terça-feira, 19 de novembro de 2024

Amoreiras

 


Amoreiras

 

A amoreira ou amoreira-branca (Morus alba L.) é uma planta pertencente à família Moraceae oriunda da Ásia ocidental, mas que foi introduzida em várias regiões. Além da espécie referida, há muitas outras, como a amoreira-preta (Morus nigra L.).

 

As amoreiras terão sido introduzidas na Europa por volta do século VI e em Portugal no século XV. Nos Açores, as amoreiras terão sido introduzidas nos primeiros anos do povoamento, como prova Gaspar Frutuoso (1522-1591) que no seu livro “Saudades da Terra” regista a sua presença em São Miguel em São Roque e na Povoação. O mesmo autor ao descrever a “costa da ilha de Santa Maria, pela banda do norte, das Lagoinhas até ao Castelete, donde se começou e acaba”, escreveu o seguinte: “Nas quais há terras de pão, que poderão ser sete até oito moios, com muitas árvores de fruta e figueiras e amoreiras.”

 

As várias tentativas para incrementar a indústria da seda em São Miguel, nos séculos XIX e XX, não tiveram êxito.

 

A maior terá ocorrido no século XIX através da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que incentivou o cultivo de amoreiras. A título de exemplo, no nº1, relativo a 1848, da sua publicação mensal “O Agricultor Michaelense” foi publicada a informação de que aquela sociedade possuía seis mil pés de amoreiras de 3 anos para distribuir.

 

No século XX, o micaelense Jaime Hintze, realizou várias experiências com amoreiras nas suas propriedades, tendo só na Gorreana plantado duzentas da variedade Moretti.

 

Sobre o assunto é muito interessante a comunicação que fez, em 1938, no Primeiro Congresso Açoreano, realizado em Lisboa. Da mesma, abaixo transcreve-se um extrato:

 

«Eu mesmo fiz experiência na Gorreana, neste caso simplesmente para ver de quanto era capaz, quanto à cultura da amoreira, o terreno de São Miguel, e obtive três colheitas. A amoreira vegeta de tal forma que poderá facilmente dar quantidades de folhas desde o mês de Abril a Setembro e o bastante para que se possam criar três culturas de sirgo, o que é muito importante. A planta em três anos está já em plena produção.

 

A sericicultura, é uma indústria caseira, o que tem demonstrado várias tentativas infrutíferas quando se desejou industrializar a educação do bicho-da-seda. Até isso convém, pois espalha-se a cultura por toda a parte, indo a remuneração a todos os recantos da ilha.

 

Seria ela uma forma de contrabalançar a falta de emigração que se vem notando na Ilha de São Miguel, em face do crescimento constante da sua população. Não esqueçamos que só São Miguel tem aproximadamente e a multiplicar-se sempre, cerca de metade da população das nove ilhas.”

 

A amoreira-branca é uma árvore de folha caduca que pode alcançar uma altura de 15 metros e atingir uma longevidade próxima dos 150 anos. As suas folhas são alternas, ovadas a cordiformes, podendo ou não ser lobadas, verde-escuras e brilhantes ficando amarelas no outono. As suas flores, tanto as masculinas como as femininas, são muito pequenas e esverdeadas, não tenho qualquer interesse ornamental. Os seus frutos são de cor creme (na amoreira-negra são negros ou muito escuros)

 

A multiplicação da amoreira pode ser feita por sementeira direta, por estacas, usando as semilenhosas e por alporquia.

 

Para além do interesse ornamental da amoreira, a planta é cultivada pelos seus frutos que são comestíveis e procurados pelas aves. As fibras da casca eram usadas para o fabrico de cordas, mas a principal razão para o seu cultivo deverá ser devido ao uso das suas folhas para a alimentação do bicho-da-seda.

 

No passado a amoreira foi utilizada na tinturaria vegetal. Com efeito, era a partir dos olhos da amoreira-preta que se obtinha o preto.

 

Tal como outras plantas a amoreira figura na toponímia micaelense. São exemplos a Amoreira, na Bretanha, e as Amoreiras, na Ribeira das Tainhas.

sábado, 16 de novembro de 2024

Álamo

 


Álamo

 

O álamo ou choupo-branco (Populus alba L.) é uma planta da família Salicaceae originária do centro e sul da Europa, havendo alguns autores que levantam a hipótese de o ser também do norte de África e da Ásia Central.

 

O álamo é uma árvore caducifólia de crescimento rápido, que em média atinge uma altura de 12 a 15 metros.

 

O tronco apresenta uma casca lisa e esbranquiçada. As folhas são alternas e ovais, verdes na face superior e de cor branco-cinza na inferior, e as flores formam amentilhos, os masculinos acinzentados, com estames avermelhados e os femininos esverdeados. Os frutos são cápsulas ovoides.

 

Tudo indica que as duas espécies de álamo; a alba e a nigra, foram introduzidas, na ilha de São Miguel, no século XIX. Mas poderão ter sido antes, como terá ocorrida na ilha Terceira onde já estavam presentes no final do século XVIII.

 

Os dois irmãos Joseph e Henry Bullar, que nos anos 1838 e 1839 estavam nos Açores, ao descreverem no seu livro “Um inverno nos Açores e um verão no vale das Furnas”, Vila Franca do Campo, mencionaram a existência de uma pequena mata onde, entre outras árvores, encontraram álamos.

 

José do Canto, em 1856, já possuía várias espécies de álamos no seu jardim de Ponta Delgada e plantou-os em várias das suas vastas propriedades existentes no Porto Formoso, na Ribeirinha ou na Lagoa do Congro.

 

Nos Açores, os álamos, sobretudo a espécie nigra, foram usados para a divisão de propriedades e como sebes e os seus ramos mais finos eram utilizados para amarrações e para fazer cestos, constituindo também umas excelentes plantas ornamentais. O engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, no nº 17do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, relativo ao primeiro semestre de 1953, sobre o assunto menciona o seguinte:

 

“A ele [Populus nigra] se associa por vezes a hortênsia, a qual preenche a parte inferior mais despida […]. Não toma grande desenvolvimento, pelo que não é usado na defesa de pomares, mas apenas nas terras empregadas m culturas arvenses. Havendo o cuidado de cortar as raízes laterais, esta espécie pouco concorre com as plantas cultivadas sob a sua protecção.”

 

Em 1932, num relatório elaborado sobre o caso florestal do distrito da Horta, no que toca à ilha do Pico pode ler-se que o álamo (Populus alba) era “empregado na ornamentação de parques e na arborização das estradas” (Costa, 1989):

 

Ambas as espécies são usadas, também, na medicina popular, apresentando as mesmas indicações terapêuticas.

 

Augusto Gomes (1992) refere que, na ilha Terceira, “os seus rebentos, em infusão de aguardente ou álcool, servem para desinfectar feridas.”

 

Corsépius (1997), para o choupo-negro, menciona as seguintes propriedades e indicações: “antissética e expectorante- bronquite; febrífuga e sudorífica – febre; digestiva; analgésica-reumatismo; vulnerária-caspa.”

 

Saraiva (2020) refere a presença de exemplares notáveis na Estrada de Circunvalação, no Porto, e na mesma cidade na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação.

 

Na Madeira, Raimundo Quintal (2022), regista a presença de álamos na Quinta Jardins do Lago, no Jardim da Universidade e no Solar dos Esmeraldos, na Lombada da Ponta do Sol.

 

Em São Miguel há álamos em várias localidades, de que destacamos o Pinhal da Paz, o Jardim de Infância, na Rua Prof. Luciano Mota Vieira, em Ponta Delgada, e a Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Nogão

 



Nogão

 

O nogão ou nogueira-preta (Juglans nigra L.) é uma árvore da família Juglandaceae oriunda do este da América do Norte.

 

De acordo com Saraiva (2020), o termo Juglans deriva de jovis glans – noz de Júpiter e o nigra, negra deve-se à cor da casca e dos frutos. O nigra, segundo um texto publicado no jornal “Agricultor Michaelense”, nº 23, de novembro de 1849, “vem-lhe de que o cerne de cor violeta, se torna preto, exposto ao ar.”

 

O nogão é uma árvore de folha caduca, de tronco cinzento perfurado que pode atingir uma altura de 15 metros e possui uma longevidade próxima dos 75 anos. As suas folhas são grandes e compostas, podendo atingir 60 cm de comprimento, sendo os folíolos de margens serradas e de cor verde baça. Cada árvore possui flores dos dois sexos, sendo as masculinas de cor verde, sendo o período de floração nos meses de abril, maio e junho. Os frutos são globosos, com um diâmetro de 4 a 5 cm.

 

O nogão foi introduzido em Inglaterra em 1629 e daí terá passado para outros países, como Portugal.

 

À nossa ilha, tudo leva a crer que terá sido introduzido em 1849, como se pode depreender do texto já mencionado publicado no órgão da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense:

 

“Apenas tem decorrido alguns mezes depois que possuímos em S. Miguel uma destas plantas; a sua vegetação ressentiu-se da viagem: na futura primavera informaremos os nossos leitores do seu andamento: mas bom seria que outros experimentassem a sua cultura, porque ensaios desacompanhados não dão resultado em que ninguém se fie.”

 

Sobre os usos do nogão, ainda no texto que vimos citando pode-se ler o seguinte:

 

“A madeira é rigissima, não racha, pule-se bem, e não é atacada de bicho algum. Fazem-se d’ ella forro para cazas, excelentes cubos para rodas; nos tapumes das terras fincam ás vezes estacas desta madeira, que duram mais de 25 annos sem apodrecer:  e em toda a architectura civil e naval d’ella fazem grande uso. É co, a casca verde das nozes que esta nogueira produz, que se tingem estofos de lan.”

 

Para além do mencionado, regista-se que as nozes são comestíveis e também são usadas para a extração de um óleo.

 

Embora pouco usado entre nós, o nogão pode ser utilizado como planta ornamental.

 

Em Portugal continental há alguns exemplares notáveis, nomeadamente na cidade do Porto, nos arruamentos da cidade universitária, e em Ponte de Lima, no Parque da Lapa (Saraiva, 2020).

 

Na ilha da Madeira, pode-se encontrar o nogão em vários jardins, como a Quinta do Palheiro Ferreiro, a Quinta Monte Palace, a Quinta do Santo da Serra e o Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, este propriedade e gerido pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (Quintal, 2022).

 

Na ilha de São Miguel, pode-se observar alguns exemplares, nas Furnas, no Parque Terra Nostra, e na Mata-Jardim José do Canto e na freguesia da Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, no Pinhal da Paz.

 

7 de novembro de 2024

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Jacarandá

 


Jacarandá

 

O jacarandá (Jacaranda mimosifolia), pertencente à família Bignoniaceae, é uma árvore de folha caduca e de crescimento médio a rápido, oriunda da América do Sul (Argentina, Bolívia e Brasil).

 

De acordo com Saraiva (2020), “Jacaranda, deriva do nome nativo brasileiro (que em guarani significa madeira dura”. Mimosifolia, do latim, significa -com folhas semelhantes às de uma mimosa.”

 

O jacarandá, ainda de acordo com o autor citado acima, foi introduzido em Portugal, entre 1811 e 1828, pelo botânico português Félix de Avelar Brotero, quando o mesmo era diretor do Jardim Botânico da Ajuda.

 

Tal como a maioria das plantas ornamentais, é possível que o jacarandá tenha chegado aos Açores no século XIX, pela mão de algum dos membros da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, sendo o maior entusiasta e o que mais espécies introduziu José do Canto.

 

Num catálogo das plantas existentes no seu jardim de Ponta Delgada, em 1856, José do Canto enumera três espécies do género Jacaranda, entre as quais a mimosifolia. Numa publicação posterior, José do Canto refere que entre maio de 1865 e setembro de 1867, foram plantadas algumas espécies do referido género.

 

No que diz respeito ao “grande rival” de José do Canto, António Borges, sabe-se que no jardim de Ponta Delgada existiam, em 1865, várias espécies de jacarandá, entre as quais, a mimosifolia.

 

Na atualidade, na ilha da São Miguel é possível encontrar jacarandás em vários espaços ajardinados e em quintais de algumas residências. De entre os locais onde é possível observar jacarandás, destacamos os seguintes: Jardim Padre Sena Freitas, Recreio da Escola Secundária das Laranjeiras, Rua de São Paulo e Rua Maria José Borges, no Jardim António Borges, em Ponta Delgada.

 

Digna de uma visita é a cidade do Funchal, onde os jacarandás dão o ar da sua graça às avenidas Arriaga e do Infante, entre outros locais, como por exemplo o Jardim Municipal do Funchal, a Rua João de Deus, o Parque de Santa Catarina, a Quinta Jardins do Lago e o Jardim de Santa Luzia.

 

O jacarandá, que em média atinge 12 m de altura, apresenta uma longevidade que vai dos 60 a100 anos.

 

O jacarandá apresenta um tronco pequeno, com casca escura. As folhas são compostas, bipinuladas, com cerca de 16 pares de pinas, cada uma com 25 a 30 pares de folíolos pequenos. As flores do jacarandá, que surgem nos meses de maio, junho e julho, reúnem-se em panículas piramidais e apresentam uma coloração lilás azulada. O fruto que permanece muito tempo na planta é uma cápsula lenhosa de forma elipsoide.

 

A madeira do jacarandá, de cor creme, é compacta e duradoira e emite um aroma agradável, sendo muito apreciada e usada em carpintaria e marcenaria e na construção de instrumentos musicais. Os seus frutos são usados com fins decorativos.

 

É muito fácil, a propagação do jacarandá por sementes, que devem ser postas na terra logo após a frutificação, mas também é possível, embora não seja fácil, por estacas de madeira macia.

 

30 de outubro de 2024

 

T. Braga

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Cedro-do-buçaco

 


Cedro-do-buçaco

 

O cedro-do-buçaco (também conhecido como cedro-do-bussaco), ou cedro-de-goa ou cipreste-do-buçaco (Hesperocyparis lusitanica (Mill.) Bartel) é uma espécie, pertencente à família Cupressaceae, que é originária duma região que vai do México às Honduras. Hoje, pode ser encontrado, noutros continentes para além do americano, como em África, Europa, Ásia e Oceânia.

 

Em Portugal continental, o cedro-do-buçaco pode ser observado em vários locais,  nomeadamente na Mata Nacional do Buçaco, em Coimbra, e, em Lisboa, no Jardim França Borges e na Quinta das Conchas.

 

O cedro-do-buçaco, que pode atingir 30 m de altura, é uma planta resinosa.de copa piramidal, sobretudo nas árvores jovens, o seu tronco é cilíndrico e a sua casca é castanho-avermelhada.

 

De folhagem persistente, segundo Saraiva (2020) apresenta dois tipos de folhas; “as folhas dos indivíduos jovens são aciculares; as dos indivíduos maduros escamiformes, imbricadas dispostas sobre os ramos, de modo tal que o par de folhas superior está disposto em posição cruzada em relação ao inferior, com 2 a 5 mm de comprimento, de um verde um pouco acinzentado até verde glauco”.

 

Tanto o nome comum como o científico desta espécie estão envoltos em alguma confusão porque a mesma não é um cedro, mas sim um cipreste, e não é nativa de Portugal, como terá pensado o botânico francês Joseph Pitton, de Tournefort, que, em 1698, a considerou como sendo autóctone da Serra do Buçaco daí a designação lusitânica.

 

O cedro-do-buçaco chegou à ilha de São Miguel em 1799, como prova um ofício do ministro e secretário de estado D. Rodrigo de Sousa Coutinho dirigido a Nicolau Maria Raposo, datado de 6 de dezembro daquele ano, de que abaixo se publica um extrato:

 

«Estimo muito que seu filho tenha feito huma boa sementeira das Arvores de que lhe remetti as sementes, e n’esta occasião receberá V. M.* para o mesmo fim huma nova porção de Semente do Cedro de Bussaco. Recommendo-lhe muito este objecto e espero que com o seu conhecido zelo por tudo o que é de utilidade publica, se propagarão n’essa Ilha estas plantações, de que para o futuro se podem., tirar grandes utilidades.»

 

O grande introdutor de espécies vegetais nos Açores, sobretudo ornamentais, José do Canto, também apreciou a espécie tendo-a introduzido no século XIX no seu Jardim em Ponta Delgada.

 

Hoje, para além da sua presença no Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, é possível encontrar o cedro-do-buçaco noutros jardins e espaços ajardinados como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou o Parque Pedagógico Maria das Mercês, no Pico da Pedra.

 

O cedro-do-buçaco, para além do uso como planta ornamental, pode ser utilizado para formar barreiras para proteção dos efeitos nefastos do vento. Também pode ser usado em marcenaria, para a obtenção de lenha de boa qualidade e para a produção de celulose.

 

26 de outubro de 2024

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Sobreiro

 


Sobreiro

 

O sobreiro, sovereiro, chaparro ou sobro (Quercus suber L.) é uma árvore da família Fagaceae originária do sul da Europa e do norte de África.

 

O nome do género Quercus deriva do termo celta quercuez que significa bonita árvore e

o da espécie, suber, vem do latim suber que era o nome que naquela língua se dava à cortiça.

 

Nativo de Portugal continental, existe tanto a Norte como a Sul, nomeadamente no Alentejo, onde aparece como árvore isolada.

 

Em Portugal, há muitos sobreiros classificados como árvores monumentais, sendo o mais conhecido o sobreiro Assobiador que se encontra na aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, que é considerado o mais velho (estima-se que tem uma idade aproximada de 234 anos) e maior sobreiro do mundo (cerca de 30 m de diâmetro de copa e cerca de 17 m de altura) pelo Livro de Recordes do Guinness e foi eleito como Árvore Europeia de 2018.

 

Desconhece-se a data da chegada do primeiro sobreiro aos Açores. Sobre a sua presença no nosso arquipélago sabe-se que já existia na primavera de 1856 no Jardim José do Canto, em Ponta Delgada. 

 

Sobre a sua abundância, o regente agrícola Silvano Pereira, num texto intitulado “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores”, publicado em 1953, no Boletim da Comissão Reguladora do Arquipélago dos Açores, escreveu que era uma “árvore cultivada (rara).”

 

Na ilha de São Miguel, onde não existem muitos exemplares, a planta é usada com fins ornamentais, podendo ser observada no Jardim António Borges e no Jardim Botânico José do Canto, em Ponta Delgada, no Parque Terra Nostra, nas Furnas, no Quintal Etnográfico, na Ribeira Chã, e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

 

O sobreiro foi uma árvore protegida, desde muito cedo, datando de 1546 a proibição do seu corte e uso para o fabrico de carvão e das suas cinzas nas saboarias do Ribatejo. Dado os seus valores económicos e ecológicos, o sobreiro, por Resolução da Assembleia da República, datada de 22 de dezembro de 2011, foi declarado Árvore Nacional de Portugal.

 

O sobreiro é uma árvore de folha persistente, de copa mais larga do que alta, de crescimento lento e grande longevidade, distinguindo-se pela sua casca grossa gretada e rugosa, a cortiça, de que Portugal é o maior produtor mundial.

 

De grande valor ecológico, é resiliente ao fogo e abrigo e fonte de alimento para várias espécies animais, o sobreiro é também de grande importância económica não só pela cortiça que fornece, mas também pela sua madeira, que é usada em marcenaria, e pelas bolotas que eram usadas na alimentação de porcos e também consumidas. pelos humanos.

 

Na altura dos Descobrimentos, a madeira de sobreiro foi usada na construção naval, sobretudo nos cascos das naus e caravelas.

 

As folhas dos sobreiros são um pouco coriáceas, de forma ovado-lanceoladas e apresentam as margens ligeiramente dentadas. A sua página superior é glabra e a inferior apresenta pelos curtos acinzentados. As flores dos sobreiros são poucos notórias e surgem nos meses de abril, maio e junho. Os frutos, as bolotas, são glandes, ricas em amido, açucares e gorduras e têm a época de maturação de setembro a janeiro.

 

O sobreiro propaga-se muito bem por sementes. Segundo Saraiva (2020) “as bolotas perdem rapidamente a viabilidade (capacidade de germinação), pelo que devem ser semeadas tão cedo quanto possível, ou então devem ser estratificadas a temperaturas de 0 a 2ºC e plantadas na primavera seguinte.”

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Piteira

 


Piteira

 

A piteira, pita, agave ou babosa (Agave americana L.) é uma planta suculenta originária do México e de algumas regiões dos Estados Unidos da América que se encontra naturalizada nos Açores, podendo ser encontrada em Santa Maria, São Miguel, Flores, Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.

 

Pertencente à família Asparagaceae, a piteira prefere zonas costeiras, podendo ser vista geralmente até aos 200 m de altitude. Na ilha de Santa Maria apresenta um comportamento invasor.

 

A piteira, que pode atingir 8 m de altura, apresenta folhas carnudas, em roseta, lanceoladas e espinhosas que, em média, podem atingir 2,5 m de comprimento, 30 cm de largura e 3 cm de espessura. As flores são amarelo-esverdeadas, surgindo nos meses de junho a agosto e os frutos são cápsulas com 6 cm de comprimento.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem o uso da piteira como ornamental e medicinal. Segundo eles, a planta apresenta “propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas, anticancerígenas, cardioprotetoras, antidiabéticas, analgésico e antialérgico”.

 

Sobre a utilização da piteira, o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, no texto “Sebes vivas ou abrigos, nos Açores – subsídios para o seu estudo”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao 1º semestre de 1953, escreveu o seguinte: “usada, por vezes, no litoral algarvio como sebe viva e em cômoros, também aparece nos Açores, mas mais a constituir vedações ou tapumes. Estaria indicada para sebe viva junto ao litoral, em terras de cultura, pois para pomar tem pouca altura.”

 

Nos Açores, a piteira foi usada na alimentação do gado e é utilizada como ornamental, sendo conhecida a sua presença em vários jardins, como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou a Mata do Dr. Fraga, na Maia.

 

De acordo com um texto publicado no jornal “O Agricultor Michaelense”, nº 2, relativo ao mês de fevereiro de 1848, pode-se ler que as suas folhas verdes e mais tenras na ilha de Santa Maria eram um suplemento dos pastos, sendo quase o único nos quatro meses de inverno. Depois de tirados os espinhos, as folhas são dadas aos animais que as apreciam muito, regalando-se “tanto, que lhes está continuamente a escorrer a baba pela boca, e não só se regalam senão que engordam desusadamente e fazem-se nédias e luzidias.”

 

Não se sabendo qual a data e quem introduziu a piteira nos Açores, no número referido do jornal da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense, António Feliciano de Castilho apresentou uma proposta para que a planta fosse disseminada na ilha de São Miguel e não só, dada a sua utilização no fabrico de papel de elevada qualidade, tornando possível a criação de uma importante indústria que seria importante “quer pelo seu pecuniário, quer, e sobretudo, pelo influxo que a barateza do papel deverá exercer ao desenvolvimento da instrução.”

 

Castilho, no seu texto, enumera as qualidades do papel de piteira do seguinte modo:

 

“…sobreleva em consistencia, e iguala em alvura, ao do algodão, ao da folha de milho, ao da palha de arroz, e até ao do linho; serve maravilhosamente para a escrita, para a impressão, para a estamparia, para os fórros pintados das paredes, para tudo; e sáe por baixo preço, attendendo a que o vegetal da sua materia prima, contem em pequeno volume grande massa de fibra, e se cria sem trato até nos peores terrenos”.

 

Para além do já mencionado, no texto já referido de “O Agricultor Michaelense” há referência a outras utilizações da piteira, nomeadamente no fabrico de uma bebida, a pulca, e ao uso das suas fibras. Assim, “as fibras das folhas dão um fio d’ extrema rijeza, bem conhecido pelo nome de pita, utilizado não só nas obras de cordoaria, mas ainda em tecidos exquesitos, e outros lavores mui mimosos, de que podem servir de exemplos os primorosos artefactos obrados no Algarve, Madeira.”

 

18 de outubro de 2024

Teófilo Braga