domingo, 31 de agosto de 2025
quinta-feira, 14 de agosto de 2025
As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)
As plantas na medicina
popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)
Numa
consulta que fiz ao volume IV de “A Vila”, da autoria de Urbano de Mendonça
Dias, encontrei um muito interessante capítulo intitulado “Medicina Popular”. A
partir dele extrai apenas as informações relativas ao uso das plantas nos
tratamentos de diversos problemas de saúde, tendo atualizado os nomes
científicos.
Quem foi
Urbano de Mendonça Dias?
Foi
um jurista, pedagogo, escritor, etnógrafo e político conservador natural de
Vila Franca do Campo.
Foi
autor de diversos obras sobre a história dos Açores e cultura popular, de que
destacamos “A vida dos nossos avós - Estudos
etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e “A Vila
- Publicação Histórica de Vila Franca do Campo”.
Talvez a sua maior obra terá sido a fundação do
Instituto de Vila Franca, mais tarde designado Externato de Vila Franca do
Campo, responsável pela instrução de muitos vila-franquenses depois da então denominada
então escola primária.
As
plantas na medicina popular
A
casca da romã ou romãzeira (Punica granatum) quando tomada “em
jejum, durante nove dias seguidos, cura as bronquites asmáticas.”
Para curar a
tosse, são usadas várias plantas, como a salva (Salvia officinalis),
em infusão, tal como o limão (Citrus limon), a perpétua [pode
ser a perpétua-roxa (Gomphrena globosa)], a sempre-viva ou perpétua-silvestre
(Helichrysum luteoalbum), o suspiro-branco (Cephalaria leucanta) e o xarope de agrião (Barbarea verna) [poderá ser o agrião-de-água
(Nasturtium officinale)].
Com fins diuréticos,
são usadas infusões de folhas de salsa (Petroselium crispum) ou de
barbas de milho (Zea mays].
Para combater as dores
de barriga são usadas infusões de poejo (Mentha pulegium), de canela
(Cinnamomum
verum), a casca
da laranja-azeda (Citrus aurantium), urzela (Rocella
fuciformis) ou usai-dela (Chenopodium ambrosioides).
Para curar a cobrela [herpes zóster] era
usado o óleo obtido a partir da queima do trigo (Triticum aestivum)
ou o limão.
Para curar as dores de cabeça, são enumeradas algumas partes
de plantas ou frutos. Assim, um dos processos consiste “colocar uma casca de
limão nas fontes e na testa ou friccionar estas mesmas partes com vinagre ou
mostarda (Sinapis nigra) [Brassica nigra]”. Também pode ser, através
da considerada “a mais típica medicina da Ilha”, do seguinte modo: dispõe-se
“em cruz, sobre a cabeça, dous galhos de Arruda (Ructa bracteosa) [Ruta
chalepensis], tostados em brazas vivas, atando-se por sobre isto um lenço,
que pouco tempo depois as dores de cabeça terão desaparecido, graças a tão
inofensivo medicamento.”
Para estancar o sangue do nariz, esmagam-se folhas de salsa e
tapava-se a narina de onde provém a hemorragia.
No que diz respeito a problemas relacionados com o coração são
usadas infusões de folhas de laranjeira ou cascas de laranjas ou cidreira
(Melissa officinalis).
As dores de estômago são tratadas com infusões de flores de fel-da-terra
(Centaurium erythraea), de macela (Chamaeamelum nobile),
de agrimónia (Agrimonia eupatoria) ou de rainha-das-ervas (Tanacetum parthenium).
Para o tratamento de golpes, arranhões e eczemas é usada a
goma da espadana (Phormium tenax) ou o suco das folhas pisadas do
rabo-de-asno (Equisetum telmateia), do saião (Aeonium
arboreum) e do fel-da-terra (Centaurium erythraea). No tratamento
dos eczemas é usada a infusão de coquilho ou conteira (Canna indica).
Para a cura de hemorroidas e soltura [diarreia] é aconselhada
a infusão de folhas de araçazeiro (Psidium cattleianum), de erva-do-bom-pastor
(Capsella bursa-pastoris), de amoras, frutos da silva (Rubus ulmifolius)
ou banhos de fava-da-cova (Parietaria judaica).
A colocação de um pedaço de folha de couve (Brassica oleracea) sobre um furúnculo faz com que ele rebente.
Para combater a solitária é polvilhada uma talhada de abóbora-menina
(Cucurbita maxima) com açúcar, coloca-se no forno a assar e toma-se o
suco que vai destilando. Outro processo consiste em usar o cozimento das folhas
do feto-macho (Dryopteris filix-mas).
Entre os tratamentos para as dores de dentes, são referidos
os seguintes: bochechar a infusão de papoulas (Papaver sp.) e
receber vapores da infusão de alecrim (Rosmarinus officinalis).
No que diz respeito à inflamação da garganta um dos melhores
remédios consiste no “cozimento de malvas [Malva multiflora] em
água, ou melhor em leite, e gargarejado.
Contra as dores de ouvidos é aconselhado injetar no ouvido
suco de alho (Allium sativum) assado.
Para debelar as febres é usada uma infusão de avenca (Adiantum
capillus-veneris) ou de sabugueiro ou rosa-de-bem-fazer (Sambucus
nigra).
A erva-molarinha (Fumaria muralis) é empregada,
em infusão para amaciar a pele. Para tratar inflamações cutâneas usa-se o
cozimento de violetas-roxas (Saintpaulia ionantha?)
Para fazer crescer o cabelo aplica-se o suco de urtiga (Urtica
membranacea). Com mesmo fim, usa-se o cozimento de
folhas de nogueira (Juglans regia) que também tira a caspa.
Os incómodos
intestinais são tratados com o cozimento de folhas de nogueira ou com o
cozimento de erva-piolha (Delphinium staphisagria). As bichas [lombrigas] são eliminadas usando um
infuso de hortelã-pimenta (Mentha x piperita).
As hemorragias uterinas são tratadas com infusões de erva-do-bom-pastor
(Capsella bursa-pastoris), de sempre-noiva (Polygonum
aviculare), de losna (Artemisia absinthium) ou de erva-sabina
(?)
Por último, para combater o reumatismo, são
aconselhadas fricções dos infusos de folhas de gigante (Acanthus
molis) ou de uma maceração de folhas de eucalipto (Eucalyptus
globulus) em álcool.
Bibliografia
Braga, T. (2023). As plantas na Medicina Popular nos Açores.
Ponta Delgada, Letras Lavadas.
Dias, U. (s/d). A Vila, volume IV. Ponta Delgada.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Urbano_de_Mendon%C3%A7a_Dias
https://www.worldfloraonline.org/
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Cipreste-dos-cemitérios
Cipreste-dos-cemitérios
O
cipreste, cipreste-mediterrânico, cipreste-dos-cemitérios ou cipreste-comum (Cupressus
sempervirens L.) é uma conífera perene da família Cupressaceae oriunda da
região mediterrânica, sendo amplamente cultivada pelo seu valor ornamental,
histórico e simbólico.
De
acordo com alguns autores terá sido introduzido em Portugal pelos romanos,
segundo outros terão sido os navegadores fenícios a trazê-lo a partir do Chipre
e de Creta. No território de Portugal continental o cipreste passou a ser comum
nos cemitérios desde meados do século XIX, como substituto do teixo (Taxus
baccata).
O
cipreste é uma árvore que pode atingir alturas entre 20 e 35 m, em média, e uma
longevidade que pode viver 500 anos, existindo alguns exemplares com mais de
mil.
As folhas são pequenas, em forma de
escamas, de cor verde-escura. Os ramos crescem densamente ao longo do tronco e
das extremidades, conferindo à árvore o seu aspeto compacto e adelgaçado.
As flores, que surgem na Primavera,
são muito pequenas e amareladas, apresentando uma forma semelhante a uma pinha.
Os frutos, primeiro verdes e depois
acinzentados são lenhosos, arredondados, com cerca de 2 a 4 cm de diâmetro,
contendo sementes que podem permanecer viáveis durante vários anos.
A madeira do cipreste é aromática,
resistente à humidade e à decomposição, sendo utilizada, em carpintaria e
marcenaria, na construção de móveis, portas e arte sacra. Sobre o assunto,
Félix (2025) escreveu o seguinte:
“Consta que
os fenícios construíram com a minha madeira a armada com que navegaram até à
costa portuguesa. As portas da original Basílica de São Paulo em Roma tiveram o
meu ADN, por ordem de Constantino, o Grande. O ataúde interior da urna do Papa João Paulo II é de madeira de
cipreste.”
De acordo com
Cunha, Silva e Roque (2003), com fins medicinais são usadas as “gálbulas não
maduras [infrutescência
(ou fruto, para alguns autores) subesférica, pequena, em regra lenhosa, com
escamas peltadas], por vezes os rebentos recentes”. Sobre os usos etnomédicos e
médicos, os autores referidos escreveram o seguinte: “… É tradicionalmente
usado nas insuficiências venosas (varizes, tromboflebites) e na sintomatologia
hemorroidal; como expectorante nas bronquites. Externamente, em úlceras
varicosas, inflamações e nevralgias cutâneas ou osteoarticulares; o óleo
essencial é usado, pela sua acção queratolítica, na eliminação das verrugas.”
Desconhece-se a data da chegada aos
Açores nem o responsável pela sua introdução. Hoje, na ilha de São Miguel é
possível encontrar ciprestes em vários jardins públicos e privados e em
cemitérios, de que são exemplos o Jardim do Palácio de Santana e o Cemitério de
São Joaquim, em Ponta Delgada.
Na ilha de São Miguel existem várias
plantas da família Cupressaceae,
que possui mais de 20 géneros e de 140 espécies. Do género Cupressus,
no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, pode ser encontrado o cedro-de-goa
(Cupressus lusitanica Mill.), oriundo de uma região que vai do México
até às Honduras, e o cedro-de-monterrey (Cupressus macrocarpa Hartw. X
Gordon), nativo da Califórnia (EUA).
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Tipuana
Tipuana
A
tipuana ou amendoim-acácia (Tipuana tipu (Benth.) Kuntze)) é uma árvore, da família
Fabacae, oriunda da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia),
sendo comum nos Andes em altitudes que podem atingir 2 900 metros.
Desconhecemos quando e quem introduziu a tipuana
nos Açores, não constando das listas elaboradas, quer por José do Canto, quer
por António Borges, no século XIX. Não excluímos a hipótese de ter sido
introduzida muito mais tarde, já no século XX.
A tipuana é uma árvore de folha caduca,
sendo por vezes semipersistente, com copa larga em forma de guarda-chuva, que
pode atingir uma altura de 40 m, sendo em geral um pouco mais baixa. Apresenta
folhas compostas, com folíolos ovais, verde-claros. As flores amarelo-alaranjadas,
muito apreciadas pelas abelhas, apresentam-se enrugadas. Os frutos são vagens
com apenas uma semente avermelhada.
A árvore fixa o nitrogénio atmosférico e
as suas folhas e flores ao caírem melhoram a textura do solo e o seu teor em nutrientes
o que aliado ao seu crescimento rápido fazem com que seja muito útil em projetos
de reflorestação. A tipuana pode ser plantada para fornecer abrigo contra o
vento, mas como apresenta raízes superficiais, há o risco do seu derrube por
ventos fortes.
A tipuana reproduz-se muito bem por
sementes que depois de secas, podem manter a sua viabilidade por vários anos
mantidas à temperatura ambiente. As sementes devem ser colocadas em viveiro e
cobertas com uma camada de substrato ou areia, com espessura máxima de 3 mm,
levando a germinação de 10 a 30 dias.
A resina vermelha exsudada da casca é
rica em taninos, podendo ser usada como corante. A sua madeira é resistente e
fácil de trabalhar, podendo ser utilizada, em carpintaria, no fabrico de móveis
diversos e também como combustível e no fabrico de carvão.
De acordo com Saraiva (2020), em Portugal
continental, existem vários exemplares notáveis em jardins, como o Jardim
Botânico e Jardim Vasco da Gama, bem como em algumas praças, de que são exemplo
a Praça de São Bento e a Praça Duque de Saldanha, em Lisboa.
Na ilha da Madeira, segundo Raimundo Quintal (2022)
a tipuana pode ser encontrada na Avenida de Zarco, na Avenida do Mar, na Rua
Pedro José Ornelas, na Estrada Monumental, no Jardim Municipal do Funchal, na
Quinta das Cruzes, no Parque de Santa Catarina, na Mata da Nazaré, no Jardim da
Universidade, no Passeio Público Marítimo- Funchal, no Jardim de Santa Luzia,
no Miradouro da Vila Guida e no Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira.
Nos Açores, nomeadamente em São Miguel, não se
conhece qualquer uso da tipuana, para além do ornamental.
Na ilha de São Miguel é possível encontrar alguns
exemplares no Jardim da Universidade dos Açores e no Jardim Botânico José do
Canto, ambos em Ponta Delgada, bem como na Avenida da Liberdade, em Vila Franca
do Campo e na Radial do Pico de Funcho, na Fajã de Baixo.
Teófilo Braga
1 de agosto de 2025
sexta-feira, 18 de julho de 2025
A IRIS-Açores, o PAN e o Regime Jurídico de Classificação do Arvoredo de Interesse Público
A IRIS-Açores, o PAN e o Regime
Jurídico de Classificação do Arvoredo de Interesse Público
O
Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional de Ambiente tomou
conhecimento, através de alguns órgãos de comunicação social, de um
requerimento do PAN a questionar o Governo Regional dos Açores sobre a
aplicação do Decreto Legislativo Regional nº 27/2022/A,
que criou o Regime Jurídico de
Classificação de Arvoredo de Interesse Público na Região Autónoma dos Açores.
O Núcleo
Regional dos Açores da IRIS recorda que foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia Legislativa Regional, o Projeto de Decreto Legislativo Regional n.º 72/XII –
“Regime jurídico de classificação do arvoredo de interesse público na Região
Autónoma dos Açores”, apresentado pelos Grupos Parlamentares do PS, PSD,
CDS-PP, BE, PPM e pela Representação Parlamentar do PAN e que tal como estava
legislado no artigo 23º, o Governo Regional dos Açores tinha a obrigação de
proceder à sua regulamentação nos 60 dias após a sua publicação.
O Núcleo Regional dos Açores da IRIS saúda a
iniciativa do PAN que, entre as questões efetuadas, pretende saber o número de
exemplares e conjuntos arbóreos registados, o número de pedidos indeferidos ou
excluídos e o número de pedidos a solicitar a classificação.
O Núcleo Regional dos Açores lamenta a inação
do Governo Regional ao não proceder à Regulamentação do Decreto
Legislativo Regional nº 27/2002/A, tornando inviável qualquer proteção de exemplares arbóreos notáveis, de elevado
valor ecológico, cultural, social e paisagístico, assegurando a salvaguarda do
património arbóreo da região através da sua identificação, preservação,
fiscalização e gestão adequada.
Finalmente, o Núcleo Regional dos Açores da
IRIS comunica que no prazo de um mês após a regulamentação da legislação já
mencionada irá apresentar uma lista de árvores a classificar, algumas delas
incluídas numa lista da autoria do Doutor Raimundo Quintal, publicada no
catálogo “Plantas e Jardins : A paixão pela horticultura ornamental na ilha de
São Miguel”, editado em 2019, pelo Green Gardens Azores e pela Direção Regional
da Cultura- Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, em 2019,
sob a coordenação da Doutora Isabel Soares de Albergaria.
Açores,
18 de julho de 2025
O
Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional de Ambiente
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Rainha-das-ervas
Rainha-das-ervas
A rainha-das-ervas, eduardas, artemísia-dos-prados, matricária ou artemija (na Madeira) (Tanacetum parthenium (L.) Schultz-Bio., da família Asteraceae, é uma planta herbácea vivaz oriunda do sueste da Europa que, hoje está espalhada por toda a Europa, na Austrália e na América do Norte. Nos Açores, a rainha-das-ervas foi introduzida, encontrando-se naturalizada em todas as ilhas, exceto no Corvo.
Desconhece-se a principal razão da sua introdução no nosso arquipélago, podendo ser devido ao seu uso na medicina tradicional ou à sua utilização como planta ornamental.
A rainha-das-ervas é uma planta aromática que pode atingir um metro de altura, com caule ramificado, com folhas ovadas a oblongas, dentadas e pubescentes. As flores do disco são amarelas, possuindo lígulas dentadas brancas.
Na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, a rainha-das-ervas era cultivada nos quintais, sendo usada essencialmente para ornamentar as casas. Na Ribeira Seca da Ribeira Grande, de acordo com o Eng.º José António Pacheco, a planta é usada anualmente para enfeitar o altar de São Pedro, durante as tradicionais Cavalhadas.
Na ilha Terceira, segundo Augusto Gomes (1993), a rainha-das-ervas era usada na “contenção da urina”, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo era utilizada para combater as “dores de cabeça”: Na ilha das Flores, era usada para tirar dores diversas e nos partos.
Na freguesia da Fajã da Ovelha, na ilha da Madeira, segundo Freitas e Mateus (2013) são os seguintes os usos da rainha das ervas: “Chá para urinar e problemas de rins, vesícula, próstata e infeções na bexiga. Utilizado em mistura com cabelo de milho.”
De acordo com Cunha, Ribeiro e Roque (2017) as principais utilizações da rainha-das ervas são:
“Em fitoterapia, é empregue como aperitivo e em dispepsias hipossecretoras. Reduz a frequência e duração das enxaquecas, acção atribuida às lactonas. É usada em combinação com outas plantas em artites e dores reumáticas.
Em cosmética são usados cremes com extracto glicólico da parte aérea em flor para peles inflamadas e peles secas.”
De acordo com o livro “Culpeper’s Colour Herbal (1983) embora as virtudes da rainha-das-ervas sejam conhecidas há muitos século, apenas há alguns anos a planta chamou à atenção pelo facto de ser um medicamento eficaz para o tratamento das dores de cabeças e enxaquecas.
Uma sugestão de tratamento consiste em colocar uma ou duas folhas de rainha-das-ervas em sanduiches, tendo em atenção que algumas pessoas mais sensíveis possam desenvolver bolhas na boca.
No mesmo livro é referido que a rainha-das-ervas “é antipirética e induz à transpiração, diminuindo assim a temperatura em casos de febre.
Pico da Pedra, 4 de julho de 2025
Teófilo (Soares) Braga
terça-feira, 17 de junho de 2025
Anoneira
A ANONEIRA
A frequência de uma formação sobre a poda na cultura
da anoneira, em que entre os formandos estavam dois pico-pedrenses e em que a
formadora também era do Pico da Pedra, levou-me a escrever o presente texto que
disponibilizo aos leitores da “Voz Popular”.
A anoneira (Annona cherimola Mill.), também conhecida por coração-negro ou
coração-de-negro, é uma árvore ou arbusto de porte médio, pertencente à família
Annonaceae.
A
anoneira pode atingir dez metros de altura se crescer livremente. O tronco
cilíndrico apresenta uma casca de cor verde acinzentada. As folhas são de forma
variada, podendo ser ovais, ovais-lanceoladas, obovadas ou elípticas, de cor
verde-escuro na página superior e de um verde mais claro na inferior. As
flores, muito aromáticas, são de cor creme. Os frutos apresentam várias formas,
sendo as mais comuns a cónica, a esférica e a oval. A polpa é branca e as
sementes são de cor castanho-escura ou preta,
A anoneira terá chegado aos Açores no século XIX, não
se sabendo quem foi o introdutor. No entanto, sabe-se que em 1857, já existiam
no Jardim Botânico José do Canto cinco “variedades”.
Em 1953, a anoneira fazia parte da lista das
“Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente
Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora
dos Cereais do Arquipélago dos Açores.
Vinda
da América do Sul, onde os seus frutos “em tempos muito antigos” eram
“abundante comida das populações locais”, a anoneira atravessou o Oceano
Atlântico e chegou à Europa, onde hoje é muito apreciada. Em Portugal, é
cultivada sobretudo no arquipélago da Madeira e também nos Açores.
De acordo com
Capelinha (2018) “a produção da anona na Madeira permanece desde a sua
colonização, devido às suas condições edafoclimáticas, combinadas com as
técnicas de cultivo e o conhecimento da população, fazendo com que a anona da
Madeira se inclua na designação de denominação de origem protegida (DOP). Esta
contribui de forma significativa para o desenvolvimento económico com uma
produção anual de 1000 toneladas/ano, a Madeira tem como principais mercados, o
Continente, França, Espanha e Inglaterra, tornando-se o fruto mais exportado,
após a banana.”
Sobre
a propagação da planta, o Eng.º Manuel Moniz da Ponte escreveu o seguinte:
“a multiplicação da anoneira faz-se por sementeira e
enxertia. Quando se tem como objectivo a manutenção das características
varietais das variedades seleccionadas, tem de se recorrer à propagação
vegetativa e em particular à enxertia de garfo sobre porta-enxertos francos.
O tipo de enxertia mais utilizado é de “fenda cheia”,
decorrendo durante os meses de Março a Maio”. (https://almanaqueacoriano.com/index.php/artigos/24-pomar/1073-a-anoneira).
A anoneira é cultivada essencialmente pela
excelência dos seus frutos que, de acordo com o Dr. Oliveira Feijão, são
adstringentes.
Uma
referência ao uso das folhas secas, do córtex e dos frutos da anoneira, nos
Açores, encontra-se no livro “Algumas plantas medicinais dos Açores” da autoria
de Yolanda Corsépius. Segundo ela, a planta possui propriedades estomacais e
antidiarreicas.
Num texto intitulado “Propriedades Farmacológicas da
Annona cherimola Mill.” (https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/84542),
da autoria de Bianca Capelinha, datado de 2018, podemos ler que o fruto, a raiz,
a casca, as folhas e as sementes
da anoneira têm sido usados tradicionalmente em várias regiões do planeta,
sobretudo na América Latina.
Assim:
- Os frutos
podem ser consumido frescos e utilizados na produção de iogurtes, gelados,
sumos, vinho e licores;
- A decocção
da casca é usada como tónico e para tratar a diarreia;
- A raiz
mastigada é usada para aliviar a dor de dentes e usada em decocção com funções
anti-helmínticas e antipiréticas;
- Nos
Açores, as folhas são tradicionalmente utilizadas para tratar
hipercolesterolemia.
Pico da
Pedra, 12 de maio de 2025
Teófilo
Braga
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Viburno-doce
Viburno-doce
O
viburno-doce ou viburno-cheiroso (Viburnum odoratissimum Ker Gawl.) é
uma pequena árvore ou arbusto grande, perenifólio, pertencent à família
Adoxaceae, oriundo da Ásia oriental e tropical (Japão, China, Vietname,
Tailândia, Malásia e Índia).
O
nome Viburnum tem origem no latim
clássico, e era utilizada pelos antigos romanos para
designar várias espécies de arbustos (IA). O nome científico odoratissimum
também deriva do latim e significa "muito
perfumado". Esta designação pode referir-se ao forte aroma libertado pela folhagem quando é cortada
ou esmagada, além do perfume intenso das suas flores.
O
viburno-doce pode atingir uma altura de 9 m. As suas folhas, que são brilhantes
e elípticas, podem ter até 20 cm de comprimento. As flores, que surgem nos
meses de março, abril e maio, são brancas, perfumadas, dispostas em cachos em
forma piramidal. Os frutos são bagas vermelhas que escurecem até ficarem
pretas quando amadurecem.~
O vibruno-doce é
usado como planta ornamental é parques e jardins, mas também é utilizado em
sebes e barreiras naturais, devido à sua folhagem densa e ao seu crescimento
rápido. Os apicultores também podem a ele recorrer, pois as suas flores são muito
apreciadas pelas abelhas.
O viburno-doce que,
prefere sólos húmidos, mas bem drenados e locais bem expostos ao sol ou
meia-sombra, aceita bem a poda, podendo ser moldado de acordo com as
preferências do seu cultivador.
Tal como acontece com
muitas plantas, não se conhece com exatidão quem introduziu e quando o
viburno-doce nos Açores. Contudo, sabe-se que José do Canto, em 1856, já
possuia esta espécie, bem como várias outras do mesmo género, no seu jardim em
Ponta Delgada.
Na
ilha de São Miguel é possível encontrar o viburno-doce no Jardim António
Borges, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim da Uivrsidade dos Açores, no
Jardim de Santa Cruz (Lagoa) e no Jardim Padre Fernando Gomes (Santa Clara).
terça-feira, 11 de março de 2025
Seda
Seda ou sumaúma
No
passado dia 5 de fevereiro, depois de mais de 40 anos a viver no Pico da Pedra,
percorri pela primeira vez, a pé, a Rua do Alecrim, tendo encontrado uma planta
trepadeira sobre um dos muros. É sobre esta espécie o conteúdo do presente
texto.
A
seda, árvore-da-seda ou sumaúma (Araujia sericifera Brot.), que na
Madeira é conhecida por falsa-sumaúma, corriola-de-seda e planta-cruel, é uma trepadeira,
da família Apocynaceae, oriunda do sudeste da América do Sul.
A
seda foi descrita, em 1818, por Félix de Avelar Brotero (1744-1828), botânico
português que, entre outras obras, escreveu o livro “Flora Lusitânica”, onde
identificou cerca de 1800 espécies. O nome genérico, Araujia, é uma
homenagem ao botânico amador António de Araújo e Azevedo que fazia estudos e
experiências no seu jardim botânico e a designação específica, sericifera,
que significa “produtora de seda”, está relacionada com uns “fios” sedosos que
envolvem as sementes no interior dos frutos.
Não
se sabendo quando nem quem a introduziu nos Açores, a seda já fazia parte das
plantas do Jardim de José do Canto, em 1856.
Todas
as fontes consultadas apontam para o facto de a planta ter sido introduzida com
fins ornamentais, tal como aconteceu na Madeira, onde, segundo Raimundo
Quintal, terá sido para lá levada “nos finais do século XVIII ou princípios do
século XIX”, com os objetivos referidos, tendo-se “adaptado ao clima e aos
solos das zonas de menor altitude”.
Em
1966, Ruy Telles Palhinha, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores
mencionava a presença da seda como subespontânea nas ilhas de São Miguel e
Terceira. Na atualidade, segundo o Portal da Biodiversidade dos Açores, a
planta já se encontra em todas as ilhas dos Açores, com exceção do Corvo.
A
seda apresenta caules que podem atingir os 10 m de comprimento ou um pouco
mais. As folhas são opostas, aproximadamente triangulares, com a superfície
lisa na página superior e pubescente na inferior. As flores em forma de funil
ou campânula são brancas, com uma ligeira
coloração rosada, e surgem nos meses de junho
a setembro. Os frutos apresentam uma forma aproximadamente ovoide, podendo ser
confundidos com os das caiotas.
A
seda é uma planta considerada invasora, isto é, afeta negativamente os
ecossistemas naturais e seminaturais, em várias regiões do mundo. Nos Açores, a
seda é uma das plantas que figura no livro “Flora e Fauna Terrestre Invasora na
Macaronésia-TOP 100 nos Açores, Madeira e Canárias”, editado pela Agência
Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma dos Açores, em 2008, sendo
editores Luís Silva, Elizabeth Ojeda Land e Juan Luis Rodriguez Luengo.
Embora
nos Açores o fruto não seja usado na alimentação, o mesmo é “comida muito importante dos índios Payaguás”.
De acordo com a página “Colecionando frutas” (1): “Quando verdes a carne do folículo sem casca e sem a pele
interna com as sementes pode ser cosida e usada da mesma forma que o chuchu
[caiota], em pratos salgados ou como mamão verde em doces.”
De
acordo com Urbano Bettencourt, os “fios” sedosos dos frutos desta planta, que
era conhecida, na Piedade do Pico, por sumaúma, eram usados para encher
almofadas.
Em
São Jorge, segundo José Guilherme T. Machado, a sumaúma também era usada nas
almofadas e de acordo com a tradição oral teria sido trazida do Brasil por
emigrantes.
(1)https://www.colecionandofrutas.com.br/araujiasericifera.htm
Pico
da Pedra, 15 de fevereiro de 2025
Teófilo
Braga
(Voz
Popular, nº 211, março de 2025)
domingo, 9 de março de 2025
Castanheiro-da-índia
Castanheiro-da-índia
O castanheiro-da-índia
ou castanheiro-dos-cavalos (Aesculus x carnea Hayne) é uma planta de
origem hortícola (um híbrido entre o Aesculus pavia L., oriundo a
América do Norte, e o Aesculus hippocastanum L.,
originário da Grécia, Albânia e Bulgária. A designação castanheiro-dos-cavalos
deve-se ao facto de os turcos darem de comer os frutos da espécie hippocastanum
aos cavalos com afeções pulmonares.
A designação Aesculus
é o nome latino de azinheira e carnea provém do latim e significa da
cor da carne, que é a cor das suas flores.
Sobre a origem do híbrido, que é fértil, há quem
afirme que foi descoberto na Alemanha em 1812. Saraiva (2020), por sua vez,
informa que o mesmo terá sido obtido antes de 1818 e que é desconhecida a data
da sua introdução em Portugal.
Em 1849, no nº 13 d’ “O
Agricultor Michaelense”, referente ao mês de janeiro, foi publicada uma notícia
onde se afirma que é possível fazer pão a partir do castanheiro-da-índia e que
se pode extrair da farinha dos seus frutos “uma gomma tão branca e pura como a
da batata e que por não ter travo algum, de certo virá a substituir aquela”. No
mesmo texto é afirmado que existiam poucos castanheiros-da-índia nas ilhas, mas
que em Portugal continental eram muito vulgares.
Em 1856, a espécie Aesculus
hippocastanum já existia no Jardim Botânico José do Canto e, entre maio de
1865 e setembro de 1867, foi plantada no mesmo jardim a espécie Aesculus californica
nativa da Califórnia e do sudoeste
do Oregon.
O castanheiro-da-índia é uma árvore
de folha caduca, que tem um crescimento lento ou médio, podendo atingir 25m de
altura. O tronco tem fissuras rosadas, ficando gretado com os anos e apresenta
uma casca verde-cinzenta escura. A copa é arredondada e as folhas são opostas,
grandes, verde-escuras na página superior e mais claras na página inferior,
rugosas, palmadas, compostas por cinco a sete folíolos ovais, com a margem
serrilhada, ficando amarelo-acastanhadas antes da queda no Outono. A floração
ocorre de abril a junho e as flores são rosa-avermelhadas. Os frutos são
capsulares com espinhos, com duas a três sementes pequenas.
De acordo com Saraiva
(2020) a multiplicação desta planta pode fazer-se por semente, por enxerto em Aesculus
hippocastanum ou por estaquia.
O castanheiro-da-índia
é usado essencialmente como planta ornamental e de sombra. A madeira também
pode ser aproveitada e as sementes podem ser usadas no consumo humano, mas
podem ser tóxicas se forem ingeridas em grandes quantidades. A espécie possui
propriedades ansiolíticas.
Vários autores fazem
referência às propriedades medicinais e usos da espécie Aesculus
hippocastanum. Cunha, Silva e Roque (2003) referem como principais
utilizações o tratamento de hemorroidas e varizes e indicam os seguintes usos
etnomédicos e médicos: “Na insuficiência venosa crónica dos membros inferiores,
hemorroidal, edemas, luxações. A casca e as folhas, mais em diarreias e
inflamações orofaríngeas. Externamente em dores musculares, nevralgias e
varizes”. Lyon de Castro (1981) refere que a planta também se emprega no
tratamento da hipertrofia da próstata.
A farinha da espécie
referida no parágrafo anterior, segundo os autores do livro “Segredos e
virtudes das plantas medicinais” editado em 1983, pelas Selecções do Reader’s
Digest, “é utilizada em cosmética, pois torna a pelo brilhante, e a polpa, no
fabrico de sabões. Misturado na água das regas, o pó de castanhas afasta as
minhocas dos vasos de flores. Da casca da árvore obtém-se uma tinta vermelha.
Na ilha de São Miguel é
possível encontrar o Aesculus x carnea no Jardim António Borges, no
Jardim Padre Sena Freitas-Ponta Delgada, no Jardim do Palácio de Santana, no
Jardim Botânico José do Canto, no Pinhal da Paz e na Mata-Jardim José do Canto,
na margem sul da Lagoa das Furnas, bem como noutros jardins públicos e
privados. Só identificamos a presença do Aesculus pavia no Parque Terra
Nostra e o Aesculus hippocastanum pode ser observado, entre outros
locais, na Mata do Dr. Fraga, na Maia, e na Mata-Jardim José do Canto- Lagoa das
Furnas.
9 de março de 2025