quarta-feira, 19 de junho de 2024

Árvore-da-borracha-australiana

 


Árvore-da-borracha-australiana

 

 

A árvore-da-borracha-australiana, figueira-da-austrália ou figueira-estranguladora (Ficus macrophylla Desf.ex Pers.) é uma espécie, da família Moraceae, originária das florestas chuvosas da costa leste da Austrália.

 

A árvore-da-borracha-australiana pode atingir mais de 30 m de altura e possui um tronco acinzentado. “Do tronco principal saem junto ao solo “raízes tabulares” como que escoras que melhor prendem a árvore ao chão e que atingem grande desenvolvimento” (Saraiva, 2020).

 

As suas folhas são grandes, com cerca de 10 a 25 cm de comprimento e cerca de 7 a 12 cm de largura, coriáceas que são verde-escuras na página superior e ferrugíneas na página inferior.

 

Os seus frutos, os figos, que são pequenos, são oblongo-esféricos e atingem de 2 a 2,5 cm de diâmetro. À medida que amadurecem passam da cor verde para púrpura.

 

A árvore-da-borracha-australiana terá chegado a São Miguel em meados do século XIX, tendo os exemplares existentes no Jardim José do Canto uma idade aproximada de 170 anos, pois a sua presença naquele jardim está referenciada na “Enumeração das principais plantas existentes no meu Jardim de Sta. Anna na primavera de 1856”, elaborada por José do Canto.

 

O magnífico exemplar existente no Jardim António Borges, que terá uma idade próxima dos 160 anos, foi classificado por Despacho publicado no Diário do Governo, II Série, nº.238, de 14 de outubro de 1970.

 

De acordo com Albergaria (2021), “o exemplar do Jardim António Borges possuía em 2018, 22,6 m de altura e 24 m de diâmetro de copa. Apesar das grandes dimensões deste exemplar a espécie é mencionada pela primeira vez no Jardim em 1960 no caderno manuscrito do Professor João do Amaral Franco.”

 

O facto da espécie apenas ter sido referida em 1960 apenas significa que a mesma esteve durante muitos anos mal classificada, como terá acontecido no “Catálogo das Plantas” datado de 1865 ou no interessante livro, “Parques e Jardins dos Açores” de Isabel Albergaria, em que a espécie está identificada como Ficus elastica.

 

A espécie, segundo Saraiva (2020), poderá ter sido introduzida em Portugal continental por Edmond Goeze oferecida por José do Canto. O maior exemplar existente no país, ainda de acordo com o mesmo autor, encontra-se, em Coimbra, no Jardim Botânico da Universidade, onde trabalhou Goeze, e possui 11,5 m de PAP (Perímetro (do tronco) à Altura do Peito) e 32 m de DC (Diâmetro da Copa)

 

Na ilha de São Miguel existem exemplares notáveis da árvore-da-borracha-australiana no Jardim José do Canto, no Jardim do Palácio de Santana e no Jardim António Borges. O geógrafo madeirense Raimundo Quintal no texto “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel – proposta de classificação”, publicado em 2019, sugeriu que que se mantivesse a classificação do exemplar existente no Jardim António Borges, que fossem classificados dois exemplares existentes no Jardim José do Canto e um exemplar existente no Jardim do Palácio de Santana.

 

Esta espécie que tem uma longevidade superior a 150 anos, é muito apreciada pelos visitantes dos jardins onde se encontra pelo espetáculo único das suas raízes tabulares que também fazem com que esta bonita planta ornamental não deva ser plantada junto de edifícios, sendo adequada apenas para parques e jardins e outros locais onde as suas raízes tenham espaço suficiente para se desenvolverem livremente.

 

Do mesmo género, para além das espécies já referidas (Ficus macrophylla e Ficus elastica) é possível encontrar na nossa ilha, entre outras, a Ficus carica (figueira), cultivada como árvore de fruto, e a ornamental figueira-da-índia (Ficus benjamina) que pode ser observada no Jardim António Borges, no Jardim José do Canto e no Jardim do Palácio de Santana.

terça-feira, 4 de junho de 2024

Faia-europeia

 



Faia-europeia

 

A faia-europeia ou faia (Fagus sylvatica L.) é uma espécie, da família Fagaceae, oriunda de uma vasta área da Europa que abrange o norte de Espanha, França, sul de Inglaterra e sul dos países escandinavos, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Polónia, Itália e Países Balcânicos.

 

O nome científico Fagus, conserva a denominação latina que, por sua vez, deriva do grego fagos ou phagos, que significa comilão, uma referência ao facto dos frutos serem muito nutritivos e sylvatica, que indica dos bosques ou selvagem.

 

A faia-europeia á uma árvore caducifólia, de copa ovada ou arredondada que pode atingir 30 m de altura ou mais. O seu tronco apresenta casca lisa e cinzenta. As folhas, de margens ondeadas, são ovadas ou elíticas, apresentando nas margens uma penugem. As flores, tanto as masculinas como as femininas, que são pouco notórias, estão dispostas em amentos. Os frutos (aquénios) são normalmente constituídos por duas nozes lustrosas de forma triangular.

 

Em Portugal continental, a faia é uma espécie exótica que tem sido plantada pelos Serviços Florestais, sobretudo na Serra da Estrela, no perímetro florestal de Manteigas, e nalgumas serras do Norte. Também é cultivada como espécie ornamental, em parques e jardins, existindo exemplares notáveis em Ponte de Lima, Lamego, Porto (no Parque de Serralves), em Lisboa e em Sintra.

 

Sobre a presença da faia-europeia na ilha de São Miguel, há um excelente texto, intitulado “Matas”, publicado no nº 21, de 1849, de “O Agricultor Michaelense”.

 

Para alem da menção à utilidade da planta e do modo de propagação da mesma, que era por semente, sobre a sua chegada a São Miguel, podemos ler o seguinte: “Sabemos que nos últimos sete anos várias pessoas fizeram sementeiras de Faia, importada a sua semente de Inglaterra.”

 

Mas tudo leva a crer que a presença da faia-europeia é mais antiga, pois no mesmo texto é afirmado que:

 

“No logar das Socas, em prédio pertencente ao Sr. Guilherme Scholtz há um grupo de magestosas faias; ni sitio do Botelho, na auinta do Sr. Barão de Fonte Bella, há tambémuma avenida de belas faias, na servidão que dirige à cascata; e finalmente na Grimaneza, n’uma matta que pertence ao fallecido Sr. Annio José de Vasconcellos, campeam á margem da estrada, e como que pregando o exemplo, duas frondosíssimas árvores.”

 

Na atualidade, na ilha de São Miguel, a faia-europeia é usada como planta ornamental, podendo ser observada no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim do Pico Salomão, no Parque Terra Nostra, no Viveiro Florestal das Furnas e na Mata-Jardim José do Canto-Lagoa das Furnas.

 

A madeira da faia, branca ou acastanhada, por vezes com tons rosados, é bonita, sendo por isso muito usada em carpintaria e marcenaria, para o fabrico de elementos torneados, mobiliários e instrumentos musicais. Também pode ser usada para pasta de papel e como combustível, já que apresenta uma elevada capacidade calorífica.

 

Segundo Pio Font Quer (1988) o carvão vegetal proveniente da madeira de faia-europeia é:

 

“usado em Medicina sempre que convém absorver gases pútridos, sobretudo em fermentações intestinais de tipo anormal, no chamado meteorismo, nas disenterias flatulentas e em todos os casos em que não só é aconselhável desinfetar moderadamente, mas também absorver gases produzidos em excesso. Na higiene oral o mesmo carvão macio e ligeiramente desinfetante constitui um excelente dentífrico. Também se usa em certos casos de envenenamento, como primeira providência para parar o mal.”

 

O mesmo autor refere que por destilação seca da madeira se obtém o breu de faia que foi muito usado para combater a tuberculose.

https://sig.serralves.pt/pt/flora/detalhe.php?id=1010

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fagus_sylvatica

 

Teófilo Braga

domingo, 2 de junho de 2024

Ginjeira-do-mato

 


Ginjeira-do-mato

 

A Ginjeira-do-mato, ginjeira-brava ou ginja (Prunus azorica (Hort. ex Mouil.) Rivas Mart.) é uma espécie endémica dos Açores que pertencente à família Rosaceae. Não existe em Santa Maria, Graciosa e Corvo.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem que “estudos recentes sugerem que não existe suficiente diferenciação para ser considerada uma espécie distinta de Prunus, mas sim a subespécie Prunus lusitânica subsp. azorica (Mouill.) Franco.”

 

A ginjeira-do-mato é uma árvore perenifólia que raramente ultrapassa os 6 metros de altura, com folhas de forma oval-elíptica, glabras e de cor verde-escuro. As suas flores, que se apresentam em cachos, são brancas e podem ser vistas nos meses de março, abril, maio, junho e julho. Os seus frutos são carnudos, ovoides e pretos quando maduros.

 

No estado selvagem é possível encontrar a ginja-do-mato, em florestas nativas normalmente entre os 500 m e os 700 m de altitude. Na ilha de São Miguel, para a observar aconselhamos uma visita à Serra da Tronqueira, no Nordeste.

 

Por pertencer à flora primitiva dos Açores a ginjeira-do-mato é referida, por várias vezes, por Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, ao descrever várias ilhas do nosso arquipélago. Numa das referências àquela espécie Gaspar Frutuoso, no Capítulo I, do Livro IV, escreveu o seguinte:

“Chegando aqui às ilhas os novos descobridores, tomaram terra no lugar, onde agora se chama a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois, como adiante contarei, e desembarcando antre duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, antre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias, e outras diversas árvores, deram todos, com muito contentamento e festa, graças a Deus, não as que por tão alta mercê se lhe deviam, senão as que podem dar uns corações contentes como bem tão grande que tinham presente, desejado por muitos dias e com tanto trabalho e enfadamento de importunas viagens por tantas vezes buscado.”

 

No relatório “A agricultura no distrito da Horta (subsídios para o seu estudo)”, citado por Carreiro da Costa (1989), sobre a presença de várias espécies vegetais na ilha do Pico, os autores, relativamente à ginjeira-do- mato escrevem: a sua “madeira [é] muito apreciada para obras de entalhamento e casca rica duma substância corante com que os pescadores tingem as redes”.

 

Ramos (1871) já havia escrito algo semelhante ao relatório citado por Carreiro da Costa. Segundo ele, “a madeira é muito apreciada pelos entalhadores; da sua casca fazem grande uso os curtidores, e também com ella tingem os pescadores as suas redes.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020) escrevem que os frutos são comestíveis e são uma importante fonte de alimentação para o priolo, ave endémica dos Açores.

De acordo com o Dr. Francisco Carreiro da Costa, foi à ginjeira do mato que os açorianos foram buscar o nome para várias localidades, como por exemplo Ginjal, em São Miguel e na Terceira, e Canada da Ginja, em São Jorge.

 

Hoje, a ginjeira-do-mato é muito rara e praticamente deixou de ter qualquer uso, para além do ornamental. Assim, ainda em número muito reduzido, já se podem encontrar alguns exemplares em parques e jardins públicos e privados.

 

Quem quiser observar a ginjeira-do-mato, fora do seu ambiente natural, pode fazê-lo no Jardim da Universidade, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim Botânico José do Canto, no Parque Urbano, na Quinta da Torre-Capelas, na Quinta-Jardim da Ribeira Nova- Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, no Parque Terra Nostra e na Mata-Jardim José do Canto-Furnas.


Teófilo Braga