quinta-feira, 14 de agosto de 2025

As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 


As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 

Numa consulta que fiz ao volume IV de “A Vila”, da autoria de Urbano de Mendonça Dias, encontrei um muito interessante capítulo intitulado “Medicina Popular”. A partir dele extrai apenas as informações relativas ao uso das plantas nos tratamentos de diversos problemas de saúde, tendo atualizado os nomes científicos.

 

Quem foi Urbano de Mendonça Dias?

 

Foi um jurista, pedagogo, escritor, etnógrafo e político conservador natural de Vila Franca do Campo.

 

Foi autor de diversos obras sobre a história dos Açores e cultura popular, de que destacamos “A vida dos nossos avós - Estudos etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e “A Vila - Publicação Histórica de Vila Franca do Campo”.

 

Talvez a sua maior obra terá sido a fundação do Instituto de Vila Franca, mais tarde designado Externato de Vila Franca do Campo, responsável pela instrução de muitos vila-franquenses depois da então denominada então escola primária.

 

As plantas na medicina popular

 

A casca da romã ou romãzeira (Punica granatum) quando tomada “em jejum, durante nove dias seguidos, cura as bronquites asmáticas.”

 

Para curar a tosse, são usadas várias plantas, como a salva (Salvia officinalis), em infusão, tal como o limão (Citrus limon), a perpétua [pode ser a perpétua-roxa (Gomphrena globosa)], a sempre-viva ou perpétua-silvestre (Helichrysum luteoalbum), o suspiro-branco (Cephalaria leucanta) e o xarope de agrião (Barbarea verna) [poderá ser o agrião-de-água (Nasturtium officinale)].

 

Com fins diuréticos, são usadas infusões de folhas de salsa (Petroselium crispum) ou de barbas de milho (Zea mays].

 

Para combater as dores de barriga são usadas infusões de poejo (Mentha pulegium), de canela (Cinnamomum verum), a casca da laranja-azeda (Citrus aurantium), urzela (Rocella fuciformis) ou usai-dela (Chenopodium ambrosioides).

 

Para curar a cobrela [herpes zóster] era usado o óleo obtido a partir da queima do trigo (Triticum aestivum) ou o limão.

 

Para curar as dores de cabeça, são enumeradas algumas partes de plantas ou frutos. Assim, um dos processos consiste “colocar uma casca de limão nas fontes e na testa ou friccionar estas mesmas partes com vinagre ou mostarda (Sinapis nigra) [Brassica nigra]”. Também pode ser, através da considerada “a mais típica medicina da Ilha”, do seguinte modo: dispõe-se “em cruz, sobre a cabeça, dous galhos de Arruda (Ructa bracteosa) [Ruta chalepensis], tostados em brazas vivas, atando-se por sobre isto um lenço, que pouco tempo depois as dores de cabeça terão desaparecido, graças a tão inofensivo medicamento.”

 

Para estancar o sangue do nariz, esmagam-se folhas de salsa e tapava-se a narina de onde provém a hemorragia.

 

No que diz respeito a problemas relacionados com o coração são usadas infusões de folhas de laranjeira ou cascas de laranjas ou cidreira (Melissa officinalis).

 

As dores de estômago são tratadas com infusões de flores de fel-da-terra (Centaurium erythraea), de macela (Chamaeamelum nobile), de agrimónia (Agrimonia eupatoria) ou de rainha-das-ervas (Tanacetum parthenium).

 

Para o tratamento de golpes, arranhões e eczemas é usada a goma da espadana (Phormium tenax) ou o suco das folhas pisadas do rabo-de-asno (Equisetum telmateia), do saião (Aeonium arboreum) e do fel-da-terra (Centaurium erythraea). No tratamento dos eczemas é usada a infusão de coquilho ou conteira (Canna indica).

 

Para a cura de hemorroidas e soltura [diarreia] é aconselhada a infusão de folhas de araçazeiro (Psidium cattleianum), de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de amoras, frutos da silva (Rubus ulmifolius) ou banhos de fava-da-cova (Parietaria judaica).

 

A colocação de um pedaço de folha de couve (Brassica oleracea) sobre um furúnculo faz com que ele rebente.

 

Para combater a solitária é polvilhada uma talhada de abóbora-menina (Cucurbita maxima) com açúcar, coloca-se no forno a assar e toma-se o suco que vai destilando. Outro processo consiste em usar o cozimento das folhas do feto-macho (Dryopteris filix-mas).

 

Entre os tratamentos para as dores de dentes, são referidos os seguintes: bochechar a infusão de papoulas (Papaver sp.) e receber vapores da infusão de alecrim (Rosmarinus officinalis).

 

No que diz respeito à inflamação da garganta um dos melhores remédios consiste no “cozimento de malvas [Malva multiflora] em água, ou melhor em leite, e gargarejado.

 

Contra as dores de ouvidos é aconselhado injetar no ouvido suco de alho (Allium sativum) assado.

 

Para debelar as febres é usada uma infusão de avenca (Adiantum capillus-veneris) ou de sabugueiro ou rosa-de-bem-fazer (Sambucus nigra).

 

A erva-molarinha (Fumaria muralis) é empregada, em infusão para amaciar a pele. Para tratar inflamações cutâneas usa-se o cozimento de violetas-roxas (Saintpaulia ionantha?)

 

Para fazer crescer o cabelo aplica-se o suco de urtiga (Urtica membranacea). Com mesmo fim, usa-se o cozimento de folhas de nogueira (Juglans regia) que também tira a caspa.

 

Os incómodos intestinais são tratados com o cozimento de folhas de nogueira ou com o cozimento de erva-piolha (Delphinium staphisagria). As bichas [lombrigas] são eliminadas usando um infuso de hortelã-pimenta (Mentha x piperita).

 

As hemorragias uterinas são tratadas com infusões de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de sempre-noiva (Polygonum aviculare), de losna (Artemisia absinthium) ou de erva-sabina (?)

 

Por último, para combater o reumatismo, são aconselhadas fricções dos infusos de folhas de gigante (Acanthus molis) ou de uma maceração de folhas de eucalipto (Eucalyptus globulus) em álcool.

 

Bibliografia

 

Braga, T. (2023). As plantas na Medicina Popular nos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas.

 

Dias, U. (s/d). A Vila, volume IV. Ponta Delgada.

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Urbano_de_Mendon%C3%A7a_Dias

 

https://www.worldfloraonline.org/

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Cipreste-dos-cemitérios

 


Cipreste-dos-cemitérios

 

O cipreste, cipreste-mediterrânico, cipreste-dos-cemitérios ou cipreste-comum (Cupressus sempervirens L.) é uma conífera perene da família Cupressaceae oriunda da região mediterrânica, sendo amplamente cultivada pelo seu valor ornamental, histórico e simbólico.

 

De acordo com alguns autores terá sido introduzido em Portugal pelos romanos, segundo outros terão sido os navegadores fenícios a trazê-lo a partir do Chipre e de Creta. No território de Portugal continental o cipreste passou a ser comum nos cemitérios desde meados do século XIX, como substituto do teixo (Taxus baccata).

 

O cipreste é uma árvore que pode atingir alturas entre 20 e 35 m, em média, e uma longevidade que pode viver 500 anos, existindo alguns exemplares com mais de mil.

 

As folhas são pequenas, em forma de escamas, de cor verde-escura. Os ramos crescem densamente ao longo do tronco e das extremidades, conferindo à árvore o seu aspeto compacto e adelgaçado.

 

As flores, que surgem na Primavera, são muito pequenas e amareladas, apresentando uma forma semelhante a uma pinha.

 

Os frutos, primeiro verdes e depois acinzentados são lenhosos, arredondados, com cerca de 2 a 4 cm de diâmetro, contendo sementes que podem permanecer viáveis durante vários anos.

 

A madeira do cipreste é aromática, resistente à humidade e à decomposição, sendo utilizada, em carpintaria e marcenaria, na construção de móveis, portas e arte sacra. Sobre o assunto, Félix (2025) escreveu o seguinte:

 

“Consta que os fenícios construíram com a minha madeira a armada com que navegaram até à costa portuguesa. As portas da original Basílica de São Paulo em Roma tiveram o meu ADN, por ordem de Constantino, o Grande. O ataúde interior  da urna do Papa João Paulo II é de madeira de cipreste.”

 

De acordo com Cunha, Silva e Roque (2003), com fins medicinais são usadas as “gálbulas não maduras [infrutescência (ou fruto, para alguns autores) subesférica, pequena, em regra lenhosa, com escamas peltadas], por vezes os rebentos recentes”. Sobre os usos etnomédicos e médicos, os autores referidos escreveram o seguinte: “… É tradicionalmente usado nas insuficiências venosas (varizes, tromboflebites) e na sintomatologia hemorroidal; como expectorante nas bronquites. Externamente, em úlceras varicosas, inflamações e nevralgias cutâneas ou osteoarticulares; o óleo essencial é usado, pela sua acção queratolítica, na eliminação das verrugas.”

 

Desconhece-se a data da chegada aos Açores nem o responsável pela sua introdução. Hoje, na ilha de São Miguel é possível encontrar ciprestes em vários jardins públicos e privados e em cemitérios, de que são exemplos o Jardim do Palácio de Santana e o Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.

 

Na ilha de São Miguel existem várias plantas da família Cupressaceae, que possui mais de 20 géneros e de 140 espécies. Do género Cupressus, no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, pode ser encontrado o cedro-de-goa (Cupressus lusitanica Mill.), oriundo de uma região que vai do México até às Honduras, e o cedro-de-monterrey (Cupressus macrocarpa Hartw. X Gordon), nativo da Califórnia (EUA).

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Tipuana

 


Tipuana

 

A tipuana ou amendoim-acácia (Tipuana tipu (Benth.) Kuntze)) é uma árvore, da família Fabacae, oriunda da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia), sendo comum nos Andes em altitudes que podem atingir 2 900 metros.

 

Desconhecemos quando e quem introduziu a tipuana nos Açores, não constando das listas elaboradas, quer por José do Canto, quer por António Borges, no século XIX. Não excluímos a hipótese de ter sido introduzida muito mais tarde, já no século XX.

 

A tipuana é uma árvore de folha caduca, sendo por vezes semipersistente, com copa larga em forma de guarda-chuva, que pode atingir uma altura de 40 m, sendo em geral um pouco mais baixa. Apresenta folhas compostas, com folíolos ovais, verde-claros. As flores amarelo-alaranjadas, muito apreciadas pelas abelhas, apresentam-se enrugadas. Os frutos são vagens com apenas uma semente avermelhada.

 

A árvore fixa o nitrogénio atmosférico e as suas folhas e flores ao caírem melhoram a textura do solo e o seu teor em nutrientes o que aliado ao seu crescimento rápido fazem com que seja muito útil em projetos de reflorestação. A tipuana pode ser plantada para fornecer abrigo contra o vento, mas como apresenta raízes superficiais, há o risco do seu derrube por ventos fortes.

 

A tipuana reproduz-se muito bem por sementes que depois de secas, podem manter a sua viabilidade por vários anos mantidas à temperatura ambiente. As sementes devem ser colocadas em viveiro e cobertas com uma camada de substrato ou areia, com espessura máxima de 3 mm, levando a germinação de 10 a 30 dias.

 

A resina vermelha exsudada da casca é rica em taninos, podendo ser usada como corante. A sua madeira é resistente e fácil de trabalhar, podendo ser utilizada, em carpintaria, no fabrico de móveis diversos e também como combustível e no fabrico de carvão.

 

De acordo com Saraiva (2020), em Portugal continental, existem vários exemplares notáveis em jardins, como o Jardim Botânico e Jardim Vasco da Gama, bem como em algumas praças, de que são exemplo a Praça de São Bento e a Praça Duque de Saldanha, em Lisboa.

 

Na ilha da Madeira, segundo Raimundo Quintal (2022) a tipuana pode ser encontrada na Avenida de Zarco, na Avenida do Mar, na Rua Pedro José Ornelas, na Estrada Monumental, no Jardim Municipal do Funchal, na Quinta das Cruzes, no Parque de Santa Catarina, na Mata da Nazaré, no Jardim da Universidade, no Passeio Público Marítimo- Funchal, no Jardim de Santa Luzia, no Miradouro da Vila Guida e no Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira.

 

Nos Açores, nomeadamente em São Miguel, não se conhece qualquer uso da tipuana, para além do ornamental.

 

Na ilha de São Miguel é possível encontrar alguns exemplares no Jardim da Universidade dos Açores e no Jardim Botânico José do Canto, ambos em Ponta Delgada, bem como na Avenida da Liberdade, em Vila Franca do Campo e na Radial do Pico de Funcho, na Fajã de Baixo.

 

Teófilo Braga

 

1 de agosto de 2025

sexta-feira, 18 de julho de 2025

A IRIS-Açores, o PAN e o Regime Jurídico de Classificação do Arvoredo de Interesse Público




A IRIS-Açores, o PAN e o Regime Jurídico de Classificação do Arvoredo de Interesse Público

 

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional de Ambiente tomou conhecimento, através de alguns órgãos de comunicação social, de um requerimento do PAN a questionar o Governo Regional dos Açores sobre a aplicação do Decreto Legislativo Regional nº 27/2022/A, que criou o Regime Jurídico de Classificação de Arvoredo de Interesse Público na Região Autónoma dos Açores.

 

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS recorda que foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia Legislativa Regional, o Projeto de Decreto Legislativo Regional n.º 72/XII – “Regime jurídico de classificação do arvoredo de interesse público na Região Autónoma dos Açores”, apresentado pelos Grupos Parlamentares do PS, PSD, CDS-PP, BE, PPM e pela Representação Parlamentar do PAN e que tal como estava legislado no artigo 23º, o Governo Regional dos Açores tinha a obrigação de proceder à sua regulamentação nos 60 dias após a sua publicação.

 

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS saúda a iniciativa do PAN que, entre as questões efetuadas, pretende saber o número de exemplares e conjuntos arbóreos registados, o número de pedidos indeferidos ou excluídos e o número de pedidos a solicitar a classificação.

 

O Núcleo Regional dos Açores lamenta a inação do Governo Regional ao não proceder à Regulamentação do Decreto Legislativo Regional nº 27/2002/A, tornando inviável qualquer proteção de exemplares arbóreos notáveis, de elevado valor ecológico, cultural, social e paisagístico, assegurando a salvaguarda do património arbóreo da região através da sua identificação, preservação, fiscalização e gestão adequada.

 

Finalmente, o Núcleo Regional dos Açores da IRIS comunica que no prazo de um mês após a regulamentação da legislação já mencionada irá apresentar uma lista de árvores a classificar, algumas delas incluídas numa lista da autoria do Doutor Raimundo Quintal, publicada no catálogo “Plantas e Jardins : A paixão pela horticultura ornamental na ilha de São Miguel”, editado em 2019, pelo Green Gardens Azores e pela Direção Regional da Cultura- Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, em 2019, sob a coordenação da Doutora Isabel Soares de Albergaria.

 

Açores, 18 de julho de 2025

 

O Núcleo Regional dos Açores da IRIS-Associação Nacional de Ambiente

 


quinta-feira, 3 de julho de 2025

Rainha-das-ervas

 



Rainha-das-ervas

 

A rainha-das-ervas, eduardas, artemísia-dos-prados, matricária ou artemija (na Madeira) (Tanacetum parthenium (L.) Schultz-Bio., da família Asteraceae, é uma planta herbácea vivaz oriunda do sueste da Europa que, hoje está espalhada por toda a Europa, na Austrália e na América do Norte. Nos Açores, a rainha-das-ervas foi introduzida, encontrando-se naturalizada em todas as ilhas, exceto no Corvo.

 

Desconhece-se a principal razão da sua introdução no nosso arquipélago, podendo ser devido ao seu uso na medicina tradicional ou à sua utilização como planta ornamental.

 

A rainha-das-ervas é uma planta aromática que pode atingir um metro de altura, com caule ramificado, com folhas ovadas a oblongas, dentadas e pubescentes. As flores do disco são amarelas, possuindo lígulas dentadas brancas.

 

Na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, a rainha-das-ervas era cultivada nos quintais, sendo usada essencialmente para ornamentar as casas. Na Ribeira Seca da Ribeira Grande, de acordo com o Eng.º José António Pacheco, a planta é usada anualmente para enfeitar o altar de São Pedro, durante as tradicionais Cavalhadas.

 

Na ilha Terceira, segundo Augusto Gomes (1993), a rainha-das-ervas era usada na “contenção da urina”, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo era utilizada para combater as “dores de cabeça”: Na ilha das Flores, era usada para tirar dores diversas e nos partos.

 

Na freguesia da Fajã da Ovelha, na ilha da Madeira, segundo Freitas e Mateus (2013) são os seguintes os usos da rainha das ervas: “Chá para urinar e problemas de rins, vesícula, próstata e infeções na bexiga. Utilizado em mistura com cabelo de milho.”

 

De acordo com Cunha, Ribeiro e Roque (2017) as principais utilizações da rainha-das ervas são:

“Em fitoterapia, é empregue como aperitivo e em dispepsias hipossecretoras. Reduz a frequência e duração das enxaquecas, acção atribuida às lactonas. É usada em combinação com outas plantas em artites e dores reumáticas.

 

Em cosmética são usados cremes com extracto glicólico da parte aérea em flor para peles inflamadas e peles secas.”

 

De acordo com o livro “Culpeper’s Colour Herbal (1983) embora as virtudes da rainha-das-ervas sejam conhecidas há muitos século, apenas há alguns anos a planta chamou à atenção pelo facto de ser um medicamento eficaz para o tratamento das dores de cabeças e enxaquecas.

 

Uma sugestão de tratamento consiste em colocar uma ou duas folhas de rainha-das-ervas em sanduiches, tendo em atenção que algumas pessoas mais sensíveis possam desenvolver bolhas na boca.

 

No mesmo livro é referido que a rainha-das-ervas “é antipirética e induz à transpiração, diminuindo assim a temperatura em casos de febre.

 

Pico da Pedra, 4 de julho de 2025

 

Teófilo (Soares) Braga

terça-feira, 17 de junho de 2025

Anoneira

 


A ANONEIRA

 

A frequência de uma formação sobre a poda na cultura da anoneira, em que entre os formandos estavam dois pico-pedrenses e em que a formadora também era do Pico da Pedra, levou-me a escrever o presente texto que disponibilizo aos leitores da “Voz Popular”.

 

A anoneira (Annona cherimola Mill.), também conhecida por coração-negro ou coração-de-negro, é uma árvore ou arbusto de porte médio, pertencente à família Annonaceae.

 

A anoneira pode atingir dez metros de altura se crescer livremente. O tronco cilíndrico apresenta uma casca de cor verde acinzentada. As folhas são de forma variada, podendo ser ovais, ovais-lanceoladas, obovadas ou elípticas, de cor verde-escuro na página superior e de um verde mais claro na inferior. As flores, muito aromáticas, são de cor creme. Os frutos apresentam várias formas, sendo as mais comuns a cónica, a esférica e a oval. A polpa é branca e as sementes são de cor castanho-escura ou preta,

 

A anoneira terá chegado aos Açores no século XIX, não se sabendo quem foi o introdutor. No entanto, sabe-se que em 1857, já existiam no Jardim Botânico José do Canto cinco “variedades”.

 

Em 1953, a anoneira fazia parte da lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores.

 

Vinda da América do Sul, onde os seus frutos “em tempos muito antigos” eram “abundante comida das populações locais”, a anoneira atravessou o Oceano Atlântico e chegou à Europa, onde hoje é muito apreciada. Em Portugal, é cultivada sobretudo no arquipélago da Madeira e também nos Açores.

De acordo com Capelinha (2018) “a produção da anona na Madeira permanece desde a sua colonização, devido às suas condições edafoclimáticas, combinadas com as técnicas de cultivo e o conhecimento da população, fazendo com que a anona da Madeira se inclua na designação de denominação de origem protegida (DOP). Esta contribui de forma significativa para o desenvolvimento económico com uma produção anual de 1000 toneladas/ano, a Madeira tem como principais mercados, o Continente, França, Espanha e Inglaterra, tornando-se o fruto mais exportado, após a banana.”

 

Sobre a propagação da planta, o Eng.º Manuel Moniz da Ponte escreveu o seguinte:

“a multiplicação da anoneira faz-se por sementeira e enxertia. Quando se tem como objectivo a manutenção das características varietais das variedades seleccionadas, tem de se recorrer à propagação vegetativa e em particular à enxertia de garfo sobre porta-enxertos francos.

O tipo de enxertia mais utilizado é de “fenda cheia”, decorrendo durante os meses de Março a Maio”. (https://almanaqueacoriano.com/index.php/artigos/24-pomar/1073-a-anoneira).

 

A anoneira é cultivada essencialmente pela excelência dos seus frutos que, de acordo com o Dr. Oliveira Feijão, são adstringentes.

 

Uma referência ao uso das folhas secas, do córtex e dos frutos da anoneira, nos Açores, encontra-se no livro “Algumas plantas medicinais dos Açores” da autoria de Yolanda Corsépius. Segundo ela, a planta possui propriedades estomacais e antidiarreicas.

 

Num texto intitulado “Propriedades Farmacológicas da Annona cherimola Mill.” (https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/84542), da autoria de Bianca Capelinha, datado de 2018, podemos ler que o fruto, a raiz, a casca, as folhas e as sementes da anoneira têm sido usados tradicionalmente em várias regiões do planeta, sobretudo na América Latina.

Assim:

 

- Os frutos podem ser consumido frescos e utilizados na produção de iogurtes, gelados, sumos, vinho e licores;

 

- A decocção da casca é usada como tónico e para tratar a diarreia;

 

- A raiz mastigada é usada para aliviar a dor de dentes e usada em decocção com funções anti-helmínticas e antipiréticas;

 

- Nos Açores, as folhas são tradicionalmente utilizadas para tratar hipercolesterolemia.

 

Pico da Pedra, 12 de maio de 2025

 

Teófilo Braga

 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Viburno-doce

 



Viburno-doce

 

O viburno-doce ou viburno-cheiroso (Viburnum odoratissimum Ker Gawl.) é uma pequena árvore ou arbusto grande, perenifólio, pertencent à família Adoxaceae, oriundo da Ásia oriental e tropical (Japão, China, Vietname, Tailândia, Malásia e Índia).

 

O nome Viburnum tem origem no latim clássico, e era utilizada pelos antigos romanos para designar várias espécies de arbustos (IA). O nome científico odoratissimum também deriva do latim e significa "muito perfumado". Esta designação pode referir-se ao forte aroma libertado pela folhagem quando é cortada ou esmagada, além do perfume intenso das suas flores.

 

O viburno-doce pode atingir uma altura de 9 m. As suas folhas, que são brilhantes e elípticas, podem ter até 20 cm de comprimento. As flores, que surgem nos meses de março, abril e maio, são brancas, perfumadas, dispostas em cachos em forma piramidal. Os frutos são bagas vermelhas que escurecem até ficarem pretas quando amadurecem.~

 

O vibruno-doce é usado como planta ornamental é parques e jardins, mas também é utilizado em sebes e barreiras naturais, devido à sua folhagem densa e ao seu crescimento rápido. Os apicultores também podem a ele recorrer, pois as suas flores são muito apreciadas pelas abelhas.

 

O viburno-doce que, prefere sólos húmidos, mas bem drenados e locais bem expostos ao sol ou meia-sombra, aceita bem a poda, podendo ser moldado de acordo com as preferências do seu cultivador.

 

Tal como acontece com muitas plantas, não se conhece com exatidão quem introduziu e quando o viburno-doce nos Açores. Contudo, sabe-se que José do Canto, em 1856, já possuia esta espécie, bem como várias outras do mesmo género, no seu jardim em Ponta Delgada.

 

Na ilha de São Miguel é possível encontrar o viburno-doce no Jardim António Borges, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim da Uivrsidade dos Açores, no Jardim de Santa Cruz (Lagoa) e no Jardim Padre Fernando Gomes (Santa Clara).