilo Braga

(Voz Popular, nº 211, março de 2025)

domingo, 9 de março de 2025

Castanheiro-da-índia

 


Castanheiro-da-índia

 

O castanheiro-da-índia ou castanheiro-dos-cavalos (Aesculus x carnea Hayne) é uma planta de origem hortícola (um híbrido entre o Aesculus pavia L., oriundo a América do Norte, e o Aesculus hippocastanum L., originário da Grécia, Albânia e Bulgária. A designação castanheiro-dos-cavalos deve-se ao facto de os turcos darem de comer os frutos da espécie hippocastanum aos cavalos com afeções pulmonares.

 

A designação Aesculus é o nome latino de azinheira e carnea provém do latim e significa da cor da carne, que é a cor das suas flores.

 

Sobre a origem do híbrido, que é fértil, há quem afirme que foi descoberto na Alemanha em 1812. Saraiva (2020), por sua vez, informa que o mesmo terá sido obtido antes de 1818 e que é desconhecida a data da sua introdução em Portugal.

 

Em 1849, no nº 13 d’ “O Agricultor Michaelense”, referente ao mês de janeiro, foi publicada uma notícia onde se afirma que é possível fazer pão a partir do castanheiro-da-índia e que se pode extrair da farinha dos seus frutos “uma gomma tão branca e pura como a da batata e que por não ter travo algum, de certo virá a substituir aquela”. No mesmo texto é afirmado que existiam poucos castanheiros-da-índia nas ilhas, mas que em Portugal continental eram muito vulgares.

 

Em 1856, a espécie Aesculus hippocastanum já existia no Jardim Botânico José do Canto e, entre maio de 1865 e setembro de 1867, foi plantada no mesmo jardim a espécie Aesculus californica nativa da Califórnia e do sudoeste do Oregon. 

 

O castanheiro-da-índia é uma árvore de folha caduca, que tem um crescimento lento ou médio, podendo atingir 25m de altura. O tronco tem fissuras rosadas, ficando gretado com os anos e apresenta uma casca verde-cinzenta escura. A copa é arredondada e as folhas são opostas, grandes, verde-escuras na página superior e mais claras na página inferior, rugosas, palmadas, compostas por cinco a sete folíolos ovais, com a margem serrilhada, ficando amarelo-acastanhadas antes da queda no Outono. A floração ocorre de abril a junho e as flores são rosa-avermelhadas. Os frutos são capsulares com espinhos, com duas a três sementes pequenas.

 

De acordo com Saraiva (2020) a multiplicação desta planta pode fazer-se por semente, por enxerto em Aesculus hippocastanum ou por estaquia.

 

O castanheiro-da-índia é usado essencialmente como planta ornamental e de sombra. A madeira também pode ser aproveitada e as sementes podem ser usadas no consumo humano, mas podem ser tóxicas se forem ingeridas em grandes quantidades. A espécie possui propriedades ansiolíticas.

 

Vários autores fazem referência às propriedades medicinais e usos da espécie Aesculus hippocastanum. Cunha, Silva e Roque (2003) referem como principais utilizações o tratamento de hemorroidas e varizes e indicam os seguintes usos etnomédicos e médicos: “Na insuficiência venosa crónica dos membros inferiores, hemorroidal, edemas, luxações. A casca e as folhas, mais em diarreias e inflamações orofaríngeas. Externamente em dores musculares, nevralgias e varizes”. Lyon de Castro (1981) refere que a planta também se emprega no tratamento da hipertrofia da próstata.

 

A farinha da espécie referida no parágrafo anterior, segundo os autores do livro “Segredos e virtudes das plantas medicinais” editado em 1983, pelas Selecções do Reader’s Digest, “é utilizada em cosmética, pois torna a pelo brilhante, e a polpa, no fabrico de sabões. Misturado na água das regas, o pó de castanhas afasta as minhocas dos vasos de flores. Da casca da árvore obtém-se uma tinta vermelha.

 

Na ilha de São Miguel é possível encontrar o Aesculus x carnea no Jardim António Borges, no Jardim Padre Sena Freitas-Ponta Delgada, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim Botânico José do Canto, no Pinhal da Paz e na Mata-Jardim José do Canto, na margem sul da Lagoa das Furnas, bem como noutros jardins públicos e privados. Só identificamos a presença do Aesculus pavia no Parque Terra Nostra e o Aesculus hippocastanum pode ser observado, entre outros locais, na Mata do Dr. Fraga, na Maia, e na Mata-Jardim José do Canto- Lagoa das Furnas.

 

9 de março de 2025