sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Novelão

 


Novelão

 

O novelão ou hortênsia (Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.) é uma planta da família Hydrangeaceae, nativa do Japão e da China que se encontra naturalizada em várias regiões do mundo, entre as quais os Açores, onde pode ser encontrada em todas as ilhas.

 

O novelão foi introduzido na Europa em 1775 e em 1790 já era usada como ornamental nos jardins ingleses.

 

A sua chegada aos Açores terá ocorrido no século XIX, desconhecendo-se a data precisa da sua introdução e o responsável pela mesma. Sabe-se, contudo, que a espécie constatava de uma lista das principais plantas existentes no Jardim Botânico José do Canto na primavera de 1856.

 

Em 1953, o novelão fazia parte de uma lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores. Sobre a planta pode ler-se o seguinte: “arbusto ornamental, cultivado.”

 

O novelão é um arbusto caducifólio lenhoso na base que pode atingir 3 m de altura. As suas folhas são simples, com os bordos serrilhados, ovais a elíptico-orbiculares e acuminadas. As flores vão do branco ao azul, passando pelo violeta e pelo róseo, dependendo do pH dos solos. Assim, nos solos ácidos as flores são azuis e nos básicos ou alcalinos cor-de-rosa.

 

O novelão escapou-se dos parques e jardins e colonizou pastagens abandonadas e outros locais onde a sua vegetação foi perturbada por um motivo qualquer, sendo considerada invasora sobretudo nas ilhas do Faial, das Flores e do Corvo. Apesar disso, é inegável que na altura da floração, de maio a outubro, a paisagem transforma-se ficando com tonalidades que vão do branco ao azul. Os frutos são cápsulas subglobosas.

 

A propagação do novelão faz-se por estacaria, colocando-se na terra, de preferência no inverno e na primavera, pedaços dos seus ramos.

 

Sobre as suas utilizações, Vieira, Moura e Silva (2020) mencionam o seguinte: “Ornamental. Medicinal (planta rica em compostos orgânicos fenólicos derivados da isocumarina; o extrato da folha é potencialmente benéfico no combate da malária e dos diabetes; tem efeitos psicotrópicos).

 

O novelão é também usado nas divisórias de propriedades e no artesanato, onde persiste a arte de trabalhar o seu miolo para criar composições florais em miniatura.

 

1 de março de 2025

 

Teófilo Braga (IRIS-Núcleo Regional dos Açores)

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Mélia

 




Mélia

 

A mélia (Melia azederach L.) também conhecida por amargoseira, lilás-da-índia e sicómoro é uma planta nativa da Ásia-sul e oriente, encontrando-se naturalizada no sul da europa e norte de África.

 

nome genéricomelia, provém do grego antigo e significa freixo, em virtude da semelhança entre as folhas das duas espécies e o específico deriva do persa, significando árvore nobre.

 

Pertencente à família Meliaceae, a mélia, que pode atingir 20 m de altura ou mais, é originária da Ásia-Sul e Oriente, e está em flor, entre nós, nos meses de abril e maio.

 

A mélia terá sido introduzida na Europa em 1759 ou mais cedo, havendo quem aponte a data de 1656. Em Portugal, sabe-se que existia, em 1799, na Quinta dos Senhores de Belas provavelmente vinda de Goa (Saraiva, 2020)

 

Não sendo conhecida a data precisa da introdução nos Açores, sabe-se que a mélia já estava presente no jardim de José do Canto em Ponta Delgada, no ano de 1858. Doze anos depois, em 1868, a mélia fazia parte de uma lista de plantas multiplicadas em grande quantidade por José do Canto disponíveis para oferta ou permuta.

 

Em 1953, a mélia ou sicómoro fazia parte de uma lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores”, elaborada pelo Regente Agrícola, Silvano Pereira e publicada no BCRCAA, nº 18.

 

A mélia, que apresenta uma copa arredondada, é uma árvore caducifólia. Aas suas folhas são compostas com folíolos lanceolados, acuminados, com margens serradas de cor verde-clara. As flores são hermafroditas de coloração arroxeada e surgem dispostas em panículas. Os frutos, que possuem uma semente dura no seu interior, são drupáceos de pequenas dimensões, com uma coloração amarelada, quando estão maduros.

 

 

A mélia é cultivada como ornamental em quase todo o mundo e é usada em jardins ou em arruamentos. As suas folhas e a casca são utilizadas com fins medicinais, sendo-lhes atribuídas propriedades vermífugas, purgativas e eméticas: As flores são muito aromáticas e muito visitadas pelas abelhas e outros polinizadores. A sua madeira é muito fácil de trabalhar pelo que pode ser usada em carpintaria. Embora os seus frutos sejam muito apreciados pelas aves, são tóxicos para os humanos e para alguns animais, como os suínos. As sementes eram usadas para fazer rosários.

 

De acordo com Saraiva (2020) a mélia multiplica-se facilmente “por semente na primavera, não necessitando de tratamento especial, salvo tirar-lhe a envoltura carnosa. A germinação leva cerca de 2 meses.”

 

Para além da beleza que dá aos locais onde está plantada as mélias contribuem para uma melhor qualidade de vida. A Câmara Municipal de Almada (1) apresentou a seguinte informação para um exemplar localizado na Praça de Ceuta, na Cova da Piedade:

  • Tem uma circunferência de tronco de 240 cm
  • Tem uma altura de 17,9 m
  • Tem uma área foliar de 1108 m2
  • O tronco e os ramos têm 2274 kg de carbono
  • Produz oxigénio suficiente para 1 pessoa respirar durante 118 dias.
  • Retém 1742 litros das águas da chuva, o que ajuda a reduzir as inundações
  • Limpa o ar ao remover 1792 gramas de poluentes.
  • Armazena 100468 gramas de CO2.

 

Introduzida nos Açores com fins ornamentais, é possível encontrar mélias sobretudo em jardins públicos e particulares, bem como praças e arruamentos. Na ilha de São Miguel, podem ser observadas no Jardim da Universidade dos Açores, no Parque Urbano, no Parque Século XXI, no Parque de Estacionamento de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, e no Jardim de Santa Cruz, na Lagoa

 

(1) https://www.cm-almada.pt/viver/intervencao-ambiental-clima-e-sustentabilidade/arvores/melia-azedarach-melia

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Contra o agravamento da tortura animal nas touradas: não à sorte de varas

 



Contra o agravamento da tortura animal nas touradas: não à sorte de varas


O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) condena a terceira tentativa de legalização da sorte das varas, manifestada pelo Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, no IV Fórum Taurino que se realizou na ilha Terceira.

Não satisfeitos com a barbaridade que são as touradas, nomeadamente as de praça, os inimigos do bem-estar animal, dos direitos dos animais e dos direitos humanos pretendem que o sofrimento animal seja levado ao extremo, através da legalização das touradas picadas ou sorte de varas (ver anexo), prática destinada a violentar o animal através de vários ataques com uma lança que o levam a perder até um terço do seu sangue.

A agravar a situação, está o facto de o incentivo à discussão do assunto na ALRAA ter sido dado à Tertúlia Tauromáquica Terceirense pelo Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, que incoerentemente se apresenta como paladino da defesa do bem-estar animal, alegando ser vantajosa a atual composição da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores para a legalização de tal prática sanguinária.

António Ventura não tem condições para continuar a chefiar uma Secretaria Regional, pois por mais de uma vez demonstrou a sua ignorância e insensatez. Lembramos que, não há muito tempo, afirmou na ALRAA que o touro era um animal que combatia as alterações climáticas, afirmando que a sua alimentação, pastoreio e libertação de dióxido de carbono permitem que se insira nas raças que combatem as alterações climáticas. E que recentemente disse que a tourada é a “melhor escola de cidadania”. A primeira afirmação mostra que não sabe o que são as alterações climáticas e desconhece suas causas e a última é insultuosa para todos os pais e mães, docentes e demais pessoas envolvidas em atividades educativas.

O MCATA apela ao envolvimento de todas as pessoas em ações de oposição às sucessivas tentativas de legalizar a sorte de varas, prática bárbara que não tem espaço numa civilização decente e que constitui um notório atentado à integridade física dos animais e uma atitude que indica um retrocesso legislativo, político, moral e civilizacional que manchará a imagem dos Açores a nível nacional e internacional.

É com muita apreensão que vemos esse retrocesso gritante em relação à proteção dos animais. A cultura e a tradição não podem servir para alimentar práticas medievais que impliquem a tortura de um animal.

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Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
28/01/2025


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O que é a sorte de varas?

Durante a tourada, e durante um período de aproximadamente 15 minutos, o touro é submetido à sorte de varas. Assim que ele entra na arena é atraído através de uma série de passes com a capa e é submetido à sorte de varas –o "acto” da lança.

Nesta parte, o picador (lanceiro) utiliza a ponta da lança, “puya”, garrocha, que é um instrumento pontiagudo com cerca de 9 centímetros de comprimento, dividido em duas secções: uma ponta em forma de cone de cerca de 3 centímetros e uma outra de aço em forma de corda de cerca de 6 centímetros de comprimento.

Este instrumento destina-se a ferir certos músculos e ligamentos do cachaço, parte superior do pescoço do touro. O objectivo deste acto é facilitar o trabalho do toureiro pois, uma vez que estas estruturas anatómicas foram feridas, o touro não vai ser capaz de levantar a cabeça. “Infelizmente” não é só isso que acontece. É sabido que 90 % das estocadas com a lança são feitas muito mais para trás, onde as vértebras estão muito menos protegidas. Além disso, como resultado de golpes ilegais (proibidos) dos picadores, tais como “furar” (torcendo a lança no pescoço do touro como um saca-rolhas) ou o "entra e sai" (aprofundar e aflorar a lança várias vezes sem a retirar, de modo a que uma lança tem o mesmo efeito como tendo sido utilizada várias vezes, o que impede o touro de fugir quando sente a dor), as feridas são muitas vezes terríveis.

A hemorragia causada por estes métodos faz com que a perda de sangue possa ser de 18%, enquanto a quantidade "desejável" (entre aspas irónicas) é de 10%. Devido a esses movimentos, uma lança pode produzir feridas com mais de 20 cm de profundidade, e entrar no corpo em até cinco sentidos diferentes, ferindo muitas estruturas, inclusive quebrando estruturas ósseas.

Os taurófilos (taurinos) argumentam, que o uso da “puya” serve para "aliviar" o touro da sua bravura e excitação na lide. No entanto, o que acontece com a tortura da “puya” não é um descongestionamento simples, porque o touro assim perde até 10 litros de sangue, visto que, ao se aprofundar e aflorar sucessivamente a “puya”, se chega a provocar uma ferida muito profunda. Outra estatística é que apenas 4,7% do cravar da “puya” consegue cortar os músculos do pescoço e deixar o resto da anatomia local intacta. O que geralmente se corta com má pontaria da “puya” são músculos dos membros anteriores e do tronco. Por isso tropeçam e caiem touros.

Dados: o touro tem cerca de 36 litros de sangue. Com a sorte de varas o animal perde cerca de um terço do sangue, sua força vital. São manobras ilegais do picador (o cravar e tirar, a acção de saca-rolhas e a de perfuração) que fazem a “puya” penetrar mais do que esses 7,6-8,9 cm, sendo que em 70% dos casos as lanças são cravadas por detrás do andiron e da cruz e, aí sendo menos protegidas pelos grandes músculos do pescoço, podem atingir e ferir estruturas ósseas.

(Informação: José Enrique Zaldívar, médico veterinário e presidente da AVATMA; tradução: Vasco Reis, médico veterinário)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Lágrima-de-nossa-senhora ou milho-dos-romeiros

 



Lágrima-de-nossa-senhora ou milho-dos-romeiros

 

 A lágrima-de-nossa-senhora ou milho-dos-romeiros (Coix lacryma-jobi L.) é uma planta nativa da Ásia que se encontra distribuída em quase todo o mundo, sendo a Índia o local mais provável de origem.

 O nome comum lágrima-de-nossa-senhora está relacionado com uma lenda que associa as marcas existentes nas sementes às lágrimas vertidas por Nossa Senhora quando ela chorava a morte de Cristo. A designação de milho-dos-romeiros, deve-se ao facto de com as suas sementes se fazerem os rosários usados pelos romeiros de São Miguel durante as tradicionais romarias quaresmais.

 Muito comum em todo o mundo, sobretudo na América do Sul, não se conhece a data, o objetivo e quem introduziu a planta nos Açores. Sabe-se, porém, que a planta nunca é referida como usada na medicina popular e que já existia, em 1856, no jardim que José do Canto havia criado em Ponta Delgada alguns anos antes.

 A lágrima-de-nossa-senhora é uma planta herbácea cespitosa, anual e ereta que pode atingir 1,8 m de altura. As folhas são compridas, estreitas e glabras. Apresenta inflorescências terminais, em cachos curtos e inclinados. Os frutos são globosos, lisos e duros quando maduros, de cor esbranquiçada com matrizes cinzentas, acastanhadas ou pretas.

 Esta planta propaga-se muito bem por sementes, não necessitando de cuidados especiais para a sua manutenção.

 Em algumas culturas a lágrima-de-nossa-senhora é vista como um símbolo de prosperidade e abundância, acreditando-se que tê-las em casa seria sinal boa sorte e fortuna.

 

Os grãos, depois de transformados em farinha, são utilizados na gastronomia em países asiáticos. Aquela é de elevado valor nutricional, pois possui uma reserva amilácea rica em proteínas, vitaminas e sais minerais

A planta é usada com fins medicinais para tratamentos diversos. Assim, a título de exemplo, referimos que o fruto reduz as dores, é anti-inflamatório, antipirético, antisséptico e vermífugo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Murta

 


MURTA

 

A murta ou murtinhos (Myrtus communis L.) é um arbusto oriundo do sul e oeste da Europa que pertence à família Myrtaceae, encontrando-se naturalizada em algumas ilhas dos Açores. De acordo com o Portal da Biodiversidade dos Açores a murta não está presente na Graciosa, nas Flores e no Corvo.

 

A murta é um arbusto, perene, que pode atingir 2 a 3 m de altura. Possui flores brancas muito perfumadas e as folhas são pequenas, coriáceas e lanceoladas. O fruto é uma pequena baga carnuda que quando madura apresenta uma coloração azul-escura.

 

A murta foi uma planta muito abundante nos Açores de tal modo que Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, faz referência à sua presença nas ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira e Faial.

 

A abundância de murtas em Santa Maria era tal que no século XIX chegou a ser enviada em grandes quantidades para a ilha de São Miguel. Carreiro da Costa (1952) refere que “no ano económico de 1850-51, se colheram e exportaram, também para S. Miguel, 49 moios e meio de murta” que se destinava “à reexportação para Inglaterra, onde as folhas respetivas eram utilizadas na curtimenta de peles, dadas as magníficas propriedades que possui para esse efeito.”

 

Dado o seu uso na medicina popular, Armando Cortes Rodrigues, no “Cancioneiro Geral dos Açores”, dá a conhecer a seguinte quadra:

 

Aquele que estiver doente

Vá tomando chá de murta

Que os remédios de botica

Põem a vida mais curta

 

A murta é muito apreciada como planta ornamental, sendo também uma planta melífera.

 

Carreiro da Costa (1952) refere o uso da murta, nos Açores, “para enfeitar as casas e as ruas, pelos tempos em que os tronos do Espírito Santo são armados a cada passo e as procissões das freguesias rurais saem por entre músicas e foguetes.”

 

Mas não era só durante os festejos que a murta era utilizada, Carreiro da Costa menciona que a mesma é também usada em acontecimentos tristes, relacionados com a morte, como se prova através da quadra:

 

Meu ramo de murta fina,

Eu hei-de-te combater.

A murta dá-se a quem morre

E eu por ti quero morrer.

 

Em 1893, Gabriel de Almeida referia o facto de a murta ser uma “planta muito apreciada pela fragância das suas flores” e acrescentava “é muito usada em medicina”.

 

Carreiro da Costa (1952), depois de referir o uso da planta em perfumaria, refere que “são muito usadas pelo povo dos Açores as infusões de murta para os inchamentos dos pés, da cara, dos braços ou das mãos. As mesmas infusões são também empregadas na lavagem da cabeça como remédio contra as caspas.” O mesmo autor menciona o uso de um pó obtido a partir das folhas que era vendido nas lojas e nas farmácias “que se destinava a ser usado, como a linhaça, isto é, pondo-o num pequeno saco que, previamente aquecido se colocava sobre o ventre das crianças com o fim de as aliviarem de certas dores.”

 

Yolanda Corsépius (1997), depois de mencionar a sua abundância junto ao aeroporto de Santa Maria, refere as seguintes propriedades da murta: antissética e adstringente.

 

Tal como outras espécies, a murta marca presença na toponímia dos Açores. Assim, na freguesia de São Roque, concelho de Ponta Delgada, e nas Furnas, concelho da Povoação, encontram-se dois arruamentos designados por canada das murtas, o que deverá estar relacionado com a sua presença naqueles locais. No passado, o Jardim Beatriz do Canto, nas Furnas, era conhecido por Parque das Murtas.

 

Hoje, não é fácil encontrar a murta no seu estado “selvagem”. Na ilha de São Miguel, quem quiser observar murtas pode fazê-lo visitando o Parque Urbano, em Ponta Delgada.

 

11 de janeiro de 2025

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Til

 


TIL

 

O til (Ocotea foetens (Aiton) Baill.) é uma árvore da família Lauraceae, endémica da Madeira e das Canárias que, nos Açores, existe nas seguintes ilhas: São Miguel, Santa Maria, Terceira, Faial e Flores.

 

O til é uma árvore que pode atingir até 30-40 m de altura, perenifólia, com uma copa densa, piramidal a arredondada. As folhas, alternadas, são elípticas a ovado-elípticas, acuminadas, brilhantes e glabras na página superior. A página inferior também é glabra, mas apresenta duas depressões glandulares, cobertas de pelos compridos, na base da nervura principal. As flores, que surgem de junho a agosto, são cheirosas, pequenas, branco-esverdeadas, encontrando-se reunidas em panículas. Os frutos são elipsoidais negros, com uma cúpula que atinge o primeiro terço, assemelhando-se a uma bolota. Servm de alimento a muitas aves, nomeadamente aos pombos-torcazes (Columba palumbus azorica), subespécie endémica dos Açores.

 

Não se sabendo quando foi introduzido o til nos Açores, sabe-se que, em 1844, a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense apresentou uma proposta às Câmaras Municipais para promoverem a plantação de árvores nos baldios e nas bermas das estradas, tendo sugerido, entre outras espécies a utilizar, o til.

 

De acordo com Quintal (2023), na ilha da Madeira, “os troncos de til (Ocotea foetens) foram muito utilizados nas grandes e potentes varas dos lagares, em vigas para suportar soalhos e em peças de mobiliário. Mas nem só a construção e a marcenaria consumiram os tis desta ilha. Inúmeros foram desfeitos em lenha para alimentar os engenhos do açúcar.” Também usado como árvore de arruamento, nomeadamente no Funchal e na Ribeira Brava.

 

Na freguesia da Fajã da Ovelha, na Madeira, usa-se a planta para “lavagens do corpo, para comichão (género de urticária)” (Freitas e Mateus, 2013). Vieira, Moura e Silva (2020) consideram o til “medicinal (infusão de folhas ou frutos: anti-hipertensivo; cataplasma de folhas e ramos tenros no tratamento de doenças malignas; é rico em óleos essenciais, de odor desagradável).”

 

Em Portugal continental há exemplares notáveis no Jardim Botânico da Ajuda e no Jardim Agrícola Tropical e na Madeira, no Jardim Municipal do Funchal (Jardim Princesa Dona Maria Amélia, no Parque de Santa Catarina, no Parque Municipal do Monte, etc. e seuais

 

Na ilha de São Miguel, entre outros locais, é possível encontrar tis no Jardim Botânico José do Canto, no Pinhal da Paz, na Mata-ajardinada da Lagoa do Congro, no Jardim do Palácio de Santana, no Parque Terra Nostra e na Mata do Dr. Fraga.

 

Ao descrever a Mata da Lagoa do Congro, Raimundo Quintal, no número de outubro de 2023 da revista “Jardins” escreveu o seguinte:

 

Cerca de 150 anos após o final das plantações, algumas espécies desapareceram, outras estão representadas apenas por exemplares isolados e duas espécies arbóreas encontraram condições excecionais para crescerem e multiplicarem-se. O incenseiro (Pittosporum undulatum), nativo da Austrália, e o til (Ocotea foetens), indígena da Laurissilva da Madeira e do qual não há notícia de ter integrado a Laurissilva de São Miguel.

 

Ao percorrer os cerca de 700 metros do trilho, desde a estrada até à margem da lagoa, temos oportunidade de admirar tis monumentais, com 20 a 30 metros de altura. Alguns dobram-se e com os ramos acariciam a água. O sub-bosque é dominado por incontáveis plantas infantis e juvenis. Uma verdadeira Tilândia!”

 

Dos exemplares existentes em São Miguel, Raimundo Quintal (2019) considera que deverá ser classificado como de interesse público um exemplar existente no Jardim José do Canto, junto à estátua do seu fundador.

 

O til, segundo Saraiva (2020), que é uma árvore de crescimento lento e com uma longevidade que ultrapassa os 100 anos, multiplica-se por semente, sendo necessária humidade e alguma luz.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Freixo (s)




Freixo (s)

 

O freixo, freixo-de-flor ou freixo-da-sicília (Fraxinus ornus L.) é uma planta de folha caduca, da família Oleaceae, originária de África e da Europa (região Mediterrânica, desde Espanha até à Turquia.

 

O nome do género Fraxinus deriva da palavra grega “phraxis”, que significa separação que estará relacionado com o facto da sua madeira rachar com facilidade ou com o facto da planta ser usada na separação de terrenos. Por sua vez, o nome específico ornus, deriva do latim “orno” que significa adornar, devido ao facto das suas inflorescências serem muito decorativas em comparação com as do freixo comum (Fraxinus excelsior).

 

O freixo-de-flor, que normalmente possui uma altura próxima dos 10 m, podendo alcançar os 20 m, possui um ritidoma liso e cinzento. As suas folhas apresentam folíolos de margem dentada, podendo apresentar pelos na página inferior. As flores, que surgem nos meses de abril, maio e junho, são brancas ou creme muito vistosas, de aroma agradável e os frutos apresentam a forma de língua, com uma asa que permite a disseminação.

 

Os freixos possivelmente terão chegado ao nosso arquipélago no século XVIII, pelo menos já existiam na Ilha Terceira, segundo um relatório concluído em Angra do Heroísmo no dia 29 de dezembro de 1798.

 

No que diz respeito à ilha de São Miguel, sabe-se que José do Canto possuía no seu jardim de Santana, em 1856, 12 taxa (espécies, subespécies, variedades, etc.) de freixos.

 

No jornal “O Agricultor Michaelense”, de julho de 1849, sobre o freixo, no caso o Fraxinus excelsior, pode ler-se o seguinte:

 

“Infelismente esta arvore era completamente desconhecida em S. Miguel ha alguns anos, e ainda hoje é raríssima.

 

As primeiras plantas que vegetaram no nosso clima foram enviadas d’Inglaterra pelo Sr. Harvey, estrangeiro distincto que introduzio muitas arvores novas n’esta Ilha, para povoar um prédio, que adquirira, adjacente á Lagoa das Furnas. Sucedeu que taes freixos se espalhassem por varias localidades da Ilha, e seja qual for a causa a que se possa atribuir o mau exito da sua naturalização, bem poucos são as que tem medrado.”

 

O botânico William Trelease, natural dos E.U.A., que visitou os Açores, cita “para a ilha das Flores, o Fraxinus angustifólia […] que lhe foi trazida como indígena, mas que considera, sem dúvida, inicialmente cultivada.” (Palhinha, 1966)

 

No número mencionado do “Agricultor Michaelense” há referência à espécie Fraxinus lentiscifolia (sinónimo de Fraxinus angustifolia subsp. angustifolia) que na ilha de Santa Maria era conhecido por carrasqueiro.

 

Sobre o carrasqueiro pode ler-se, entre outras coisas, o seguinte:

 

“… é uma linda arvore, de mimosa, e elegante folhagem: propaga-se facilmente por semente, em que abunda, a qual nasce de ordinário no fim de seis mezes. Cresce logo muito, lançando em cada anno vergônteas de 4 a 5 palmos. Torna-se em breve, frondosa arvore, e produz uma das mais preciosas madeiras que se podem alcançar. Tão boa e útil é, que, de muitas que haviam em Santa Maria, não poupou p machado a mais do que a só duas, que ainda hoje se admiram n’aquela Ilha.”

 

Nos Açores, como se pode constatar, há várias espécies do género Fraxinus, com destaque, na atualidade, para o freixo-de-flor e o freixo-comum.

 

 Na ilha de São Miguel, o freixo-de-flor pode ser encontrado no Pinhal da Paz, na Fajã de Cima, na Estrada da Ribeira Grande, na Mata do Dr. Fraga, na Maia, no Parque Terra Nostra, nas Furnas e na Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas.  O freixo-comum pode ser observado no Jardim da Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, no Jardim Botânico José do Canto, também em Ponta Delgada, e no Parque Terra Nostra.

 

19 de dezembro de 2024

 

Teófilo Braga